Descoberta em túmulo revela prática ancestral de polo com burros

Arqueólogos na China desenterraram uma tumba pertencente a uma mulher nobre do século 9 que foi enterrada ao lado de seus burros.
Restos esqueléticos de um burro encontrado no túmulo. Imagem: S. Hu et al., 2020/Antiquity/Gizmodo

Arqueólogos na China desenterraram uma tumba pertencente a uma mulher nobre do século 9 que foi enterrada ao lado de seus burros, que ela provavelmente montou enquanto brincava de uma versão antiga do polo.

Uma nova pesquisa publicada esta semana na Antiquity descreve o túmulo de Cui Shi, uma nobre chinesa imperial que morreu em 878. Seu túmulo foi encontrado há oito anos em Xi’an, na China, e parece ter sido muito saqueado. Felizmente, alguns pedaços de pouco valor foram deixados no túmulo, incluindo um epitáfio de pedra que identificou o túmulo como pertencendo a Cui Shi, esposa de um estimado governador.

Para surpresa dos arqueólogos, esse membro de elite da sociedade foi enterrado ao lado de três burros, o que, segundo os pesquisadores, é a primeira evidência física de polo com burro que remonta a esse período. Os textos da Dinastia Tang (618 a 907 d.C.) descrevem o uso de burros para esse esporte antigo, mas faltavam evidências arqueológicas até agora. O novo artigo foi liderado por Songmei Hu, da Academia de Arqueologia Shaanxi, em Xi’an, China.

(a) e (b) figuras de cerâmica de burro encontradas anteriormente em Xi’an; (c) desenho da Dinastia Tang de burros usados ​​para transporte. Imagem: S. Hu et al., 2020/Antiquity

Os burros eram um recurso crítico nos tempos antigos, permitindo o comércio e o transporte de mercadorias (tanto para o comércio quanto para os militares), além de serem utilizados nas fazendas. Quanto ao seu uso em atividades de entretenimento e lazer, pouco se sabe. A nova pesquisa é importante, pois destaca um papel raro e incomum desempenhado por burros na China Imperial, além de fornecer um vislumbre da vida de mulheres imperiais chinesas de alto status.

Além disso, o uso desses animais como bens funerários indica também um potencial papel espiritual dos burros. Os animais foram enterrados ao lado de Cui Shi “para que eles pudessem acompanhar seu espírito até a vida após a morte”, segundo a nova pesquisa. Para os chineses imperiais, os burros eram muito mais do que apenas animais de carga.

O polo é tradicionalmente jogado com cavalos, e o passatempo remonta à antiga Pérsia (hoje Irã) e ao Império Parta (entre 247 aC e 224 dC), segundo os pesquisadores. O esporte acabou se espalhando para o centro da China e o platô tibetano no século VII.

Xi’an era a capital e um importante centro cultural e econômico da dinastia Tang. Os burros tiveram um papel significativo como animais de carga, mas os cidadãos às vezes os usavam para o esporte de polo com burro, conhecido como Lvju na China Imperial.

“Considerado um esporte de prestígio, e originalmente importante para o treinamento de cavalaria, o polo era praticado com cavalo pelos militares e pela corte de Tang em Xi’an, e era estimado por muitos imperadores Tang”, escreveram os autores. “O jogo, no entanto, era perigoso e ocasionalmente fatal, como atesta a morte do imperador Muzong (reinou em 821–824). O polo de burro, que usava animais menores e mais firmes do que cavalos, tornou-se um esporte alternativo favorito para mulheres da elite e indivíduos mais velhos, bem como para os menos abastados”.

Artefatos encontrados no túmulo: (a) estribo, (b) epitáfio de pedra, (c) e (d) ossos de animais. Imagem: S. Hu et al., 2020/Antiquity

A tumba de Cui Shi era feita de tijolos e apresentava uma entrada, um corredor e uma única câmara funerária. Além do epitáfio de pedra, os arqueólogos encontraram um estribo de chumbo e paredes decoradas com figuras representando servos e músicos. Os restos de quatro bovinos também foram encontrados no túmulo, além dos três esqueletos de burros.

Os textos escritos da época descrevem Cui Shi, que morreu aos 59 anos, e seu marido, Bao Gao, governador de dois distritos e ávido jogador de polo com cavalo. Bao Gao já havia sido promovido pelo imperador uma vez a participar de uma partida importante e até perdeu um olho no jogo, mostrando o quão perigoso o esporte realmente era e por que algumas pessoas optavam por jogar com um burro em vez de cavalos, escreveram os autores no artigo.

A análise mostrou que todos os três burros tinham mais de seis anos quando morreram, o que significa uma idade adequada para o esporte. Além disso, eles eram um pouco subdimensionados em comparação com aqueles usados ​​para transporte. A datação por radiocarbono colocou os animais no mesmo período que Cui Shi. Os burros foram “enterrados ao mesmo tempo que o ocupante da tumba, embora não possamos ter certeza de que os burros foram usados ​​pela própria Cui Shi”, escreveram os autores do estudo, acrescentando que é improvável que os burros tenham sido adicionados à tumba em uma data posterior.

Secções transversais de ossos de burro encontrados no túmulo, especificamente no úmero. Imagem: S. Hu et al., 2020/Antiquity

Os cientistas também mediram a quantidade de estresse biomecânico exercido sobre os ossos dos burros ao longo de suas vidas, ou seja, o eixo do úmero. Os autores levantaram a hipótese de que “se esses burros fossem usados ​​para o polo, a geometria do eixo seria mais parecida com a dos burros selvagens, com locomoção caracterizada por aceleração, desaceleração e curvas, em vez da marcha mais lenta e constante dos burros de carga”.

Os resultados mostraram um padrão consistente com curvas fechadas, incluindo os tipos vistos no polo. Além disso, os padrões eram inconsistentes com os vistos em burros selvagens ou domésticos, incluindo aqueles usados ​​para transportar cargas pesadas. Dito isto, os pesquisadores realmente não tinham nada para comparar suas amostras, já que os burros não são mais usados ​​para polo, então eles alertam que essa parte de sua análise não é totalmente conclusiva.

Ainda assim, dado o conjunto completo de evidências, os autores concluem que Cui Shi usou burros para praticar esportes, não para transporte, e que os animais foram incluídos em seu túmulo para garantir que ela continuasse a jogar polo na vida após a morte.

É sempre bom quando evidências arqueológicas físicas são encontradas para corroborar textos escritos. Dito isto, mais evidências podem reforçar ainda mais algumas das alegações feitas no estudo, como os burros sendo usados ​​para polo e que Cui Shi era uma praticante de pólo com burro.

Ainda assim, a ideia de nobres chineses vestidos de forma sofisticada e sentados em cima de burros enquanto empunham bastões de polo é bem legal.

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