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Substâncias perigosas: o que é hidrogel e quais os riscos dele

A modelo Andressa Urach, 27, se recupera de complicações graves causadas pela aplicação de hidrogel nas coxas em um processo realizado há cinco anos. Com o caso em voga, a questão da busca incessante pelo dito corpo perfeito voltou. Mas aparentemente a maior parte das pessoas não sabe direito o que é o hidrogel. E […]

A modelo Andressa Urach, 27, se recupera de complicações graves causadas pela aplicação de hidrogel nas coxas em um processo realizado há cinco anos. Com o caso em voga, a questão da busca incessante pelo dito corpo perfeito voltou. Mas aparentemente a maior parte das pessoas não sabe direito o que é o hidrogel. E isso é muito perigoso.

Embora no momento a licença para a venda e uso do hidrogel esteja vencida junto à Anvisa (em processo de renovação, segundo a maior importadora do produto), até alguns meses atrás ela estava ativa e, portanto, a sua aplicação era legalizada. Nos EUA, a FDA, equivalente à nossa Anvisa, proíbe o uso do hidrogel.

O hidrogel tem em sua composição 98% de água e 2% de poliamida (um tipo de polímero). Ele é indicado para pequenos preenchimentos a fim de amenizar rugas, corrigir cicatrizes e atenuar diferenças da pele. A recomendação da Anvisa é que seja aplicado no máximo 50 ml do produto no paciente, mas diversos especialistas ouvidos pelas reportagens do G1, R7 e Folha indicam quantidades bem menores, de 2 a 3 ml.

O volume máximo recomendado é insuficiente para aumentar coxas e glúteos, mas isso não impede que muitas mulheres corram o risco. No caso de Andressa, por exemplo, ela aplicou 400 ml nas coxas. O perigo decorre da maneira com que o hidrogel se infiltra no corpo. Aplicado com uma seringa ou cânulas, ele “envolve” músculos, gordura e tendões, ou seja, não fica concentrado em um só local, mas espalhado pela região onde é aplicado.

Além das complicações imediatas, que podem ser fatais como no caso da goiana Maria José Medrado de Souza Brandão, 39, que aplicou hidrogel nos glúteos em outubro, outras complicações podem surgir bem mais tarde, anos depois do procedimento. E desfazer o mal é bem complicado: por se espalharem na região da aplicação, a remoção é delicada, bastante difícil e compromete partes do corpo destruídas pela presença do elemento intruso – músculos, pele necrosada e gordura precisam ser removidos junto com o hidrogel. Às vezes, como no caso da modelo Lorena Bueri, 26, mesmo várias cirurgias resquícios do material continuam presentes no organismo. Ela tem um pouco de hidrogel preso aos músculos e além de monitorar a substância, precisa tomar cefalexina (antibiótico) todos os dias para evitar infecções.

O risco de infecção, inclusive, é bastante alto. De acordo com Carlos Alberto Komatsu, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, qualquer corpo estranho inserido em nosso corpo facilita a formação do biofilme, uma película de bactérias que protege os micro-organismos da ação do sistema imunológico. Em outros termos, não há antibiótico capaz de vencer tais infecções porque ele não consegue agir na região infectada.

PMMA e outras substâncias perigosas

Este é o hidrogel, tingido de azul para ficar mais visível na demonstração. Foto: R7.

Andressa também aplicou PMMA (polimetilmetacrilato) nas coxas concomitantemente ao hidrogel. Trata-se de outro polímero, também usado para correção de pequenas imperfeições estéticas e que, segundo especialistas, deve ser usado com parcimônia. A ocorrência dos dois no mesmo local é, ainda de acordo com eles, “de grande risco”. O PMMA está autorizado junto à Anvisa, mas o seu uso é similar ao do hidrogel, ou seja, em quantidades mínimas para corrigir imperfeições.

Médicos dermatologistas alertam que existem alternativas ao uso do hidrogel ou PMMA para o aumento das coxas e glúteos. As técnicas mais seguras, segundo o cirurgião plástico Marcelo Olivan, em entrevista ao R7, são a aplicação de gordura da própria paciente e as próteses de silicone. No primeiro caso, por se tratar de um “material” interno ele se integra perfeitamente ao local e o único risco é de que o organismo reabsorva a gordura, cessando o efeito estético da cirurgia. Já o silicone, por ser um item uniforme e identificável, em caso de rejeição ou infecção pode ser facilmente removido e as complicações, tratadas com objetividade.

O problema é o custo das soluções. A título comparativo, 100 ml de hidrogel saem por R$ 2.500, ao passo que 1 ml de ácido hialurônico, uma substância que o corpo produz naturalmente e absorve com o tempo, sai por R$ 500. A duração também é levada em conta – o ácido hialurônico “some” entre seis meses e dois anos, enquanto o hidrogel dura em média cinco anos.

Tais substâncias, porém, não são as piores. Em Miami, nos Estados Unidos, segundo a Vice a “bundalândia” do país, pessoas despreparadas conduzem procedimentos clandestinos com produtos inacreditáveis, como óleo mineral, desses comprados em qualquer loja por menos de R$ 5. E não para por aí: médicos de lá dizem já ter visto até silicone industrial e concreto (!) aplicados em bundas.

Quem aplica

Isso nos leva a outro ponto importante: quem faz a aplicação. Por melhor e mais seguro que seja o material, as coisas podem sair muito erradas se ele for aplicado de maneira inadequada, por gente despreparada. Afinal, estamos falando de um procedimento cirúrgico. A moça de Goiânia que faleceu após a aplicação de hidrogel nos glúteos, por exemplo, foi operada por uma mulher formada em um curso de 15 dias de bioplastia estética e que cobrava R$ 3.900 pelo procedimento.

A desinformação é outro fator que joga contra a saúde das pessoas que desejam fazer modificações corporais. Tanto os médicos norte-americanos do mini-documentário da Vice (acima), quanto o Dr. Marcelo Olivan, afirmam que é comum que as mulheres que aparecem em seus consultórios com complicações decorrentes de cirurgias anteriores não saberem o que foi feito e nem mesmo qual produto foi aplicado. As consequências são feias, graves e podem levar à morte. [R7, Bem Estar, Folha (1) (2), Vice. Foto do topo: Samantha Evans/Flickr]

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