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Testes rápidos não são precisos para apontar se você já teve coronavírus, mostra análise

Uma nova análise pinta um quadro lamentável sobre o estado dos testes de anticorpos destinados a descobrir se você já teve COVID-19, sugerindo que esses testes têm uma amplitude grande de precisão dependendo da fabricante.

Técnico de laboratório preparando amostras de sangue para testes de anticorpos para COVID-19

Crédito: Gil Cohen/Getty

Uma nova análise pinta um quadro lamentável sobre o estado dos testes de anticorpos destinados a descobrir se você já teve COVID-19. O estudo sugere que esses testes têm uma amplitude grande de precisão dependendo da fabricante, o que significa que aqueles que retornam resultados rápidos talvez nem devessem ser utilizados por enquanto.

Os testes de anticorpos, ou sorológicos, são projetados para procurar os anticorpos específicos que nossos corpos produzem em resposta à infecção causada pelo novo coronavírus. Embora eles não se destinem a diagnosticar uma infecção ativa, eles deveriam idealmente dizer se você já teve o vírus no passado, mesmo que você tenha sido uma pessoa assintomática. A realidade, porém, é mais complicada do que isso.

Os testes de anticorpos para COVID-19 surgiram rapidamente após os primeiros casos em cada país. Muitos dos testes que foram disponibilizados no mercado global foram liberados para uso com pouca validação externa de sua precisão por agências de saúde relevantes.

A Food and Drug Administration (FDA, um órgão americano equivalente à Anvisa), por exemplo, passou a ter maiores restrições sobre a liberação e aprovação destes testes. A agência mantém uma lista daqueles que foram removidos do mercado, mas o cenário ainda parece estar cheio de soluções falíveis.

Nesta nova análise, publicada no BMJ, os pesquisadores analisaram 40 estudos que avaliavam a precisão dos testes de anticorpos para COVID-19 desenvolvidos em todo o mundo. Estes estudos tentaram medir a sensibilidade (quanto maior a porcentagem, menor a chance de um falso negativo) e a especificidade (quanto maior a porcentagem, menor a chance de um falso positivo) destes testes. Eles também reuniram os resultados, agrupando-os pelos tipos de testes estudados. Os estudos foram realizados na China, Estados Unidos, Itália e Japão, entre outros países.

No geral, os estudos em si não eram necessariamente de alta qualidade. Metade não havia passado pela revisão por pares na época, e quase todos foram considerados com um alto risco de viés de alguma forma, tanto na seleção dos pacientes escolhidos para o estudo quanto na forma como os resultados foram interpretados.

O risco de falsos negativos também variou muito entre os testes, com sensibilidade conjunta variando de 66% a mais de 97,8%. O risco de falsos positivos era menos preocupante, com uma especificidade comum variando de 96,6% a 99,7%. Dos tipos de testes estudados, os testes rápidos nos pontos de atendimento foram aqueles que tiveram o pior resultado geral.

Em um cenário onde 10% das pessoas em uma cidade tinham contraído o coronavírus, os pesquisadores estimaram que os testes rápidos teriam uma taxa de 31 falsos positivos em cada 1000 pessoas testadas, além de 34 falsos negativos.

Pode não parecer muito, mas quando se considera que alguns países esperam utilizar estes testes em grande escala como uma forma de declarar as pessoas a salvo do vírus, por meio dos chamados “passaportes de imunidade“, as coisas mudam de proporção.

Os autores escreveram que suas descobertas deveriam “dar uma pausa aos governos que estão contemplando o uso de testes sorológicos – em particular, testes de pontos de atendimento – para emitir “certificados” ou “passaportes” de imunidade”.

Existem outras preocupações sobre o uso de testes de anticorpos como forma de confirmar a imunidade contra o coronavírus. As evidências estão começando a sugerir, por exemplo, que alguns tipos de anticorpos de pessoas que foram infectadas podem enfraquecer dentro de poucos meses, especialmente se eles tiverem sido assintomáticos (isso não significa necessariamente que eles perderão a imunidade, no entanto).

No curto prazo, os autores escrevem, não há justificativa para o uso destes testes rápidos com falhas graves. E geralmente, é necessário um esforço para validar melhor a precisão dos testes de anticorpos antes que eles cheguem ao público.

Os autores concluem que, embora o número de testes disponíveis tão cedo na pandemia seja impressionante, precisamos ter padrões mais altos de aplicação. “Embora a comunidade científica deva ser elogiada pelo ritmo a que novos testes sorológicos foram desenvolvidos, esta análise ressalta a necessidade de estudos clínicos de alta qualidade para avaliar estas ferramentas”, escrevem.

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