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Surto de lagartas famintas aumenta a emissão de CO2

Segundo um novo estudo da Universidade de Cambridge, insetos alteram a química da água e do ar em florestas de forma mais significativa do que se imaginava

Pesquisadores da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, descobriram que surtos periódicos de lagartas comedoras de folhas podem causar dois impactos ambientais: um negativo e um positivo. Eles podem melhorar a qualidade da água de lagos próximos, mas, ao mesmo tempo, aumentam as emissões de dióxido de carbono (CO2) dos lagos. Os resultados foram publicados na revista científica Nature.

Surtos de mariposas ciganas (Lymantria dispar dispar) e mariposas lagarta da floresta (Malacasoma disstria) ocorrem a cada cinco anos em florestas temperadas. Esses insetos mastigam tantas folhas que, a diminuição resultante na queda de folhas e o aumento nos excrementos de lagartas alteram o ciclo de substâncias, em especial o carbono e nitrogênio, na terra e nos lagos próximos a eles.

A equipe combinou dados sobre surtos de insetos, coletados pelo governo durante 32 anos, e sobre a química da água do lago em 12 bacias hidrográficas em Ontário, Canadá. Entraram no estudo também informações obtidas via satélite sobre o tipo de floresta e a cobertura da área foliar — uma estimativa da biomassa (peso) da parte vegetal das plantas, que pode ser sinal da presença de insetos devoradores de folhas

Lagartas em Ontário, Canadá. Foto: John Gunn

Após isso, os pesquisadores descobriram que, quando havia surtos de lagartas, a área foliar das florestas foi reduzida em 22%. Contudo, os lagos próximos continham 112% mais nitrogênio dissolvido e 27% menos carbono dissolvido em comparação a anos sem surtos. 

As fezes dos insetos, ricas em nitrogênio, podem chegar à água do lago e atuar como fertilizante para os micróbios, que serão os agentes responsáveis por liberar o carbono na atmosfera. 

Andrew Tanentzap, pesquisador da Universidade de Cambridge que liderou a pesquisa, disse em um comunicado que as lagartas são basicamente pequenas máquinas que convertem folhas ricas em carbono em fezes ricas em nitrogênio. “O cocô cai nos lagos em vez das folhas, e isso muda significativamente a química da água — isso pode tornar os lagos fontes mais significativas de gases de efeito estufa.”

Os pesquisadores acreditam que, em anos de surto, as grandes quantidades de excrementos (como são chamadas as fezes) favorecem o crescimento de bactérias produtoras de gases de efeito estufa em lagos à custa de algas que removem CO2 da atmosfera.

Sam Woodman, pesquisador da Universidade de Cambridge, acredita que surtos de insetos comedores de folhas podem reduzir o carbono dissolvido na água do lago em quase um terço. Especialmente se as árvores ao redor do lago são, na sua maioria, decíduas — plantas que perdem suas folhas no final de um período de crescimento

O cientista aponta que, do ponto de vista da qualidade da água, insetos podem ser aliados. Mas observando pela ótica do clima, eles são muito ruins. Além disso, ele destaca que modelos climáticos anteriores não costumam levar em consideração a ação das lagartas. Está aí mais um fator a ser observado por pesquisas no futuro.

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