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Na corrida pelo pioneirismo, a Samsung derrapou feio

O Samsung Galaxy Fold pode ser um passo incrível na engenharia de celulares, mas é um produto inacabado. Isso ficou claro quando a Samsung anunciou que adiaria o lançamento do aparelho. O que foi disponibilizado para analistas, jornalistas, influenciadores e parceiros selecionados era um dispositivo beta – e essas pessoas estavam testando o modelo para […]

Samsung Galaxy Fold aberto com a tela ligada

Gizmodo/Sam Rutherford

O Samsung Galaxy Fold pode ser um passo incrível na engenharia de celulares, mas é um produto inacabado. Isso ficou claro quando a Samsung anunciou que adiaria o lançamento do aparelho. O que foi disponibilizado para analistas, jornalistas, influenciadores e parceiros selecionados era um dispositivo beta – e essas pessoas estavam testando o modelo para a empresa. O Galaxy Fold nem deveria ter visto a luz do dia – pelo menos não nesse momento.

Eram muitos dispositivos, é claro, e uma boa amostragem de público. Você tinha pessoas com pouco entendimento sobre o design de celulares testando o produto junto com pessoas que têm analisado esses eletrônicos por uma década. E aí algumas dessas pessoas removeram uma película que não deveria ser removida, enquanto outros notaram que a Samsung deixou um vão entre a tela e a dobradiça que deixava espaço para sujeira.

O produto não estava pronto para ser avaliado como um dispositivo totalmente funcional, mas até a manhã da última segunda-feira (22), se colocou a frente, pronta para lançar um smartphone não finalizado como se fosse um jogo defeituoso que pudesse ser atualizado posteriormente. Essa prática já é detestável no mercado de softwares, e nunca deveria ter sido cogitado no mercado de hardware. A Samsung se colocou à frente porque queria ser vista como a primeira – a primeira grande fabricante de celulares a lançar um belo smartphone dobrável.

Ser a primeira é importante. Mesmo que não seja tecnicamente a primeira, fazer com que o mundo se lembre como se fosse pode ser algo grandioso. A Apple é reconhecida como a primeira a fazer um smartphone, e esse selo ajudou a impulsionar a companhia a ser uma das mais lucrativas da história. Para uma empresa como a Samsung, que sofreu duros baques de relações públicas graças aos problemas com o Note 7 e a prisão de executivos na Coreia, ser a primeira poderia representar uma vitória imensa.

Mas ser a primeira também é uma aposta cara. Se você é o primeiro no mercado, mas o produto é uma droga, isso pode arruinar a perspectiva da companhia na área, além da própria categoria do produto em si. O Google se apressou a lançar um Google Glass desajeitado para o mercado e provavelmente arruinou as expectativas do público para os óculos inteligentes por uma década. A Nintendo lançou rapidamente o Virtual Boy em 1995 porque queria acelerar no desenvolvimento de seu próximo grande console e, além de ter sido um fracasso comercial, envenenou a realidade virtual da imaginação dos games por praticamente 20 anos.

A Samsung dizer que lançaria um smartphone dobrável atrativo e de alta qualidade antes de todo mundo também foi uma aposta cara para a companhia. Eu não consigo fazer outra coisa senão pensar que isso foi impulsionado pela rivalidade com a Huawei, que tem pisado no calcanhar da Samsung, tanto nessa área de dispositivos dobráveis quanto no mercado geral de smartphones. A Huawei é gigantesca na China – e forte o suficiente para se tornar a segunda maior vendedora de celulares no mundo, ficando atrás somente da companhia sul-coreana.

A Samsung precisava de uma vitória contra a Huawei, que anunciou seu próprio celular dobrável pouco depois da Samsung mas não espera lança-lo até o final desse ano. Ao mesmo tempo, o desastre do Galaxy Note 7 aconteceu há menos de três anos e, portanto, não seria possível arcar com outro fracasso desse tipo.

Foto: Gizmodo/Sam Rutherford

Acho que tanto os admiradores quanto os detratores da Samsung podem concordam que a decisão de adiar o lançamento e reavaliar o aparelho foi uma decisão acertada. Mas, honestamente, eu ainda estou preocupada com o fato de a Samsung ter considerado vender um produto em fase beta. Embora a unidade de análise do Gizmodo tenha segurado bem os dias de uso, meu colega Sam Rutherford apontou que o aparelho tinha alguns defeitos, e acho que testes bem feitos deveriam ter sido feitos pela Samsung antes do dispositivo chegar em nossas mãos. Mas a Samsung ou não reconheceu os problemas ou decidiu ignorá-los. O que passa a sensação de que não aprenderam muito com o Note 7.

O Galaxy Fold é um aparelho esperto que mostra um design bem pensado e uma engenharia criativa. Por enquanto, não está claro se a Samsung irá mesmo vender o dispositivo com defeitos, mas algum dano já foi feito aqui. Seria sábio para a companhia dar uma segurada, e talvez valha a pena escolher ser atingida pela má reputação de um lançamento cancelado do que de um produto defeituoso. Você precisa saber a hora de esperar, e parece que a Samsung aprendeu essa lição nesta semana que passou.

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