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O mundo ainda não está preparado para smartphones sem portas nem entradas

Pouco a pouco, as portas vêm sendo removidas dos nossos dispositivos. Como uma prévia do futuro totalmente sem fio que nos aguarda, a Meizu e a Vivo (a marca chinesa de smartphones, sem nenhuma relação com a operadora de mesmo nome) recentemente lançaram celulares com o total de nenhuma entrada. Mas, apesar da aparência elegante […]

Pouco a pouco, as portas vêm sendo removidas dos nossos dispositivos. Como uma prévia do futuro totalmente sem fio que nos aguarda, a Meizu e a Vivo (a marca chinesa de smartphones, sem nenhuma relação com a operadora de mesmo nome) recentemente lançaram celulares com o total de nenhuma entrada. Mas, apesar da aparência elegante desses dispositivos (e do meu desejo pessoal de banir os fios e mandá-los para o inferno), o mundo simplesmente não está pronto para telefones (ou laptops) que não têm portas. Pelo menos por enquanto.

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No novo Meizu Zero — que merece alguns pontos de bônus por ter um nome muito apropriado — a empresa renuncia a portas USB, slots de cartão SIM, alto-falantes tradicionais e até mesmo botões físicos. Em troca, o aparelho é um quadro monolítico de cerâmica quase sem falhas, com apenas uma saliência para a câmera e um punhado de minúsculos furos de microfones espalhados pelo corpo.

Substituindo toda a tecnologia que usamos até agora está um botão de ligar e desligar sensível ao toque na lateral, suporte a eSIM, um leitor de impressão digital na tela e carregamento sem fio de 18 watts. Esse último recurso não é brincadeira: é a mesma velocidade de carregamento que você recebe da maioria dos carregadores com fio. A Meizu até adicionou o que chamou de tecnologia mSound 2.0 In-Screen Sound Tech, que permite que toda a tela funcione como um alto-falante tradicional, vibrando da maneira certa, o que significa que o Zero não precisa nem de um falante para ligações.

Enquanto isso, o conceito Apex 2019, da Vivo, impulsiona toda a ideia sem portas com câmeras traseiras completamente niveladas com seu corpo, eliminando totalmente a câmera selfie, e embalando o telefone com as melhores especificações possíveis, incluindo 12GB de RAM, um processador Snapdragon 855 e um modem Qualcomm X50 pronto para 5G.

A Vivo alega que o leitor de impressões digitais na tela da Apex 2019 cobre a tela inteira do telefone, e, para aliviar qualquer preocupação sobre carregar ou transferir dados sem o uso de portas, a Vivo criou um conector especial “MagPort” que lida com ambas as funções. Eu acho que essa última inovação impede que o Apex 2019 seja realmente tecnicamente sem portas, mas pode ser um ótimo acréscimo para qualquer um que ainda goste das portas MagSafe dos MacBooks antigos.

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Os dois dispositivos parecem mais sofisticados do que qualquer coisa que tenha aparecido em Star Trek, mas, mesmo que você pudesse colocar as mãos neles, teria que estar delirando para realmente pensar em comprar um.

Eu sou totalmente a favor da tecnologia sem fio. Eu tenho carregadores sem fio em quase todos os cômodos do meu apartamento (até mesmo no banheiro), e até comprei vários teclados sem fio para o meu PC. Mesmo assim, no mundo de hoje, um dispositivo sem portas simplesmente não faz sentido.

Deixando de lado as queixas atuais sobre as empresas que matam o fone de ouvido, o maior problema com um dispositivo totalmente sem fio é mantê-lo ligado. Isso não quer dizer que o carregamento sem fio seja inútil, é apenas uma conveniência suplementar que facilita a manutenção dos dispositivos enquanto você está ocupado fazendo outras coisas. O problema é que, se você estiver com pouca bateria, mas ainda assim quiser assistir a um filme, verificar seus e-mails ou qualquer outra coisa, usar seu smartphone e carregá-lo sem fio é, na melhor das hipóteses, inconveniente.

Veja como as bordas do Meizu Zero são limpas. Foto: Meizu.

Se você tiver um carregador plano, basicamente terá que fazer um sanduíche tecnológico desagradável usando o telefone e a plataforma de carregamento para poder usá-lo em qualquer lugar que não seja em uma superfície plana. E, apesar de carregadores verticais como o Pixel Stand são um pouco melhores, curvar-se e tocar a tela enquanto o dispositivo fica no berço parece dar um passo atrás em relação aos cabos que temos hoje.

Os alto-falantes vibratórios encontrados no Meizu Zero e no Apex 2019, embora tecnicamente possam substituir um alto-falante convencional, têm qualidade de som medíocre, na melhor das hipóteses. Optar por uma tecnologia como essa é essencialmente desistir da capacidade de ouvir música ou filmes em qualquer coisa além de fones de ouvido Bluetooth.

Quanto aos eSIMs, o suporte nos EUA para essa tecnologia é atualmente irregular, na melhor das hipóteses, com até mesmo usuários do iPhone tendo dificuldade em configurar as coisas. A AT&T acaba de ativar o suporte a eSIMs para dispositivos iOS no início de dezembro, com a Verizon e a T-Mobile seguindo pouco depois. Mas ainda não há muitas opções, especialmente para usuários do Android, fora disso. No Brasil, só a Claro oferece o serviço para alguns modelos de Apple Watch.

Foto: Vivo

Depois, há o 5G, que pode tornar o envio e o recebimento de dados sem wi-fi muito mais rápido. O único porém é que as redes não estão prontas, e ainda não há dispositivos 5G que você possa comprar. Claro, o Apex 2019 tem um modem de 5G, mas a Vivo não divulgou um preço por isso, e, como é um dispositivo conceitual, ele nunca pode ser colocado à venda.

Mas tudo isso não significa que esses dispositivos sem portas não sejam importantes. Eles são essenciais para nos aproximarmos de um futuro sem fios, que pode funcionar para todos. Porque, ao criar dispositivos potencialmente defeituosos, podemos descobrir onde estão os maiores pontos problemáticos e depois trabalhar para resolvê-los.

E, mesmo que eles não sejam perfeitos, tanto o Meizu Zero quanto o Apex 2019 são dispositivos que podem se encaixar na vida de muitas pessoas sem que eles percebam as desvantagens. Eis  uma ótima lembrança de que a diferença entre a fantasia sem fio e a realidade sem fio está muito menor do que há alguns anos.

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