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Sim, você consegue viver sem o seu maldito smartphone

Em um relatório [PDF] disponibilizado pela Associação de Editoras Online na segunda, destacou-se a estatística de que 68% dos proprietários de smartphones dizem que “não conseguem viver sem seus aparelhos”. Que monte de bebês chorões. Não me interessa quem você é ou o que você faz: você consegue viver sem um maldito smartphone. A menos que […]

Smartphone é vital?

Em um relatório [PDF] disponibilizado pela Associação de Editoras Online na segunda, destacou-se a estatística de que 68% dos proprietários de smartphones dizem que “não conseguem viver sem seus aparelhos”. Que monte de bebês chorões. Não me interessa quem você é ou o que você faz: você consegue viver sem um maldito smartphone.

A menos que eu esteja realmente por fora dos avanços tecnológicos, os smartphones não lhe dão de comer, água não brota deles e eles tampouco fabricam roupas. Eles não fazem fogo, produzem remédios ou dão crianças à luz. Os smartphones, com suas páginas de apps e funções bem mais ou menos de “assistentes pessoais inteligentes,” não são capazes de protegê-lo da chuva ou ajudá-lo contra uma investida de hienas raivosas. Se você disser que gosta do seu smartphone porque o considera uma ferramenta útil para tornar a vida mais simples, isso faz muito sentido. Mais poder para você. Mas martelos também são ferramentas úteis para tornar a vida mais simples e, ainda assim, eu não consigo visualizar um mundo onde quase 70% dos proprietários de martelos diga que não conseguiria viver sem seus batedores de pregos.

Proclamar que você não consegue viver sem o seu smartphone não é apenas errado, é de certa forma ofensivo. É como dizer que você não conseguiria viver sem ar condicionado ou Breaking Bad ou presentes no Natal. A maioria das pessoas do mundo vive sem essas coisas e a maioria delas, adivinhe, vive razoavelmente feliz. Ainda assim, 68% dos usuários de smartphones querem sugerir, tacitamente, que as vidas dessas pessoas não vale a pena porque elas não carregam em seus bolsos um celular que diz a previsão do tempo ou permite jogar Plants vs. Zombies. Tente dizer a uma criança da Bósnia que teve a sua casa cravejada por tiros que você não consegue viver sem seu smartphone. Veja quanta simpatia você terá dela.

Para ser sincero, eu seria capaz de apostar que um bom número dos que responderam a essa pesquisa estava sendo irônico quando disse que não conseguiria viver sem seu aparelhinho. Uma resposta irreverente a uma pergunta séria; eu duvido que você consiga encontrar uma dezena de pessoas que literalmente equipare smartphones a água e comida. Mas a forma de dizer as coisas importa e se existem milhões de usuários de smartphones que balançam a cabeça em sinal de concordância quando alguém os questiona se eles precisam dos seus iPhones e Androids para viver, alguma coisa está terrivelmente errada.

Para mim, esse problema é um sintoma de um outro ainda maior que vem corroendo os Estados Unidos por pelo menos desde a época em que eu nasci. Em termos mais claros, parece que está cada vez mais difícil para muitas pessoas entender a diferença entre “precisar” e “querer”. Vivendo em uma nação rica e durante a era tecnologicamente mais avançada da história da humanidade, as linhas entre o que torna a vida possível e o que a torna confortável foram apagadas. Comida, água potável e um teto estão ao alcance da maioria dos norte-americanos e para muitos a estabilidade é uma constante há décadas.

Com o básico para a sobrevivência garantido, chegamos a um tempo onde a comida não é vista como uma necessidade da mesma forma que… digamos… nosso sangue não é visto como uma necessidade. A pessoa média raramente considera que ela precisa bombear sangue através das suas veias e coração para que ela viva — nossos corpos simplesmente fazem isso e não pensamos a respeito. Se você está lendo o Gizmodo, é bem provável que você encare a comida da mesma forma: você não se preocupa sobre de onde ela vem, ela apenas está ali. E por ela simplesmente estar ali, isso permite que nós criemos novos requisitos para a vida. Precisamos de ar condicionado. Precisamos de TVs. Precisamos de headphones caríssimos. Não conseguimos viver sem nossos smartphones. É como se tivéssemos nos transformado em um país de adolescentes, o tipo que grita dramaticamente “Você está arruinando a minha vida!” se nossos pais nos tiram os privilégios do celular ou do carro.

Eu gosto de verdade de poder ver meu email do celular. Isso me economiza um tempão, estresse e dores de cabeça relacionadas ao trabalho. Adoro enviar mensagens e usar o meu notebook e o Google Hangouts, provavelmente a única coisa boa que saiu do Google+. Mas eu também acho importante me lembrar constantemente de que se todas essas coisas desaparecessem, a minha vida seria diferente, não pior. Nas primeiras semanas muito provavelmente ela viraria uma tremenda bagunça, mas depois de um tempo eu me acostumaria; talvez eu até gostaria dessa nova realidade. Na verdade, alguns estudos demonstram que os norte-americanos em média são mais infelizes hoje do que há 30 anos, antes do computador ser onipresente, antes dos smartphones estarem em todos os bolsos e bolsas, antes de nós termos nos transformado em obcecados por email. Outros estudos dizem que há uma correlação inversa entre a quantidade de mídia que as crianças consomem e a felicidade delas. Nós queremos — não, precisamos — de todas essas coisas e, quando as conseguimos, elas ainda assim não nos faz necessariamente aproveitar melhor a vida, mesmo que passemos a não conseguir mais imaginar a vida sem elas.

Uma das séries mais aguardadas da NBC é Revolution, um drama sobre o que acontece quando, por algum motivo, cada pedaço da tecnologia existente no mundo simplesmente para de funcionar. Milhões ficam sem chão por um tempo, claro. Mas a história central do programa é sobre a família e os amigos próximos, sobre encarar a situação e seguir em frente. Porque existe vida além da tecnologia, ainda que ela não tenha o mesmo sentido de quando você fica na fila à espera do próximo iPhone.

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