Symbian continua forte nos planos da Nokia para o Brasil

Hoje, em meio ao anúncio da transferência da sede latino-americano da empresa de Miami para São Paulo, o presidente da empresa no Brasil, Almir Narcizo, contou uma história para refletir o argumento pró-Symbian. Ele disse que acabou de chegar de um encontro com varejistas do Nordeste – onde a marca é fortíssima -, e que […]

Hoje, em meio ao anúncio da transferência da sede latino-americano da empresa de Miami para São Paulo, o presidente da empresa no Brasil, Almir Narcizo, contou uma história para refletir o argumento pró-Symbian. Ele disse que acabou de chegar de um encontro com varejistas do Nordeste – onde a marca é fortíssima -, e que a única dúvida deles era “quando que a Nokia vai fazer um celular com dois chips” (serão 3 ainda no primeiro semestre, adiantou Narcizo). Ninguém perguntou sobre Windows Phone. Até porque, a bem da verdade, smartphones ainda não são tão queridos pelos grandes revendedores, justamente pelo preço alto demais. A Nokia revelou que no Brasil o C3 é o grande bestseller e o N8 não está indo exatamente mal. Symbian? Ninguém reclama disso.

Para reforçar o pensamento, Niklas Savander, vice-presidente de mercados da empresa que veio para o País falar com a imprensa, disse que pediu para o pessoal que trabalha nas lojas da marca anotarem quantos potenciais compradores perguntavam sobre o sistema operacional presente nos aparelhos. Menos de 1% se interessou pelo assunto – e estamos falando dos países europeus, onde teoricamente o consumidor é mais educado. Para Savander, a mensagem é clara: a mídia reagiu de maneira muito dura ao decretar a morte do sistema que deu tantas alegrias e frustrações a tanta gente nos últimos anos. Está tudo bem com o Symbian, “vários” novos celulares com o sistema aparecerão em 2011 (o E7, na foto aí embaixo) será lançado aqui no próximo semestre) e o desenvolvimento e suporte continuarão fortes – com muitas melhorias no sistema previstas para este ano ainda.

A ideia da Nokia parece ser tentar diminuir o falatório sobre os vindouros (em um futuro não muito próximo) Windows Phones por ora. “Decidimos mudar de plataforma para o futuro longo prazo. Mas para criarmos, fazer a adaptação para cada país, colocar os componentes… Isso vai tomar vários trimestres. Temos que aproveitar todas as funcionalidades que trazemos de experiência do Symbian, de 110 línguas, customização, mais de 100 operadoras… Os consumidores e parceiros gostam muito. E a Nokia só vai mudar quando essas funcionalidades estiverem na próxima plataforma”, explicou Savander. Ele adiantou que está trabalhando para que o Windows Phone da Nokia venha em diversos sabores e preços – hoje os aparelhos ainda são caros demais, e como a Nokia tem carta branca da Microsoft para mexer no combo hardware+SO, ela acredita que poderá entregar uma variedade androidiana.

Savander fez questão de lembrar que não foi só a notícia da parceria com a Microsoft que foi anunciada em Barcelona, mas também a “estratégia para conectar o próximo bilhão“, que é igualmente importante. “Hoje 80% da população do mundo vive em lugares que possuem conexão de internet, mas só 20% está conectada. Esses 60% são uma oportunidade.” E no Brasil, como mostra o sucesso do C3 e outros quase-smartphones, há uma chance grande de crescimento – o que não passa, necessariamente, pela migração de mais usuários para telefones caros com 3G e tudo. O executivo diz que vai continuar colocando serviços como o Ovi Messaging e outros protocolos com pouco uso de banda nos featurephones.

“Temos que pensar na visão do consumidor, pelos olhos dele. Como alguém decide qual celular vai comprar:  É um negócio bom? Qual a relação de preço e performance? Eu confio na marca? Tem aplicações locais? O operador vai dar subsídio? Todas essas coisas continuaram da mesma forma em 12 de fevereiro [o dia seguinte ao anúncio da Microkia]. Sei que a parceria é importante para a indústria, os jornalistas, a gente. Mas o consumidor ‘não se importa’. E no fim é o consumidor que decide. Não os jornalistas, fabricantes, operadoras”, arrematou Savander.

De certo modo os finlandeses estão certos: temos que botar os pés no chão e ver que o grande público não se importa com a guerra de sistemas operacionais. Se o aparelho tirar foto, mandar SMS e checar de vez em quando o e-mail/redes sociais, tá bom demais para o consumidor padrão do Brasil, que paga em média de 75 a 85 dólares por celular. E os Nokia que fazem isso a um preço decente se dão bem no País – fora do público ultrageek, a marca ainda tem enorme simpatia. Então o discurso por enquanto faz sentido.

Mas ficar tanto tempo fora do mercado de alto nível, reforçar demais a aposta na base da pirâmide de consumidores, pode ser bonito e nobre no discurso, mas é arriscado. A lucratividade da empresa em cada aparelho vendido hoje é pequena e há uma pressão cada vez maior da concorrência chinesa nos aparelhos low-end e de outras marcas no mid-end, em especial a Samsung, que declarou há poucos dias que é a maior vendedora de celulares do Brasil (dado que a Nokia contesta).

A postura da empresa pode ser reconfortante para quem comprou um Symbian recentemente e para os varejistas (“continuem vendendo nossos Symbians, ninguém sabe do que se trata!”). Mas ontem o valor das ações da Nokia negociados na Bolsa de Helsinque atingiram o menor valor em 12 anos. A paciência dos acionistas – e a ignorância do consumidor médio – tem limite. É bom para todo mundo que o “longo prazo” de Savander seja o mais curto possível.

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