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Um app promete revelar se houver fraude nas eleições deste ano

Desde 1996, a urna eletrônica é usada em votações. Ela evoluiu bastante desde então, mas sempre esteve cercada por mistérios de segurança. O Tribunal Superior Eleitoral não ajuda: eles não farão um teste público antes das eleições deste ano. O que fazer? Usar um app para fiscalizar o resultado das eleições. Esta é a ideia […]

Desde 1996, a urna eletrônica é usada em votações. Ela evoluiu bastante desde então, mas sempre esteve cercada por mistérios de segurança. O Tribunal Superior Eleitoral não ajuda: eles não farão um teste público antes das eleições deste ano. O que fazer? Usar um app para fiscalizar o resultado das eleições.

Esta é a ideia de Diego Aranha, professor de ciência da computação na Unicamp. E ele já arrecadou mais de R$ 30.000 para tirá-la do papel.

>>> A história e os mistérios de segurança que rondam a urna eletrônica brasileira

Funciona assim: no final da votação, sempre é impresso um Boletim de Urna (BU) com a soma de todos os votos que a seção eleitoral recebeu. Ele é afixado em lugar público – geralmente na porta da seção eleitoral – e inclui apenas a soma de votos que cada candidato recebeu, sem expor os votantes.

O app Você Fiscal, a ser criado por Diego, permitirá tirar uma foto do BU e enviá-la para os servidores dele. A foto será analisada e os números permitirão calcular, por amostragem, qual deve ser o real resultado da votação. Isso é então comparado com os números do TSE, para notar divergências.

Diego diz que o app não exigirá login nem cadastro; as fotos serão publicadas de forma anônima, sem informar quem a enviou.

Vale notar que o app não pede que você tire foto da urna eletrônica: isso seria quebra do sigilo de voto; além disso, é proibido entrar com celulares ou câmeras dentro dos locais da votação. Em vez disso, o Você Fiscal quer que você tire uma foto do BU após o término das votações, e em local público (onde ficará o BU).

O Você Fiscal promete detectar se uma urna for trocada ou adulterada após o fim da votação. Isso é importante: em 2012, um hacker disse que teve acesso ilegal à intranet da Justiça Eleitoral no RJ, e modificou resultados de eleições municipais sem interferir nas urnas – com o app, talvez fosse possível detectar isso.

No entanto, se a urna já estiver com problemas antes das 17h – e portanto imprimir um BU incorreto – não haverá como saber.

O app estará disponível apenas para Android – que domina 90% das vendas de smartphones no país – e deve ser lançado no final de setembro, para ser testado e divulgado. O primeiro turno das eleições será em 5 de outubro.

Segundo o G1, quem não tiver um smartphone Android “pode tirar manualmente as fotos do BU e enviar pelo site do Você Fiscal”.

Diego diz que o design do app está pronto, e sua equipe já começou a desenvolver o software de servidor. O app, no entanto, ainda não existe: para isso, ele pediu R$ 30.000 no Catarse, “o mínimo para tirar o projeto do papel”. Em questão de dias, o projeto superou esta meta.

Para isso funcionar, muita gente tem que usar o Você Fiscal. Por isso, Diego reserva uma parte do orçamento para “material de divulgação e assessoria de imprensa”. Mas isso não é tudo: as pessoas precisam se dispor a ir/voltar à seção eleitoral após às 17h no dia da votação para tirar a foto – o que espero não ser um problema.

A ideia de fiscalizar a urna eletrônica põe em destaque o que pode ser sua maior fragilidade. No Brasil, usamos um sistema de primeira geração, que desmaterializa o voto e o grava em meio digital eletrônico, tornando-o passível de fraude.

Em outros países, a urna imprime o voto, que fica na seção eleitoral e permite uma recontagem. No entanto, o STF julgou em novembro que o voto impresso é inconstitucional no Brasil, por violar o segredo do voto do eleitor.

Para mostrar que a urna eletrônica é segura, o TSE realizou dois Testes Públicos de Segurança até hoje. Diego Aranha – sim, do Você Fiscal – participou do segundo teste em 2012. Normalmente, a urna eletrônica embaralha os votos para dificultar que um hacker consiga descobrir quem votou em cada candidato. Mas, com acesso ao código-fonte, a equipe liderada por Diego conseguiu refazer o sequenciamento dos votos.

No entanto, o TSE diz que o sigilo da urna não foi quebrado, porque a equipe não teria descoberto quem votou em cada candidato. A urna foi, então, considerada segura. O TSE não fará testes públicos este ano, e promete que quaisquer problemas já foram corrigidos. Mas desta vez – se o app ficar pronto a tempo, e funcionar corretamente – nós poderemos ficar de olho. [Você Fiscal via G1]

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