Teste de Audição: o tributo do Gizmodo à tecnologia musical

Uma vez eu li que a música tem mais impacto quanto mais alto você a toca. Em relação a isso, vou contar uma história de um verão quando eu fiquei viciado em equipamentos de áudio de carro extremamente altos.

Uma vez eu li que a música tem mais impacto quanto mais alto você a toca. Em relação a isso, vou contar uma história de um verão quando eu fiquei viciado em equipamentos de áudio de carro extremamente altos.

Eu trabalhava 30 horas semanais durante a faculdade e um pouco mais durante os verões. Eu trabalhava em um help desk no computador em Boston, mas passava boa parte do tempo livre dentro da garagem de um instalador local de som de carro, falando com os caras sobre exatamente qual tipo de equipamento eu deveria instalar. Eles não eram os instaladores mais limpos nem os melhores, pensando agora no passado, mas eles recomendavam uns equipamentos irados.

Dois gigantescos amplificadores Phoenix Gold, me esqueci da designação, pintados de branco com janelas transparentes para visualizar as ICs. Um estava acoplado a sistema de tripla saída para tudo acima do baixo; drivers de 5” na porta e os tweeters e meios nos paineis laterais dos pés, apontados de forma a rebater contra o parabrisas do meu pequeno Acura Integra de merda, rebaixado e marretado antes de eu me livrar dele (ele também era branco).

Os caras do som de carro me deixaram cortar as armações de madeira que permitiriam o encaixe do alto-falante profundo na estrutura estreita da porta. Agora me lembrei dos nomes dos amplificadores. Era um ZX450 e batia 450W por quatro canais, dois para os drivers de meio baixo e dois para os altos/meios. Eu mesmo passei os fios tamanho 8. O outro amplificador era a história mais interessante, um ZX500 que operava em mono por algo – que eu me lembre – em torno de 1000W, com 18” de diâmetro, 9” de profundidade, um JL Audio 18W6 (que foi descontinuado, presumo, porque era insano). O subwoofer foi montado onde teoricamente ficaria o pneu estepe sobre uma espécie de bacia de fibra de vidro feita sob medida, que elevou o solo da minha mala de forma que ela mal comportava uma mochila lá atrás, por cima da grelha do subwoofer e uma prancha MDF de 12mm.

O sistema tocava com uma unidade Eclipse CD sem capacidade para MP3 (isto era 1997 ou algo assim), feita pela Fujitsu, som bem limpo. Possuía um sistema anti-roubo que consistia em um número 0800 que enganava os ladrões, falando para eles ligarem para o número para reativá-lo depois de tentar fazer funcionar algumas vezes, que em vez disto faria brotar a polícia na porta da sua casa caso você estivesse ligando sobre uma unidade roubada.

Na primeira vez que eu liguei, o carro vibrou tão violentamente que o prendedor do retrovisor caiu e eu tive que fechar os meus olhos porque os meus globos oculares estavam coçando em função da vibração. Eu também conseguia sentir o subwoofer puxando e deslocando o ar para dentro e para fora dos meus pulmões.

Eu toquei muito Biggie Smalls com este som e um pouco de Tupac e Mary J Blige quando ninguém estava por perto, e era nojento. Quer dizer, eu não precisava nem tocar a campainha quando eu visitava meus amigos, porque eles já sabiam a um quarteirão de distância que eu estava lá.

Isso mudou para sempre a maneira como eu ouço música, porque eu agora sou definitivamente incapaz de ouvir música com a mesma nuance que eu conseguia antes do som do carro. O carro era tão alto e tão notório no campus que eu fiquei surpreso como ele demorou tanto tempo pra ser roubado. E ele foi roubado.

Eu acabei dormindo no meu sofá com o meu carro pra fora da minha garagem, na rua mesmo, e quando eu acordei para ir pra casa dos meus pais pro Dia de Ação de Graças, ele já era. Eu liguei pra minha mãe pra dizer que eu sentiria muito a falta do jantar e dois dias depois a firma de seguro me assinou um cheque quando o carro apareceu em Newton, Massachusetts, todo depenado. Eu usei a grana pra me mudar pra Califórnia e pra comprar uma moto, que um dia viria a partir a minha perna em três pontos.

De alguma maneira, este post acabou se tornando em um conto sobre como eu era idiota nos meus 20 e poucos anos.

Ontem me ocorreu que, durante uma viagem longa, batucando no meu volante como se fosse uma bateria e no pedal como se fosse um baixo, eu dirijo muito mais rápido enquanto eu ouço música (por mais que agora que eu dirija um utilitário sem graça com um som de fábrica). Não sou um fanático por música, mas quem pode negar quão melhor é a nossa vida quando há música nela?

Música é possivelmente o meio mais poderoso, apesar da sua sutileza às vezes. Talvez o seu poder venha de como ela pode ser desfrutada passivamente enquanto melhoras as coisas nas quais você está focando. Coisas do trabalho, corrida, sexo, sono, patinação, dirigir, ou só passar tempo com amigos. Vídeos, palavras e imagens exigem o seu foco, mas você precisa prestar atenção a estas coisas. Já o áudio e a música vão bem com qualquer coisa. Uma trilha sonora.

Ao longo das últimas décadas, desde o nascimento da gravação, a tecnologia mudou a maneira como nos relacionamos com a música. Mudou de maneira que vai além dos fones de ouvido brancos. Tudo nos últimos vinte anos mudou, desde como descobrimos novas músicas a como nós as compramos (ou roubamos), como nós a transportamos ou trocamos, à própria fidelidade da gravação (que parece não importar muito a ninguém exceto audiófilos – uma casta em extinção).

A única coisa que não mudou é como a música nos faz sentir, independente do volume.

Assim, nesta semana o Gizmodo se dedicará à música e à tecnologia que nos ajuda a desfrutá-la. Diga-nos o que você acha das histórias e se há alguma coisa que deveríamos postar.

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