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As dúvidas por trás do plano para realizar um transplante de cabeça em humanos

O russo Valery Spiridonov, de 31 anos, se ofereceu para o primeiro transplante de cabeça do mundo, que dois médicos querem realizar no início do próximo ano

O russo Valery Spiridonov, de 31 anos, opera uma empresa de software educacional na própria casa, na pequena cidade de Vladimir. Ele se ofereceu para o primeiro transplante de cabeça do mundo, que dois médicos querem realizar no início do próximo ano.

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Spiridonov sofre de doença de Werdnig-Hoffmann, que o limita a uma cadeira de rodas. A doença é genética e geralmente fatal, “que definha os músculos e mata motoneurônios – células nervosas do cérebro e da medula espinhal que ajudam a mover o corpo.”

O russo vê um transplante de cabeça como sua única esperança. Ele diz à The Atlantic que “remover todas as partes doentes exceto a cabeça seria de grande ajuda no meu caso. Eu não conseguia ver nenhuma outra maneira de me tratar”.

A iniciativa para o procedimento vem do neurocirurgião italiano Dr. Sergio Canavero, que cogita realizar um transplante de cabeça desde 2013. Segundo o Washington Post, ele “se compara com o Dr. Frankenstein, menciona o médico nazista Josef Mengele e escreveu… um guia para seduzir mulheres”.

Em 2015, o Dr. Canavero fez um transplante do tipo em um macaco, que aparentemente permaneceu vivo por 20 horas após a cirurgia – mas isso não foi confirmado.

O Dr. Canavero mostrou um vídeo do transplante de cabeça no macaco para a The Atlantic, que também não pôde verificar quanto tempo ele permaneceu vivo após a cirurgia: o animal “piscou quando alguém cutucou seus olhos com uma pinça… mas fora isso, ele parecia catatônico”.

Há alguns anos, o Dr. Canavero recrutou o cirurgião chinês Xiaoping Ren, que trabalhou na equipe que realizou o primeiro transplante bem-sucedido de mão – ele praticou fazendo cirurgia em um porco, trocando as pernas do animal.

O procedimento seria custoso – entre US$ 10 milhões e US$ 100 milhões – e o Dr. Canavero planeja concorrer a uma bolsa da Fundação MacArthur para financiá-lo. Se não der certo, ele cogita pedir dinheiro a Mark Zuckerberg ou a outro bilionário de tecnologia.

Para Spiridonov receber o transplante de cabeça, a equipe de médicos teria que encontrar um homem com morte cerebral cuja família consentiu com o procedimento. O Dr. Canavero planeja resfriar o corpo e a cabeça, e depois – segundo a CBS News – fazer o seguinte:

Um suporte feito por encomenda seria usado para levar a cabeça de Spiridonov – pendurada por tiras de velcro – até o pescoço do corpo do doador. As duas extremidades da medula espinhal seriam fundidas com um produto químico chamado polietilenoglicol, ou PEG, que promove o crescimento das células que formam a medula espinhal.

Os músculos e sangue do corpo do doador seriam, então, unidos à cabeça de Spiridonov, e ele seria mantido em coma por três a quatro semanas para impedir movimentos enquanto ele curasse. Eletrodos implantados iriam estimular a medula espinhal para reforçar novas ligações nervosas.

Mesmo que o Dr. Canavero tenha testado o procedimento em ratos com sucesso, cientistas e especialistas em ética compreensivelmente não aprovam os planos do médico. Se a cirurgia acontecer, provavelmente não será nos EUA, devido a leis e regulamentos que impedem tais procedimentos não-ortodoxos.

Arthur Caplan, que comanda o departamento de bioética no NYU Langone Medical Center, diz à CBS News que o procedimento do Dr. Canavero “é tanto podre cientificamente como ruim eticamente”. Nita Farahany, diretora de bioética e ciência política na Universidade Duke, se pergunta se alguém pode até mesmo legalmente consentir com um transplante de cabeça. Além disso, se Spiridonov morresse durante o procedimento, Dr. Canavero poderia ser acusado de homicídio.

Há muito a se refletir, e ainda precisamos obter uma prova legítima que o Dr. Canavero é realmente capaz de executar este procedimento. Se ele quer mesmo realizar o transplante no início de 2017, é melhor se apressar.

[The AtlanticCBS NewsWashington Post]

Foto por Jeremy Brooks/Flickr

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