Subtipos de vírus da gripe podem ter sumido por causa de medidas contra coronavírus
Os casos de gripe no mundo estão diminuindo e isso pode ser, em parte, por causa das medidas de prevenção que adotamos contra a Covid-19. Mais do que isso: alguns tipos de vírus causadores da doença podem ter sumido ‘para sempre’.
A gripe é causada por vírus do tipo Influenza, que são divididos em três tipos: A, B e C. Os mais importantes ou principais são os vírus Influenza A e B. Nos vírus Influenza A se destacam os subtipos A/H1N1 e A/H3N2. Os vírus Influenza B apresentam dois subtipos: B/Victoria e B/Yamagata.
Com o passar dos anos, as vacinas contra a gripe tem se tornado um desafio para os cientistas. Os microrganismos sofrem mutações genéticas ao longo do tempo e criam o que chamamos de variantes ou cepas, o que significa um comportamento diferente da doença. Foi o que aconteceu nos EUA entre 2017-2018, quando três quartos das pessoas vacinadas contra a cepa H3N2 não foram imunizadas.
Antigamente, a maioria das vacinas incluíam apenas um dos vírus tipo B, e eram chamadas de “trivalentes”. Hoje, a maioria das marcas são “quadrivalentes”, ou seja, incluem os dois subtipos de cada um dos vírus tipo A e B.
O fato é que as práticas contra o coronavírus — como fechamento de escolas, bares e parques, uso de máscara e álcool gel, entre outras — contribuíram para a diminuição da circulação desses agentes infecciosos.
Mais do que isso: em todo o mundo, parece que um dos subtipos do H3N2 pode ter desaparecido. O mesmo também pode ter acontecido com uma das duas linhagens de vírus influenza B, o B/Yamagata.
De acordo com Trevor Bedford, biólogo computacional da Fred Hutchinson Cancer Research Center em Seattle, em entrevista à STAT, nenhuma sequência do vírus B/Yamagata nem da variante conhecida como 3c3, da família H3N2, foi registrada desde março de 2020 nos bancos de dados internacionais que monitoram os casos de gripe.
Apesar da ideia de o vírus ter desaparecido ser animadora, ela divide opiniões. Para Florian Krammer, especialista em gripe na Escola de Medicina Mount Sinai, em Manhattan, “só porque ninguém viu não quer dizer que desapareceu completamente, certo? Mas poderia”. Já Bedford diz que há uma chance decente de que tenha acabado. “Mas o mundo é um lugar grande”, ele pondera.
Há quem seja cético quando se trata da questão da extinção do vírus. Ben Cowling, especialista em gripe da Universidade de Hong Kong, é um deles. Mas ele ressalta à publicação que “se realmente o Yamagata desapareceu, então a vacina trivalente voltaria a ser boa”.
Outra cética é Cécile Viboud, epidemiologista do Centro Internacional de Fogerty. Ela diz que é difícil descartar, já que esses vírus podem estar circulando em níveis baixos em lugares que não usam intervenções não farmacêuticas como uso de máscara e distanciamento social. “O mundo é um lugar muito grande”, ressalta.
Ainda há mais controvérsias. Richard Webby, diretor do Centro Colaborador da Organização Mundial de Saúde para Estudos sobre Ecologia da Gripe em Animais e Aves, explicou à publicação que apenas uma parte dos vírus da gripe passa por sequenciamento genético. Portanto, as previsões sobre quais vírus da gripe podem ter desaparecido são baseadas nos bancos de dados e correm o risco de estar erradas.
Bedford explica que durante um ano normal, sem pandemia, cerca de 20 mil sequências genéticas de vírus da gripe são registradas no banco de dados GISAID. Entretanto, apenas 200 sequências foram carregadas em 2020. Parte disso está atrelada ao fato de os laboratórios priorizarem casos como a Covid-19. Ainda assim, há lugares que tiveram surtos de gripe durante a pandemia, como é o caso da China, registrou a transmissão da linhagem Victoria, e a África Ocidental, Bangladesh e Camboja, que tiveram casos de H3N2.
Apesar dos contrapontos, Webby concorda que houve uma grande redução na diversidade dos vírus da gripe circulantes, dizendo que será interessante ver como isso se desenvolverá nos próximos anos. “Sem dúvida, isso definitivamente mudará algo em termos da diversidade de vírus da gripe por aí. Até que ponto isso muda e por quanto tempo permanece alterado são os grandes pontos de interrogação. Mas nunca vimos isso antes”, completou.
Menos dor de cabeça na hora de escolher as vacinas é o que Webby deseja, apesar de acreditar que os vírus supostamente “extintos” estão escondidos em algum lugar apenas para aparecerem mais tarde. Ainda assim, ele destaca que “se tivéssemos que escolher um subtipo para perder diversidade, seria o H3N2.”