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San Francisco proíbe vendas de cigarros eletrônicos, pois riscos à saúde ainda são desconhecidos

San Francisco é um dos primeiros municípios dos EUA a proibir cigarros eletrônicos e alega que eles têm se popularizado rapidamente entre jovens.

Getty Images

A cidade de San Francisco proibiu a venda de cigarros eletrônicos, tornando-se um dos primeiros municípios dos EUA, juntamente com Beverly Hills, a impor restrições tão rígidas à tecnologia de fornecimento de nicotina. A proibição de San Francisco está prevista para entrar em vigor no início de 2020, mas os cigarros tradicionais de nicotina e vaporizadores para cannabis permanecerão legais na cidade.

O Conselho de Supervisores de San Francisco votou por unanimidade a favor da proibição na terça-feira (25), que permanecerá em vigor indefinidamente até que a Food and Drug Administration (FDA) estude a segurança dos produtos vaporizadores, algo que ainda não conseguiu fazer. A lei anti-vaping de Beverly Hills, que só entrará em vigor em 2021, proibirá a venda de todos os produtos de tabaco, embora as tabacarias e hotéis estejam isentas.

A nova proibição de cigarros eletrônicos de San Francisco também inclui qualquer produto de tabaco com sabor, seja ele vaporizado ou fumado. A prefeita de San Francisco, London Breed, disse anteriormente que assinará a nova legislação quando chegar à sua mesa.

San Francisco abriga a sede da Juul Labs, a marca mais popular de vaporizadores eletrônicos atualmente, o que faz da cidade um lugar estranho para a proibição do produto. Mas autoridades municipais dizem que se trata de combater um flagelo da saúde pública que atinge jovens — pessoas que nem sequer reconhecem que o Juuling é um produto de cigarro eletrônico, de acordo com uma pesquisa recente.

A Altria, empresa-mãe anteriormente conhecida como Philip Morris, fez um investimento de US$ 12,8 bilhões na Juul no ano passado, dando à gigante tradicional de tabaco uma participação de 35% na relativamente nova empresa de vaping. E alguns especialistas em saúde pública alertaram que os cigarros eletrônicos são apenas uma cortina de fumaça para deixar os jovens viciados em nicotina desde cedo. Outros defendem os cigarros eletrônicos como um dispositivo de redução de danos e estão menos preocupados com o envolvimento das empresas tradicionais de tabaco nos cigarros eletrônicos.

San Francisco anunciou pela primeira vez sua intenção de banir os cigarros eletrônicos em março, explicando que as análises pré-mercado nunca foram feitas. Essas análises avaliariam os potenciais efeitos negativos para a saúde causados por esses produtos, algo que é debatido ardorosamente na comunidade mais ampla de assistência médica.

“A portaria não é uma proibição permanente. É uma moratória até que a devida diligência seja realizada pela FDA sobre as grandes empresas de tabaco, como a Juul, promovendo seus produtos para jovens”, disse o supervisor da cidade Shamann Walton, que apoiou a legislação, em uma audiência na semana passada.

“Empresas como a Juul tiveram três anos para apresentar seus produtos e estratégias de marketing à FDA. A questão é por que elas ainda não o fizeram. E a resposta é porque elas querem proteger seus lucros para continuar atacando e prejudicando nossos jovens e elas sabem que a nicotina não é saudável”, continuou Walton.

As pesquisas mais recentes de saúde revelaram que 21% dos estudantes do último ano do ensino médio utilizavam vaporizadores eletrônicos em 2018, o que representa aproximadamente o dobro da taxa de 2017. O tabagismo tradicional, o uso de bebidas alcoólicas e opioides está diminuindo entre os estudantes do ensino médio, mas os vaporizadores estão se popularizando rapidamente, e até o ex-comissário da FDA do governo Trump considera isso uma emergência real.

A Juul não respondeu imediatamente ao pedido de comentários do Gizmodo na manhã desta quarta-feira (26), mas já havia levantado preocupações de que os cigarros eletrônicos estavam na mira de proibições, enquanto os cigarros tradicionais ainda são perfeitamente legais.

“Compartilhamos as preocupações da cidade de San Francisco com o uso de produtos de tabaco e vapor pelos jovens, inclusive o nosso. É por isso que tomamos medidas agressivas em todo o país, incluindo a interrupção da venda de produtos com sabor para os varejistas e o apoio a regulamentações fortes e restritivas para manter os cigarros eletrônicos longe das mãos dos jovens”, disse a Juul ao Gizmodo em março. “Mas o impacto primário desta legislação proposta será limitar o acesso dos fumantes adultos a produtos que possam ajudá-los a se livrar dos cigarros tradicionais.”

“Encorajamos a cidade de São Francisco a restringir severamente o acesso dos jovens, mas de forma a preservar a oportunidade de eliminar os cigarros tradicionais”, continuou a Juul. “Esta proposta legislativa levanta a questão: por que a cidade estaria confortável com os cigarros tradicionais nas prateleiras quando sabemos que eles matam mais de 480 mil americanos por ano?”

Relatos recentes sugerem que a Juul está pensando em abrir suas próprias lojas de vaporizadores, embora nenhuma decisão final tenha sido tomada. A lógica, presumivelmente, seria limitar a exposição aos jovens da mesma forma que as tabacarias ou as lojas de bebidas alcoólicas. Mas com a especialidade da Juul em marketing, você pode apostar que ficaria muito mais parecida com uma loja da Apple do que com uma loja de bebidas comum.

O Vale do Silício recebeu muitas críticas nos últimos anos pelas propriedades viciantes de seus produtos como Facebook, Instagram e smartphones. E os fundadores da indústria de tecnologia são conhecidos por proibir seus próprios filhos de usarem suas tecnologias em idade precoce. San Francisco até instituiu uma proibição de câmeras de reconhecimento facial na cidade, protegendo as pessoas que construíram nossas tecnologias mais distópicas de sentir o impacto de seu uso.

Então talvez faça sentido que San Francisco seja uma das primeiras cidades a banir a venda de um produto que torna algumas pessoas naquela cidade incrivelmente ricas. Os executivos do tabaco sentiram o mesmo no século XX. Como um executivo da RJ Reynolds disse na década de 1990, “nós não fumamos essa merda. Nós apenas vendemos isso. Nós reservamos o direito de fumar para os jovens, os pobres, os negros e os estúpidos”.

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