Governo da Suíça denuncia CIA por vender serviços falsos de criptografia para espionar países

Uma agência do governo da Suíça anunciou que fará uma denúncia criminal contra as entidades de inteligência dos EUA e da Alemanha por espalharem dispositivos de espionagem em mais de 120 outros países.
Parte do logo da CIA estampado no chão
Imagem: Getty

Ao mesmo tempo que as autoridades e empresas dos EUA espalham para o mundo suas preocupações sobre a segurança nacional em relação a aplicativos chineses como o TikTok e companhias de telecomunicação como a Huawei, o país precisará dar explicações sobre a sua parcela de vigilância sobre o mundo. Neste domingo (1º), uma agência do governo suíço anunciou que abriu uma denúncia criminal contra as entidades de inteligência dos EUA e da Alemanha por espalharem dispositivos de espionagem em mais de 120 outros países.

A ação vem depois de uma investigação conjunta feita pelo jornal americano Washington Post, a emissora pública alemã ZDF e a emissora pública suíça SRF, que revelou que a CIA e a agência de inteligência alemã BDN vendiam dispositivos de criptografia por meio de uma empresa suíça chamada Crypto AG durante 50 anos, com “sistemas de armadilhas” para países menos amigáveis.

Com base na análise de documentos confidenciais que descrevem a operação, a história da Crypto AG remonta a um acordo feito nos anos 1950 entre a inteligência americana e um inventor que morava na Suíça e tinha vivido nos EUA e fabricava caixas simples de codificação para os militares americanos durante a Segunda Guerra Mundial.

A CIA reforçou o crescimento da empresa com investimentos em dinheiro para garantir a obtenção de contratos com outros países. Nos anos 1960, a NSA entrou com a tecnologia eletrônica e, posteriormente, a inteligência dos Estados Unidos se apoderou da área de algoritmos de criptografia da empresa, que alguns funcionários acharam fácil de descodificar.

A agência de inteligência da Alemanha Ocidental BDN tomou conhecimento do acordo e, em 1970, a CIA e a BDN compraram a empresa com a ajuda de um escritório de advocacia, que fez uma papelada para esconder a transação. A missão foi consolidada como “Operação Thesaurus”, e depois, “Rubicon”.

A Crypto AG, no final das contas, deixou de disponibilizar software de criptografia; a empresa foi dissolvida em 2018, e duas novas empresas dividiram seus ativos. (Que foram comprados, provavelmente, por até US$ 70 milhões da CIA).

Ao longo dos anos, a investigação revelou que a empresa (auxiliada pela Siemens e Motorola) “sempre fez pelo menos duas versões dos seus produtos – modelos seguros que seriam vendidos a governos aliados e sistemas manipulados para o resto do mundo.”

Na década de 1980, os maiores clientes da Crypto AG eram supostamente a Arábia Saudita, Irã, Itália, Indonésia, Iraque, Líbia, Jordânia e Coreia do Sul. Entre os poucos exemplos listados estão a espionagem do presidente egípcio Anwar Sadat pela CIA durante as negociações de paz com Jimmy Carter, o compartilhamento de comunicações entre Argentina e a Grã-Bretanha durante a guerra sobre as Ilhas Malvinas e a interceptação de comunicações iranianas durante a guerra com o Iraque na década de 1980.

O entusiasmo da CIA de espionar até mesmo de seus aliados parece ter repelido os alemães, que venderam suas ações para a inteligência americana em 1993. A reportagem observa que é provável que os EUA tenham compartilhado a inteligência com os outros países membros do “Five Eyes” – Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia.

A Reuters informa que a Procuradoria Geral da Suíça anunciou neste domingo que a Secretaria de Estado para Assuntos Econômicos (SECO) apresentou a queixa criminal contra “pessoas desconhecidas” por potencial violação da lei de controle de exportação.

A declaração acrescenta que o escritório da AG ainda não decidiu se deve ou não abrir um processo criminal. A Reuters informa que uma investigação foi atribuída a um antigo juiz do Supremo Tribunal Suíço, que deverá apresentar as conclusões em junho. Os suíços têm pedido uma investigação parlamentar sobre o envolvimento de suas próprias autoridades.

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