Sinal de rádio misterioso enviado de estrela anã vermelha intriga astrônomos

Encontrar sinais de rádio no universo é algo comum. Mas será que desta vez tem a ver com alienígenas? É o que cientistas tentam responder.
Estrela Proxima Centauri b. Imagem: ESO/M. Kornmesser
Representação artística da Proxima Centauri b. Imagem: ESO/M. Kornmesser

Pesquisadores do projeto Breakthrough Listen detectaram um sinal misterioso proveniente da Proxima Centauri, a estrela mais próxima do Sistema Solar. Para os entusiastas mais conspiratórios, o sinal foi interpretado como uma possível transmissão alienígena. Mas como tantos exemplos no passado, é muito provável que estamos diante de mais um beco sem saída.

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Cientistas do projeto, que tem custo de US$ 100 milhões e é financiado pelo bilionário russo-israelense Yuri Milner, estão atualmente trabalhando em um artigo de pesquisa que descreve o tal sinal, mas a notícia da detecção de alguma forma vazou para o jornal britânico The Guardian na semana passada. Os dados oficiais ainda não foram revelados, porém já se pode ter uma ideia das descobertas iniciais.

Eis, então, o que sabemos.

O sinal de rádio de banda estreita, encontrado em 982,001 MHz, foi captado pelo radiotelescópio no Observatório Parkes, na Austrália, conforme relata a Scientific American. A emissão parecia se originar da Proxima Centauri, uma estrela anã vermelha localizada a 4,2 anos-luz de distância. O sistema hospeda dois exoplanetas conhecidos; um deles, chamado Proxima Centauri b, reside dentro da zona habitável. Curiosamente, a frequência do sinal mudou ligeiramente. Isso pode ser um efeito Doppler causado pelo movimento da fonte, como um exoplaneta em órbita.

Liderada por Andrew Siemion, a equipe de cientistas da Universidade da Califórnia, em Berkeley, não estava procurando por alienígenas. Em vez disso, tentavam encontrar sinais de chamas provenientes da anã vermelha, já que essas explosões poderiam afetar de forma prejudicial a habitabilidade no sistema Proxima Centauri. Esses dados foram coletados em abril e maio de 2019, mas o sinal não foi detectado até recentemente.

A emissão do sinal parece ser um evento único, aparecendo apenas uma vez no conjunto de dados. Sem uma fonte óbvia para o sinal, a equipe o rotulou como BLC-1 (Breakthrough Listen Candidate 1). Este é o primeiro sinal candidato oficial para o projeto de 10 anos, que foi lançado em 2015.

Existe uma chance muito pequena de que o sinal foi produzido por uma inteligência extraterrestre, seja um vazamento acidental de rádio ou uma transmissão direcionada projetada para chamar nossa atenção. Na verdade, os próprios pesquisadores do Breakthrough Listen esperam que o BLC-1 não seja alienígena. E o próprio diretor executivo do projeto disse à SciAm que há 99,9% de certeza de que não se trata de ETs.

O Observatório Parkes, na Austrália. Imagem: Daniel John Reardon

É importante ressaltar que a interferência terrestre, assim como um forno de microondas ou alguma outra distração, ainda não foi descartada como uma possível fonte de emissão de rádio. No entanto, é improvável que o sinal BLC-1 tenha vindo de alienígenas por uma série de razões.

Em primeiro lugar, o BLC-1 parece ser um sinal não modulado e imutável. Se os alienígenas estivessem tentando nos contatar, certamente eles tornariam a mensagem um pouco mais interessante, como transmitir uma sequência de números primos que chamam a atenção. A natureza não modulada do sinal também o torna um candidato ruim para vazamento acidental de rádio.

Além disso, o espaço está preenchido com todos os tipos de sinais naturais de rádio. Uma fonte natural para o BLC-1 não é imediatamente óbvia, mas os cientistas terão que descartar coisas como nosso Sol, Júpiter, estrelas de nêutrons e pulsares, remanescentes de supernovas, galáxias de rádio e assim por diante.

Fontes terrestres também terão que ser descartadas, junto com satélites em órbita, como Seth Shostak, cientista sênior do instituto SETI, explicou em um post recente:

Na verdade, pode ser apenas um sinal de telemetria de um satélite em órbita. Afinal, o movimento orbital desses satélites faz com que suas transmissões aumentem e diminuam de frequência. E embora você possa pensar que as chances de sintonizar acidentalmente um satélite não são grandes, é melhor analisar duas vezes. Existem mais de 2.700 satélites em funcionamento zanzando em nosso planeta, fornecendo informações sobre o tempo, imagens para o Google Earth, sinais de GPS para navegação e fotos de alta resolução para militares – só para citar alguns exemplos. Essa enxurrada de informações de hardware a algumas centenas de quilômetros acima de nossas cabeças é obviamente importante para um estilo de vida de alta tecnologia, mas congestiona muito o espectro de rádio. Os cientistas estão tentando encontrar uma agulha no palheiro.

Também é importante ressaltar que o sistema Proxima Centauri é um candidato muito pobre para vida extraterrestre, visto que a estrela é uma anã vermelha. Como mostram pesquisas recentes, as anãs vermelhas estão sujeitas a frequentes e poderosas erupções solares, tornando difícil para a vida emergir e evoluir ao seu redor. O exoplaneta Proxima Centauri b está tão perto de sua estrela hospedeira que leva apenas 11 dias para completar uma única órbita.

Isso não quer dizer que a equipe do Breakthrough Listen esteja errada em considerar os alienígenas como uma possível fonte do BLC-1. Eles estão absolutamente certos em fazer isso, já que ainda não existe uma boa explicação que defina a emissão desses sinais estranhos. No futuro, os radioastrônomos deverão treinar seus telescópios em Proxima Centauri na esperança de uma repetição, enquanto outros cientistas devem investigar as possíveis fontes do estranho sinal.

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