A pílula anticoncepcional disponível hoje no mercado inibe a ovulação, impedindo que o óvulo seja liberado e fecundado. Mas fazer isso com o gameta masculino não é tarefa fácil, já que o processo de produção do espermatozoide pelo corpo humano possui uma complexidade maior.
Por muito tempo, essa diferença impediu que fossem desenvolvidos anticoncepcionais voltados a pessoas do sexo masculino, mas isso pode estar prestes a mudar. Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) apontaram uma proteína capaz de regular a movimentação do espermatozoide, impedindo a fecundação.
Essa proteína recebe o nome de Eppin (sigla em inglês para inibidor de protease epididimária), que controla a capacidade do espermatozoide de nadar até o óvulo. Você já vai entender como ela funciona.
Em primeiro lugar, é preciso saber que o gameta masculino não consegue se locomover até a hora da ejaculação. Ele tem capacidade para isso, mas proteínas presentes no sêmen parecem bloquear a ação da Eppin e, consequentemente, a movimentação do espermatozoide.
É só na hora da ejaculação que as diversas proteínas são quebradas, tornando o sêmen de viscoso para líquido e permitindo que o gameta siga seu caminho sem amarras.
Os cientistas identificaram as proteínas que interagiam com a Eppin, mas faltava saber onde elas “se encaixavam” na célula. Para isso, os pesquisadores aplicaram anticorpos em camundongos para encontrar as chaves de acesso. O estudo completo foi publicado na revista Molecular Human Reproduction.
E lá estava a resposta: os anticorpos responsáveis por inibir a movimentação da célula reprodutiva masculina se ligavam às regiões chamadas “C-terminal Kunitz” e “N-terminal WFDC”. Ter essa informação pode ajudar a indústria farmacêutica a produzir um anticoncepcional voltado ao público do sexo masculino.
Mas o estudo não para por aqui. Agora que os pesquisadores já encontraram a porta de entrada da Eppin, devem seguir estudando o mecanismo por trás da inibição da movimentação do gameta. Ou seja, o que exatamente leva o espermatozoide a se mexer ou não e como fazer isso de maneira programada.
A próxima etapa do estudo terá colaboração de cientistas da Inglaterra, Portugal e da Universidade de São Paulo (USP).