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De dentro para fora: tudo o que você precisa saber sobre controle mental

O termo “controle mental” evoca visões de alguém manipulando as pessoas, alguém malvado, um cientista que realiza lavagens cerebrais, ou um ser sobrenatural com poderes de dominar as pessoas usando apenas o poder da sua mente. Mas como as pessoas não costumam experienciar isso na vida cotidiana, muitos não acreditam em controle mental, e acham […]

O termo “controle mental” evoca visões de alguém manipulando as pessoas, alguém malvado, um cientista que realiza lavagens cerebrais, ou um ser sobrenatural com poderes de dominar as pessoas usando apenas o poder da sua mente. Mas como as pessoas não costumam experienciar isso na vida cotidiana, muitos não acreditam em controle mental, e acham que é apenas fantasia, tema adequado para filmes, jogos e livros.

Eles estão errados. O controle mental existe, ocorre todos os dias e pode estar acontecendo agora mesmo com você.

Mundo dos insetos

De acordo com William G. Eberhard, do Instituto de Pesquisa Tropical do Smithsonian, a “manipulação do comportamento do hospedeiro por parasitas é um fenômeno generalizado.” Mais comum no mundo dos insetos, a mudança de comportamento normalmente é moderada, como controlar quanto e o que é comido, ou fazendo com que o hospedeiro mude de habitat para um que seja mais hospitaleiro para o parasita.

Um exemplo é uma forma juvenil de um certo verme parasita que é engolido por seu hospedeiro, uma formiga. O verme passa a controlar a formiga e força-a a subir até o topo de uma folha de grama todas as noites até ela ser comida por sua hospedeira final, uma ovelha. Dentro da ovelha, ele continua a se desenvolver até chegar ao estágio adulto e se reproduz, seus ovos deixam a ovelha pelo cocô, e o ciclo se repete.

No entanto, alguns parasitas vão bem além disso. Veja a vespa parasita Hymenoepimecis argyraphaga. Seus ovos começam a caçar e manipular a aranha Plesiometa argyra, da Costa Rica, desde a infância.

A vespa fêmea apreende a aranha e se inclina nela, com uma picada que a paralisa temporariamente. Enquanto imóvel, a aranha se submete a ter o ovo grudado em sua barriga. A vespa sai e, logo em seguida, a aranha retoma a sua rotina normal.

Dentro de cerca de uma semana, o ovo choca e uma larva permanece presa ao abdome da aranha; desta vez, no entanto, a larva abre buracos na aranha para poder sugar seu sangue.

Isso continua por cerca de uma semana, até que a larva esteja a ponto de entrar em um casulo, e ela injeta uma substância de controle mental na aranha. A aranha então deixa de construir teias para capturar comida e começa a fazer uma teia para servir como casulo para a larva.

Assim que a teia para o casulo estiver completa, a larva mata e come a aranha. Saciada, ela se move para o centro da teia, constrói seu casulo e emerge como um adulto depois de mais uma semana. Excelente!

Cientistas, ao investigar esse processo parasita, descobriram uma característica interessante: assim que a aranha é injetada, mesmo que a larva seja removida, a aranha continuará construindo uma teia para o casulo.

De maneira parecida, outra vespa, Glyptapanteles, mostra uma maestria maligna ao também deixar ovos na hospedeira, mas, desta vez, podem ser três tipos de lagartas: Chrysodeixis chalcites, Lymantria dispar ou Thyrinteina leucocerae.

Capturada quando jovem, a larva continua por diversos estágios do seu desenvolvimentos com os ovos dentro dela; quando os 80 (oitenta!) ou mais ovos chocam e as larvas fazem seus casulos, a lagarta ainda está viva, mas para de se mexer e se alimentar. Em vez disso, se mantém dentro do casulo, protegendo as larvas ao mover violentamente a sua cabeça para repelir qualquer coisa que se aproxime.

Como parou de se alimentar, a lagarta morre. Cientistas não têm certeza ainda de como a larva da vespa controla a lagarta, mas teorizam que alguns ovos não chocam e continuam nos bastidores manipulando a hospedeira.

No mundo dos mamíferos

Também temos casos de parasitas em mamíferos. A larva não é forte o bastante para controlar uma ovelha, mas parasitas mais potentes conseguem controlar animais maiores do que alguns insetos. O Toxoplasma gondii, um protozoário unicelular, por exemplo, manipula ratos para eles se aproximarem dos gatos que o parasita precisa para completar o ciclo de vida.

Esses protozoários só se reproduzem sexuadamente dentro do intestino de gatos. Os bebês, agora cistos, deixam o gato infectado através das fezes. Assim que estão fora do corpo dos animais, podem ser ingeridos (não propositadamente) por diversos hospedeiros, incluindo seres humanos (o que resulta em uma infecção conhecida como toxoplasmose). Os cistos se desenvolvem nos outros hospedeiros, mas precisam de um gato para completar o destino. Assim, da perspectiva de um Toxoplasma gondii, um rato é um excelente lugar para se hospedar.

Não satisfeito em deixar as coisas ao acaso, os cistos parasitários de alguma forma param parte do mecanismo de medo do rato infectado; uma teoria diz que eles infectam a estrutura cerebral da amígdala que, nos humanos, é a parte do cérebro que tem papel importante para ativar o estado de medo.

De qualquer forma, em vez de ser repelido pelo cheiro da urina do gato, o cisto convence o rato de que ele está atraído por aquele cheiro. Assim, quando ele se move para se aproximar do cheiro, e obviamente do gato, o inevitável acontece, e o ciclo continua.

Mas você pode me perguntar que os cistos podem afetar dramaticamente o cérebro do rato e se isso significa que isso poderia prejudicar o comportamento dos humanos. Alguns cientistas acreditam que “sim”.

Diversos estudos mostram “um aumento da prevalência de toxoplasmose em pacientes esquizofrênicos.” Esta ligação aparente entre infecção e psicose foi apoiada pelos resultados de outro estudo em que foi demonstrado que remédios anti-psicóticos foram eficazes ao curar ratos infectados com toxoplasmose do seu comportamento destrutivo, já que o medicamento matou os cistos.

Além disso, um estudo dinamarquês revelou uma ligação entre infecção de toxoplasma e suicídio. A pesquisa mostra que mulheres infectadas tem 50% a mais de probabilidade de se matarem, e quanto maior a infecção maior a chance de tirar a própria vida.

E não é só isso. Pesquisas recentes analisam como o bioma microbiano que ocorre naturalmente no intestino de humanos saudáveis pode influenciar nosso comportamento. A ciência sabe há anos, por exemplo, que muitos compostos químicos usados pelo cérebro são produzidos por bactérias dentro do estômago humano; de fato, as bactérias intestinais produzem 95% da serotonina do corpo humano, um hormônio e neurotransmissor que acredita-que que regula as emoções e o sono, assim como tem papel importante na depressão, raiva e ansiedade.

Algumas das implicações mais preocupantes do estudo geraram algumas peças interessantes de ficção científica. No livro Vitals, de 2003, Greg Bear desenvolveu a ideia de um corpo humano controlado por bactérias. Na sua história, a bactéria, chamada de “pequenas mães”, controlam o envelhecimento, morte e mente para produzir o melhor possível para a vida bacteriana. Quando as “pequenas mães” são manipuladas pelas forças do mal, o controle mental, de dentro para fora, é atingido.

Talvez isso não seja tão absurdo, especialmente considerando que existem mais de 100 trilhões de micróbios vivos no nosso trato gastro-intestinal, e apenas um de você, composto de cerca de um décimo desse número de células. Para colocar de outra forma, 99% do código genético em você não é humano, e sim microbiano.

Em um artigo recente no New York Times, um cientista descreveu o corpo humano como uma “embarcação elaborada e otimizada para o crescimento e disseminação dos nossos habitantes micróbios.”

Mas não desista, caro humano. A maioria dos cientistas não está convencida que a legião de mochileiros microscópicos mexe com a nossa mente; e mesmo os autores dos estudos citados não têm certeza se a ligação entre infecção e comportamento é uma correlação ou causalidade… ou talvez seja exatamente isso o que os micróbios manipuladores querem que a gente pense…

Se, porém, descobrirmos que os micróbios estão no controle, você ainda pode usar isso em sua vantagem. Da próxima vez que fizer ou disser algo estúpido, jogue a culpa nos seus “pequenos amigos”.

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Melissa escreve para o popular site de fatos interessantes TodayIFoundOut.com. Para assinar a newsletter Daily Knowledge, clique aqui ou curta a página dele no Facebook.

 

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