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Sequenciamento genético mostra quando e onde os cavalos foram domesticados

Os pesquisadores sequenciaram o genoma de quase 300 fósseis durante anos

Imagem: JamesDeMers (Pixabay)

Um estudo publicado na revista científica Nature, parece por fim no mistério que dura séculos: onde e quando os cavalos começaram a ser domesticados?

O adestramento de cavalos foi um marco na mobilidade dos humanos durante anos, principalmente nas guerras. Apesar disso, como escreveram os pesquisadores, as raças modernas não descendem da linhagem de cavalos mais antiga.

E buscando resolver esse mistério, uma equipe de antropólogos, liderada por Ludovic Orlando, pesquisador do Centro de Antropologia e Genômica em Toulouse, descobriu que os humanos domaram os cavalos há mais ou menos de 4,2 mil anos, na região norte do Cáucaso, onde hoje é o sudoeste da Rússia. 

Para chegar a essa conclusão, o grupo sequenciou o DNA dos restos mortais de quase 300 cavalos antigos de toda a Europa. Inicialmente, eles descobriram um gene e uma região genômica que podem ter influenciado duas características importantes dos cavalos modernos: a docilidade e as costas fortes.

A melhor evidência apontava para origens de cavalos domésticos no norte do Cazaquistão, local em que os arqueólogos desenterraram cerâmicas com vestígios de leite de égua, fezes em currais e enormes quantidades de ossos e dentes velhos de cavalo que pareciam mostrar o uso de arreios. Orlando disse à AFP que isso fez a equipe concluir que foi ali que a domesticação aconteceu. 

Contudo, ao começarem a pesquisa, sequenciando os genomas do cavalo, os cientistas esperavam que ele fosse ancestral direto dos cavalos domésticos e isso não aconteceu.

Então, a equipe acabou descartando o lugar como evidência de uma tentativa de domesticação com os restos mortais ligados a uma espécie de cavalo que já se tornou praticamente extinta. 

Orlando conta que a partir daí, a equipe teve que usar outra abordagem. Eles decidiram sequenciar o genoma de restos encontrados desde a Península Ibérica à Sibéria. E isso deu um pouco mais de trabalho do que esperavam.

Com uma equipe de mais de 150 especialistas, o grupo analisou amostras que datam de dois a 50 mil anos atrás, com a intenção de incluir todas as linhagens de cavalos conhecidas naquele período.

Mandíbula de cavalo escavada no sítio arqueológico de Ginnerup, Dinamarca, junho de 2021. (Este sítio foi incluído no estudo Crédito: © Lutz Klassen, Museu da Jutlândia Oriental

E nessa hora, toda ajuda é bem-vinda. Os pesquisadores usaram tecnologia de sequenciamento de ponta durante anos caçando semelhanças entre o DNA antigo e os animais modernos.

Foi há quase um ano que uma luz surgiu enquanto avaliavam uma região no sudoeste da Rússia, em uma área de cerca de 500 quilômetros de largura. “Foi muito, muito claro: o número de diferenças genéticas encontradas fora da região era muito maior do que dentro”, disse Orlando.

Depois de localizar o genoma de interesse, os cientistas utilizaram datação por radiocarbono para descobrir quando esses cavalos vagavam, dentro de um ou dois séculos. A equipe de Orlando mapeou os vários genomas de cavalos ao longo do tempo e conseguiu um mosaico de populações de cavalos selvagens que persistiram por milênios.

Mas assim que ocorreu a domesticação pelo homem, o mapa mudou drasticamente. Orlando explica que o genoma de um cavalo, ancestral da atual população de cavalos domésticos, assumiu o controle.

“No início, o cavalo estava muito confinado e, de repente, se espalhou pela Eurásia como um incêndio”.

 

[Phys]

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