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Só nos EUA teve mais de 3.000 relatos de abuso sexual em corridas da Uber em 2018

Uber divulgou relatório de incidentes de segurança nos EUA; a companhia contabilizou ao todo 3045 relatos de assédio sexual durante corridas.

Adesivo com logotipo da Uber colado em vidro do carro

Alastair Pike/Getty

A segurança dos passageiros sempre foi uma questão para a Uber, e um novo relatório publicado nesta quinta-feira (5) pela própria empresa deu uma noção da extensão do problema, pelo menos nos Estados Unidos.

De acordo com o relatório, que trata de corridas feitas nos EUA entre 2017 e 2018, a Uber recebeu 3.045 relatos de assédio sexual durante caronas, nove mortes e 58 acidentes de carro. A Uber disse que usou uma definição intencionalmente ampla de assédio sexual, que varia de beijos não consensuais de “qualquer parte do corpo” a tentativa de estupro, com a maioria dos incidentes documentados envolvendo o toque indesejado de uma “parte sexual do corpo”, por exemplo, a boca de uma pessoa ou a genitália.

Embora investigações anteriores já tenham esclarecido o quão difundidas são as denúncias de agressão sexual e outros atos violentos envolvendo o serviço, a transparência da Uber marca alguns dos primeiros números oficiais sobre o assunto, já que nenhum departamento de polícia ou órgão do governo atualmente rastreia crimes especificamente relacionados para serviços de compartilhamento de corridas. Concorrentes como o Lyft nos EUA também não compartilham este tipo de incidente.

“Não acreditamos que o sigilo corporativo torne alguém mais seguro”, afirma a Uber no relatório.

Em lembretes divulgados ao longo do estudo, a empresa reitera que esses incidentes representam uma pequena fração do total de 2,3 bilhões de viagens feitas pela Uber nos EUA durante o mesmo período, e das quase 4 milhões de viagens realizadas diariamente usando o serviço, 99,9% terminam sem incidentes de segurança relatados.

Mesmo assim, o diretor jurídico da Uber e uma das principais forças por trás do relatório, Tony West, classificou as descobertas como “difíceis de digerir” em uma entrevista ao New York Times. O CEO da Uber, Dara Khosrowshahi, também expressou seus sentimentos no Twitter pelas vítimas desses milhares de incidentes documentados.

“Meu coração está com todos os sobreviventes desses crimes generalizados. Nosso trabalho nunca chegará ao fim, mas hoje demos um passo importante”, tuitou o CEO da Uber na quinta-feira.

Tradução: Fazer a coisa certa significa contar, confrontar e tomar medidas para acabar com o assédio sexual. Meu coração está com todos os sobreviventes deste crime generalizado. Nosso trabalho nunca chegará ao fim, mas hoje demos um passo importante

E aparentemente as pessoas que solicitam uma corrida não são as únicas em risco. “Os motoristas também são vítimas”, escreveu a empresa em seu relatório. Enquanto 92% das vítimas de estupro relatados eram passageiros, condutores e usuários do serviço reportaram outros tipos de assédio sexual, como beijos e toques indesejados a taxas semelhantes, informou a Uber. E das 19 mortes documentadas durante o período de dois anos, sete vítimas eram motoristas, enquanto oito eram passageiros (a companhia se refere às quatro restantes como “terceiros”, que eram pedestres).

Com este relatório (e uma promessa de continuar divulgando estatísticas a cada dois anos a partir de agora), a Uber parece estar cumprindo a promessa do ano passado de que a empresa está “levando a sério a segurança”. Desde então, a Uber implementou vários novos recursos de segurança, como um botão de emergência no aplicativo que compartilha silenciosamente sua localização e detalhes da viagem com o serviço da polícia, e uma opção para compartilhar suas informações de viagem com terceiros confiáveis para que eles saibam que você chegou com segurança.

Da parte dos motoristas, a empresa implementou um recurso de verificação de identidade que faz com que os motoristas provem com uma selfie que eles são quem diz que são. A empresa também afirma ter triplicado o tamanho de sua equipe de segurança para 300 funcionários desde 2017, o que eu posso assumir que foi parcialmente possível pelas várias rodadas recentes de demissões que reduziu o efetivo de outros departamentos, como marketing e engenharia.

Aparentemente, a Uber também aumentou seus requisitos de triagem para quem tem permissão de dirigir para a empresa. De acordo com a Uber, mais de 40 mil motoristas foram expulsos do serviço após a implementação de um sistema que rastreia continuamente os motoristas em busca de possíveis crimes recentes. As verificações de antecedentes da Uber desqualificam qualquer pessoa com condenação criminal nos últimos sete anos, embora no caso de alguns crimes violentos, como agressão sexual, sequestro e assassinato, não existe esse prazo. Durante o período de dois anos considerado no relatório de segurança, a empresa disse que seu processo de triagem filtrou mais de um milhão de motoristas em potencial que não passaram nas verificações.

Juntamente com o relatório de hoje, a empresa falou de formas de criar uma lista de condutores banidos além de anunciar outras medidas de segurança para 2020. De acordo com a reportagem do New York Times, o diretor jurídico da Uber disse que a empresa planeja compartilhar informações com concorrentes sobre possíveis motoristas perigosos reportados por passageiros, embora não tenha citado detalhes de como isso vai ocorrer.

É certo que o nível de segurança que a Uber oferece ainda é baixo, apesar dos esforços da empresa em melhorar. Afinal, esta é a empresa que implementou uma “taxa de segurança” que, aparentemente, serviu só para melhorar as receitas. Tudo que a Uber precisa fazer é evitar lucrar descaradamente com sua reputação sombria.

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