Sonda controlada remotamente coleta detritos radioativos em Fukushima pela primeira vez

Operação bem-sucedida marca uma conquista importante, mas a limpeza completa do local poderá ainda levar décadas.
AP

A Tepco, operadora estatal da usina nuclear de Fukushima, gravemente danificada, realizou um importante teste no qual uma sonda controlada remotamente conseguiu captar vários pequenos grãos de detritos radioativos, informa a agência de notícias AFP. A operação bem-sucedida marcou uma conquista importante para a empresa, que se prepara para um trabalho de limpeza que pode levar décadas.

Em março de 2011, o devastador terremoto e tsunami em Tohoku desencadeou o derretimento de três reatores da usina nuclear de Fukushima Daiichi. Oito anos depois, a operadora da usina, a Tokyo Electric Power Company Holdings (Tepco), ainda está nos estágios de formação para elaborar um plano de limpeza.

O principal desafio, é claro, é lidar com a intensa radiação que emana do combustível derretido. Há dois anos, por exemplo, um robô ficou sem resposta após apenas duas horas no reator nº 2; há radiação suficiente lá — aproximadamente 650 sieverts por hora — para fritar uma pessoa em poucos segundos. O episódio mostrou que serão necessários avanços técnicos para tornar os robôs mais resistentes à radiação perto do núcleo e que a limpeza provavelmente levará mais tempo do que o esperado.

Ilustração mostrando como os detritos radioativos da cuba de pressão do reator estão se acumulando na parte inferior da cuba de contenção primária. Imagem: Tepco

No início do ano passado, uma câmera ligada a uma sonda controlada remotamente foi enviada para o reator nº 2. Imagens confirmaram que detritos de combustível derreteram através da cuba de pressão do reator (RPV), também conhecida como núcleo do reator, caindo em uma câmara de coleta conhecida como cuba de contenção primária (PCV). Imagens da câmara mostraram depósitos semelhantes a pedras e argila cobrindo todo o fundo do pedestal da PCV. Esses resíduos acumulados, juntamente com pilhas similares nos reatores 1 e 3, precisam ser limpos, e a Tepco está atualmente tentando determinar a melhor maneira de fazer isso.

Para esse fim, a empresa estatal criou uma operação para ver como é esse material e determinar se ele pode ser movimentado. Na quarta-feira (13), a Tepco enviou uma sonda equipada com uma mão robótica operada remotamente para a câmara inferior nº 2, informou o Japan Times.

Usando os dedos em forma de pinça, a sonda recolheu cinco pedaços de combustível radioativo derretido do tamanho de um grão. A AFP noticiou que as peças foram movidas a uma altura máxima de cinco centímetros acima do fundo da câmara. Além de capturar imagens com uma câmera, a sonda mediu a radiação e a temperatura durante a investigação, de acordo com um comunicado da Tepco.

A mão robótica de duas pontas pegando detritos radioativos no fundo do reator nº 2. Imagem: TEPCO

Nenhum detrito radioativo foi removido da câmara, mas a operação de oito horas de duração mostrou que parte do combustível derretido pode ser transferido — uma prova importante que servirá como informação para os planos futuros de limpeza da usina. Porém, como o jornal Japan Times observou, uma das seis áreas exploradas pela sonda continha detritos que se solidificaram em uma substância semelhante à argila, que a mão robótica não conseguiu segurar. Futuros robôs precisarão cortar ou serrar esse material de forma que ele possa ser removido. Isso não será fácil.

Um teste futuro, planejado para abril, removerá alguns detritos da câmara, de acordo com o Japan Times. A Tepco ainda não divulgou como e onde esses resíduos radioativos serão armazenados.

A empresa espera começar a remover o combustível radioativo até 2021, mas a limpeza deve levar décadas, com algumas estimativas sugerindo que isso não será concluído antes de 2050. Muitos outros obstáculos tecnológicos ainda existem, como determinar a extensão total dos danos estruturais na usina, localizar todo o combustível derretido nos três reatores danificados e descobrir uma maneira de remover as grandes quantidades de água contaminada armazenadas no local.

Se tudo isso parece ser demais, é porque é mesmo. Como dissemos anteriormente, quando uma usina nuclear dá errado, ela dá errado demais.

[Japan Times, AFP]

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