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O fim da picada: vacinas do futuro poderão ser inaladas por spray

Um novo estudo sugere que, daqui alguns anos, os imunizantes poderão ser inalados apenas com uma profunda respiração, dispensando seringas.

Vacinas. Getty Images (Getty Images)

Imagem: Getty Images

Já pensou em vacinas que dispensam injeção com seringa? No que depender de uma pesquisa recente, os imunizantes do futuro poderão ser apenas inalados.

O estudo em questão foi publicado no periódico Med, na última quinta-feira (10). Usando ratos e macacos como cobaias, os resultados preliminares sugerem que as próximas vacinas em desenvolvimento podem ser absorvidas com segurança por meio dos pulmões, e só então levadas para a corrente sanguínea. Os autores do artigo esperam que o trabalho também possa ser usado para criar novas terapias inaláveis ​​para asma e outras doenças respiratórias.

A tecnologia foi desenvolvida por pesquisadores da Universidade Rutgers, em Nova Jersey (EUA), e se baseia no uso de fagos, que são vírus que infectam bactérias. Uma vez que os fagos caçam apenas seus companheiros micróbios, eles não são prejudiciais ao nosso organismo. Na verdade, os fagos têm sido usados ​​há décadas como uma alternativa aos antibióticos por sua capacidade de matar bactérias. E com a descoberta que os antibióticos estão menos eficazes, a terapia por fagos se mostrou uma solução mais eficaz.

Os pesquisadores também estão estudando se esses vírus podem ser transformados em novos tipos de vacinas. Eles podem ser modificados para exibir moléculas de proteínas específicas em sua superfície, enquanto as instruções para fazer essas proteínas podem ser definidas dentro de seus genes, permitindo que sejam altamente personalizáveis. Então, eles podem entrar nas células humanas e distribuir elementos, entre eles um antígeno que treinará o sistema imunológico para reconhecer uma ameaça, como, por exemplo, o coronavírus.

Como os fagos não são prejudiciais às pessoas, eles não se replicam dentro das células como uma infecção real, nem causam outros efeitos tóxicos. Além disso, são fáceis e baratos de produzir em massa, podem sobreviver em ambientes distintos e não precisam de temperaturas extremamente baixas para se manterem viáveis. Aliás, esse é um dos maiores desafios enfrentado por algumas vacinas, incluindo o imunizante desenvolvido pela Pfizer e BioNTech, que precisa ser armazenado em refrigeradores a -70°C.

De acordo com Wadih Arap, autor do estudo e pesquisador de câncer da Rutgers, o imunizante baseado em fago é seguro para inalar e lembra os tradicionais sprays em aerossol. Isso foi possível graças a uma molécula específica que interage com um receptor importante encontrado nas células pulmonares, para depois colocar esse receptor em contato com os fagos. Estes, por sua vez, deslizam pelos pulmões até chegar à corrente sanguínea, onde vão cumprir sua tarefa de imunizar o corpo contra qualquer germe que os cientistas predeterminarem.

Em experimentos com camundongos e primatas não humanos, a vacina conseguiu passar intacta pela barreira da corrente sanguínea do pulmão, embora não parecesse causar nenhuma alteração na função normal dos pulmões. Uma vez lá, o imunizante provocou uma resposta imune do corpo aos fagos e às proteínas que eles carregavam, que é exatamente o que os pesquisadores queriam observar.

Há anos os cientistas vem trabalhando em tentativas para criar uma vacina inalável. Além de ser uma alternativa menos dolorosa do que tomar uma injeção ou borrifar algo para dentro do nariz, a novidade poderia agir mais rapidamente dentro do nosso organismo e sem apresentar tantos efeitos colaterais.

O problema é que ainda existem algumas limitações no desenvolvimento desse tipo de vacina. Por exemplo, não se sabe muito como os pulmões humanos reagiriam ao medicamento, nem quais substâncias seriam transportadas dos pulmões para o resto do corpo. Mesmo que o trabalho dos pesquisadores não seja aplicável para vacinas, é possível que o relatório possa ser usado para aprimorar remédios para asma, fibrose cística e outras doenças respiratórias.

Lembrando que a pesquisa ainda é preliminar. No entanto, a equipe já está trabalhando em testes mais amplos, bem como adaptando a técnica para ser usada contra o SARS-CoV-2, vírus causador do COVID-19.

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