Sociedade de genética dos EUA se retrata por histórico de eugenia e racismo
O campo da genética foi amplamente usado no passado para justificar preconceitos — mesmo que não houvesse embasamento científico para isso. O conceito de eugenia, por exemplo, acredita que os “traços indesejáveis” do indivíduo eram determinados por genes, e foi usado como base para o genocídio judeu na Alemanha nazista.
Não para por aí. Durante as décadas de 1960 e 1970, pessoas negras nos EUA foram associadas erroneamente a doença falciforme. Essa pseudociência baseou o racismo, xenofobia, antissemitismo, capacitismo e sexismo, e deixando marcas ainda hoje.
A genética não era usada apenas como justificativa por leigos. Na verdade, muitos dos líderes da própria Sociedade Americana de Genética Humana (ASHG) participaram do movimento eugenista dos EUA.
Diante disso, a ASHG pediu desculpas na última semana e lançou um comunicado de retratação. A organização disse que falhou em reconhecer e se opor consistentemente às formas injustas pelas quais a genética humana tem sido usada. No novo relatório, a ASHG detalha os 75 anos de história e atesta sua culpa.
Para se ter uma ideia, nove dos primeiros líderes da sociedade tinham cargos de liderança na American Eugenics Society (Sociedade Americana de Eugenia), tendo três deles ocupado os cargos enquanto presidentes do ASHG.
A ASHG não ficou apenas no pedido de desculpas. Segundo eles, será suspenso o uso de nomes individuais para seus prêmios profissionais até que sejam revisados os vínculos dos homenageados com a eugenia ou outra discriminação. O maior prêmio anual da sociedade, por exemplo, recebia o nome de William Allan. O cientista foi um conhecido eugenista que apoiava abertamente esterilizações.
A diversidade nesse ramo de pesquisa nos EUA ainda é pequena. Cerca de 67% dos profissionais que atuam nos campos da genética e genômica são brancos, enquanto 78% dos pesquisadores da área tem descendência europeia.