O Spotify vai mesmo abrir capital, mesmo dando prejuízo
O Spotify finalmente oficializou a intenção e enviou nesta quarta-feira (28) os documentos para abrir capital na NYSE, bolsa de valores de Nova Iorque. A companhia decidiu pela opção incomum de abrir o capital diretamente, em vez de realizar o tradicional IPO (oferta pública inicial).
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De acordo com o New York Times, esse processo é aquele em que “nenhuma nova ação emitida – e, portanto, nenhum dinheiro é levantado” e que permite que investidores e membros fiquem livres para negociar os papéis no mercado.
Em outras palavras, isso contorna o método tradicional no qual as instituições financeiras de Wall Street orquestram todo o processo de abertura de capital, o que significaria que as ações do Spotify poderiam experimentar uma volatilidade imediata.
Na carta de 1.259 palavras, o CEO do Spotify Daniel Ek foi muito mais ortodoxo e como todos os CEOs de empresa de tecnologia, está promovendo a ideia de que sua empresa se tornará uma plataforma cultural do futuro ou algo desse tipo:
Nós imaginamos uma plataforma cultural onde criadores profissionais possam se libertar dos constrangimentos de seus meios e onde todos possam desfrutar de uma experiência artística imersiva que nos permita sentir empatia pelo outro e se sentir parte de algo maior. Mas para alcançar essa visão, criadores profissionais devem ser capazes de ter uma vida justa fazendo o que amam, onde a monetização é o cerne de uma proposição criativa e não uma reflexão posterior. Nós nos preocupamos profundamente com nossos criadores e nossos usuários e acreditamos que o Spotify é vantajoso para ambos.
Essa é a nossa missão – desbloquear o potencial da criatividade humana – ao dar a milhões de artistas criativos a oportunidade de viverem de sua arte e ao dar a bilhões de fãs a oportunidade de aproveitá-los e se serem inspirados por eles.
Depois, Ek prometeu “democratizar a indústria e conectar a todos, ao redor do mundo, em uma cultura compartilhada que expande nossos horizontes”, adicionar que aquilo “que começou como um aplicativo e cresceu para uma plataforma deve se tornar uma rede global – uma que reconheça e alimente os relacionamentos interdependentes entre criadores, produtores, publishers, selos, fãs e todos que estiverem no caminho”:
Esse é o futuro que visualizamos; onde artistas ultrapassem barreiras culturas e de gêneros, criando ideias que levem a sociedade para frente; onde fãs possam descobrir algo que eles não imaginariam; onde todos somos parte de uma rede global; construindo novas conexões, compartilhando novas ideias, entre culturas.
A carta segue nessa pegada, mas como nota o Business Insider, ela é pelo menos “respeitosamente tímida” em relação ao manifesto de 2.189 palavras do CEO do Facebook Mark Zuckerberg, escrito em 2012.
Embora o Spotify tenha uma base de usuários forte, a empresa tem dificuldades com compositores e publishers que afirmam que serviços de streaming os enganam em relação ao pagamento de royalties.
O pessoal do MarketWatch nota que apresentação de documentos indicam que a empresa pode ter feito besteira nos procedimentos financeiros internos e que isso pode resultar em processos, caso se prove que a empresa tenha mal pago os detentores de direitos autorais. Como adiciona o Wall Street Journal, embora o Spotify afirme valer US$ 23 bilhões e que está numa crescente vertiginosa, os prejuízos também estão disparando:
A apresentação mostrou que a receita da companhia está crescendo claramente, mas os prejuízos também. Eles anunciaram €4.1 bilhões de receitas em 2017, quase 39% a mais do que no ano anterior. A empresa, que ainda não gerou lucro, teve prejuízo de €1.24 bilhões em 2017, número maior do que das perdas de €539 milhões no ano anterior e €230 milhões em 2015.
No entanto, o Journal escreve que o Spotify possui menos pressão para levantar grana uma vez que possuem um fluxo de caixa livre positivo, em parte devido a cobrança de assinaturas “que são depositadas na conta bancária da companhia, mas não refletidas imediatamente no comunicado de ganhos-e-perdas”.
O Spotify afirma ter hoje 159 milhões de usuários ativos mensalmente, sendo 71 milhões assinantes pagos, o que representa um crescimento impressionante. A Bloomberg apontou recentemente que rivais cheios da grana como YouTube, Apple e Amazon estão tentando aumentar suas operações e demonstraram uma disposição a jogar sujo quando se trata do acesso de competidores ao seu hardware.
Esses competidores estão dispostos a jogar um dinheiro pesado em música só para criar uma sinergia com o próprio hardware, ao passo que o Spotify não tem o luxo de se apoiar em uma grande linha de produtos. O Apple Música em particular vem pré-instalado em dispositivos da Apple e cresceu imensamente pelo menos nos Estados Unidos. O serviço tirou do bolso sua carteira gigante com frequência para pagar por acordos de faixas exclusivas, por exemplo.
Pode ser ainda que um monte de dinheiro e a dominância do mercado multi-plataforma determinem o futuro do mercado de streaming. Mas a ambição do Spotify ainda tá aí.
[Business Insider/New York Times]
Imagem do topo: AP