Estudo com ratos dá esperança sobre cura de diabetes usando terapia genética

No diabetes tipo 1, o corpo entra em guerra consigo mesmo, com o sistema imune erroneamente tratando as células produtoras de insulina do pâncreas como um invasor nocivo, destruindo as células assim como a capacidade do corpo de regular o açúcar. Normalmente diagnosticada na juventude, ele não tem cura, e os pacientes passam a vida […]

No diabetes tipo 1, o corpo entra em guerra consigo mesmo, com o sistema imune erroneamente tratando as células produtoras de insulina do pâncreas como um invasor nocivo, destruindo as células assim como a capacidade do corpo de regular o açúcar. Normalmente diagnosticada na juventude, ele não tem cura, e os pacientes passam a vida toda tomando injeções de insulina e sofrendo com complicações.

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Um novo estudo publicado nesta quinta-feira (4) no periódico Cell Stem Cell mostra uma visão prévia de como um dia a terapia genética pode ser usada para restaurar permanentemente níveis normais de glicose no sangue em pessoas com diabetes tipo 1.

A insulina é um hormônio produzido no pâncreas pelo que conhecemos como células beta e tem um papel importante no corpo ao promover a absorção de glicose da corrente sanguínea para regular o metabolismo de carboidratos, gorduras e proteínas. Numa pessoa média, essas células beta produtoras de insulina compõem a grande maioria das células nas regiões do pâncreas em que os hormônios são produzidos e então secretadas na corrente sanguínea do corpo. O outro grande tipo de célula aqui é chamada de célula alfa, que produz um hormônio glucagon que aumenta os níveis de glicose no corpo.

No diabetes tipo 1, por razões ainda incertas, o corpo destrói as células beta, mas as alfa sobrevivem. Portanto, pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Pittsburgh e do Hospital Infantil de Pittsburgh buscaram transformar as células alfa em células beta produtoras de insulina em ratos com diabetes tipo 1.

Os cientistas por trás do estudo não esperavam que funcionasse, mas tentaram mesmo assim.

“O diabetes tipo 1 é uma doença autoimune em que o corpo está reagindo às células produtoras de insulina e matando-as, e nós não sabemos exatamente a razão”, disse George Gittes, autor principal do estudo e diretor de pesquisa cirúrgica no Hospital Infantil de Pittsburgh, ao Gizmodo. “Se você desse aos pacientes novas células de insulina com um transplante, isso os mataria. Se usarmos terapia genética para fazer com que o corpo crie novas células produtoras de insulina no corpo, logicamente, isso deveria atacar essas células também.”

Mas não foi isso o que aconteceu. Usando o que é conhecido como vírus adeno-associado, eles enviaram aos pâncreas dos ratos duas proteínas, Pdx1 E MafA, que podiam reprogramar as células alfa, transformando-as em beta. Nas pessoas, isso poderia ser feito por meio de endoscopia, levando um líquido com proteína ao pâncreas por meio de um tubo que o conecta ao intestino. Em ratos com diabetes, isso exigiu cirurgia. Pelo menos inicialmente, funcionou. As células alfa começaram a produzir insulina e restauraram níveis de glicose normais no sangue de ratos diabéticos por cerca de quatro meses.

“Nós não esperávamos que fosse funcionar”, Gittes afirmou. “Foi realmente uma brincadeira.”

Embora por enquanto o conceito tenha sido testado apenas em ratos, ele demonstra o que poderia ser uma importante nova área de exploração na pesquisa em busca de uma cura para o diabetes. Há anos, os cientistas estão interessados em saber se as células alfa podem ser reprogramadas. Esse novo trabalho mostra que a terapia genética pode ser uma abordagem para, de fato, fazer isso.

Alan Attie, cujo laboratório na Universidade do Wisconsin estuda os processos genéticos e bioquímicos por trás da genética, chamou o estudo de um “belo e elegante trabalho”.

“Um avanço animador no campo do diabetes é a descoberta de uma plasticidade extraordinária nas células alfa e beta”, contou ao Gizmodo. “Um trabalho como esse do Gittes Lab demonstra a maneira como essa plasticidade pode ser aproveitada para propósitos terapêuticos.”

Attie disse que também imagina que a abordagem possa ser útil no tratamento do diabetes tipo 2, em que, frequentemente, não existe um número suficiente de células beta para manter normais os níveis de glicose.

Porém, como é frequente na ciência, o trabalho levantou tantas perguntas quanto apresentou respostas. Por que o sistema imune do rato não atacou imediatamente as células betas engendradas? Qual o efeito da transformação das células alfa pancreáticas no longo prazo? E, é claro, como tudo isso funcionaria nas pessoas?

Eric Topol, geneticista do Instituto de Pesquisa Scripps, disse que, embora o trabalho tenha sido “interessante e criativo”, o fato de que quatro meses depois o sistema imune começou a atacar essas células beta sugeriu que essa provavelmente não é uma cura definitiva, levantando questões sobre para quanto tempo esses quatro meses nos ratos se traduziriam em humanos.

Gittes disse ter teorias que começam a responder algumas dessas perguntas. Por exemplo, afirmou que pode ser que a célula alfa retrabalhada ainda não tenha o que tipicamente dispara uma resposta imune mesmo quando é transformada em uma célula beta. E depois de quatro meses, talvez a reação imune tenha sido disparada porque essas células engendradas se “queimaram”, ou, como coloca Gittes, “amadureceram e se transformaram em verdadeiras células beta”.

Seja qual for o caso, ele está otimista.

“Na nossa cabeça, quatro meses é bastante tempo, especialmente em ratos. Esperamos que possa ser décadas nos humanos.”

O laboratório de Gittes já começou a testar o trabalho em macacos. Se funcionar neles, afirmou, testes clínicos poderiam acontecer daqui a até mesmo três anos.

“Vai saber se vai funcionar”, disse. “Mas só tem um jeito de descobrir, e é tentando.”

Imagem do topo: NIH

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