Ser recrutado pela Microsoft é como ser atingido por uma “bomba de amor”

Quando a Microsoft quer te contratar, ela joga uma "bomba de amor" na sua cabeça, de acordo com uma pessoa com quem nós conversamos, que foi cortejada pela Microsoft.

A Microsoft queria que a nossa fonte — vamos chamá-lo de Tony — entrasse para a sua divisão de entretenimento e dispositivos.

O Tony acabou recusando a oferta no final, optando por abrir a sua própria empresa de consultoria. Mas ele diz que se não estivesse decidido a abrir negócio próprio, teria aceitado o emprego "num piscar de olhos".

A coisa aconteceu assim.

O seu recutamento começou com uma ligação. O cara que seria o futuro chefe do Tony ligou para ele, medindo o seu interesse em fazer uma entrevista. Tony não se via na Microsoft, mas resolveu aceitar a entrevista só pra ver como seria.

Ele mora a quatro horas do campus da Microsoft e planejava dirigir até lá. A Microsoft, no entanto, ofereceu um carro alugado. Ele aceitou.

Diferente de outras empresas que já tentaram contratá-lo e ofereceram carros compactos alugados para ele, a Microsoft deixou que ele escolhesse que carro queria. "Uma SUV média, já que a minha esposa não me deixa ter uma".

Tony dirigiu até Redmond, chegando lá na noite anterior à sua entrevista. A Microsoft deu a ele US$ 150 per diem, que ele usou para levar um amigo para jantar.

Na manhã seguinte ele foi dirigindo até o campus da MS. Ele se encontrou com uma pessoa do Recursos Humanos que o "treinou" para lidar com as entrevistas. A sua "treinadora" contou a ele que tipo de perguntas ele deveria esperar e quais pessoas ele encontraria durante as oito horas que ele passaria no campus, sendo entrevistado.

Tony já tinha lido histórias na internet sobre algumas empresas (*coff, coff* Google *coff*) que às vezes fazem perguntas bobas em entrevistas, como "Por que os bueiros são redondos?", então ele perguntou à pessoa do RH se ele teria que responder alguma pergunta desse tipo.

Ela disse que não. De fato, "se alguém te perguntar algo assim, fique à vontade para levantar, sair da sala e vir para o meu escritório. Mas ninguém vai."

E ela estava certa: todas as perguntas que Tony precisou responder foram inteligentes e objetivas. Ele respondeu perguntas como "O que está errado na Microsoft?", "Se um sistema desliga sozinho, como você tentaria consertá-lo?" e "Como você projetaria o Windows Mobile?". Os entrevistadores pediram que ele explicasse que tipo de problemas ele costumava solucionar no seu último emprego.

Depois de cada rodada de perguntas, que duravam cerca de uma hora cada, ele partia para o próximo entrevistador.

Ele diz que cada um dos entrevistadores era como um "checkpoint". Se um deles te reprovasse, você nem veria os próximos. Eles te diriam que o seu próximo entrevistador teve que ir a uma outra reunião e não daria pra completar as entrevistas sem ele, então te mandariam para casa dizendo que te chamariam para voltar outro dia.

Se isso acontecesse, o entrevistado já saberia o que de fato rolou.

Tony chegou ao fim do dia.

Entre as entrevistas, ele era levado para lá e para cá pelo campus da Microsoft em um carro. Quando ele saía de uma entrevista, do lado de fora já estaria uma pessoa esperando por ele com uma plaquinha, como em um aeroporto, pronto para levá-lo até o próximo entrevistador.

E algo traiçoeiro: a Microsoft te entrevista durante o almoço também. Tony comeu um cheeseburger. Ele disse que os entrevistadores querem ver como você se sai durante uma reunião-almoço mais descontraída. Querem testar o seu decoro.

Um dos amigos do Tony falhou nesta entrevista. Seu amigo estava sendo entrevistado na Ásia. Enquanto comia e conversava, ele deixou escapar algo que não deveria sobre algo no qual a sua empresa atual estava trabalhando.

O entrevistador da Microsoft terminou a entrevista ali mesmo, e o amigo do Tony recebeu algum tempo depois uma carta de recusa, dizendo que a Microsoft o havia recusado por levar muito a sério os NDAs — acordos de confidencialidade.

E há uma razão para a Microsoft levar os NDAs tão a sério, mesmo com candidatos a empregos: durante a entrevista do Tony, a Microsoft o deixou ver uma versão do seu sistema operacional ainda não lançado, o Windows Phone 7.

Antes de vê-lo, o Tony esvaziou seus bolsos em um pequeno cofre do lado de fora do laboratório onde a Microsoft mantém os telefones que rodam Windows Phone 7. Então ele teve que passar por um detector de metal. Depois disso é que ele viu o WP7, que lhe deixou bastante impressionado.

Falando em smartphones, o recrutador disse a ele que poderia usar qualquer smartphone que ele quisesse. Ele poderia até usar um Mac no escritório. Um dos entrevistadores disse a ele: "Nós só não vamos comprar um para você, mas se você quiser trazer o seu próprio Mac e usar no escritório, não tem problema. Podem tirar uma com a sua cara, mas não vai atrapalhar a sua carreira."

Quando as entrevistas do Tony terminaram, ele saiu de carro do campus, e no caminho ele encontrou um vendedor da Aston Martin e um da Bentley.

Chegando em casa, ele sabia que não aceitaria o emprego. A Microsoft fez mais uma investida, convidando-o para um tour por Seattle e Redmond. Ele decidiu que não era pra ele.

Uma das razões que tornou a recusa mais difícil foi os incríveis benefícios médicos. "Sabe quando o Obama fala do Cadillac dos planos de saúde? É disso que ele está falando. Se você fica doente, você liga para o médico e ele vai na tua casa. E não tem nenhum custo escondido nisso."

Mas, ele acrescenta depois: "Eles não te impressionam com o salário. O meu cargo tem um salário-base de 175.000 dólares anuais. Eles me ofereceram 165.000." Com ações e outras coisas o salário aumentaria, mas montar o seu próprio negócio seria mais lucrativo.

Apesar dele ter recusado, Tony disse que o processo de entrevista foi incrível. Ele recomenda que qualquer um que tenha a oportunidade, faça.

"Quando eu voltei pra casa, conversei com um amigo na IBM. Ele me perguntou como tinha sido. Eu respondi: ‘eles me bombardearam com amor’."

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