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Novo vazamento de e-mails internos do Facebook revela como a rede pretendia vender dados de usuários

No final de 2018, autoridades inglesas exigiram que um executivo americano entregasse documentos confidenciais de um processo que sua empresa havia aberto contra o Facebook. Os legisladores que obtiveram esses papéis começaram a publicar muitos desses registros, expondo centenas de páginas de e-mails internos do Facebook e revelando o verdadeiro sentimento da companhia com a […]

Mark Zuckerberg em conferência

Getty

No final de 2018, autoridades inglesas exigiram que um executivo americano entregasse documentos confidenciais de um processo que sua empresa havia aberto contra o Facebook. Os legisladores que obtiveram esses papéis começaram a publicar muitos desses registros, expondo centenas de páginas de e-mails internos do Facebook e revelando o verdadeiro sentimento da companhia com a privacidade dos usuários.

Aparentemente, os legisladores não publicaram todos os documentos apreendidos. Na última sexta-feira (22), mais e-mails internos começaram a aparecer na internet. Cerca de 100 novas páginas, incluindo pedidos judiciais e discussões internas de funcionários do Facebook, incluindo o CEO Mark Zuckerberg, foram reveladas pelo Computer Weekly.

Os documentos tinham informações sobre como cobrar desenvolvedores pelo acesso a dados dos usuários do Facebook, como ganhar mais dinheiro gamificando aplicativos, quais eram os parceiros autorizados a acessar dados da rede social e uma brecha emergencial que aparentemente envolvia a conta de Zuckerberg no site.

Embora já tinha sido noticiado que o Facebook considerou vender dados dos usuários, esses e-mails revelam exatamente pelo o quê eles queriam cobrar: personalização instantânea, mostrar quem é amigo de quem e um “coeficiente” – termo usado pelo Facebook para avaliar quais dos seus amigos você mais se importa.

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No final das contas, o Facebook decidiu não prosseguir com a venda de dados dos usuários, pelo menos naquele momento. Em 2012, Mark Zuckerberg escreveu um e-mail dizendo que era melhor oferecer os dados gratuitamente para obter “reciprocidade máxima” dos desenvolvedores, significando que eles teriam que oferecer dados sobre os usuários de volta para o Facebook, embora Zuckerberg tenha dito que a rede social poderia criar um “serviço premium” num momento posterior “para coisas como personalização instantânea e coeficiente”.

Ele também diz que o Facebook poderia começar a cobrar os desenvolvedores que estivessem puxando muitos dados por meio da API da rede social, cobrando de US$ 100 a “US$ 10m” com o objetivo de “controlar custos” e “ganhar dinheiro caso quiséssemos”.

A parte mais interessante sobre esses novos documentos é a forma como eles vieram a público. Desta vez, os papéis apareceram em uma página do Github operada por “Buxton the Red”, também conhecido como Matt Fowler, um programador baseado na Inglaterra.

Os novos documentos foram publicados no Twitter na última sexta-feira por um jornalista investigativo chamado Duncan Campbell. Segundo ele, os documentos fazem parte das “1,5 milhão de páginas” que o Facebook teve que produzir como parte de um processo.

Não está claro como Fowler obteve esses documentos. Por meio de um contato feito pelo Reddit, Fowler confirmou que os novos documentos fazem “parte do material apreendido pelas autoridades do Parlamento do Reino Unido em Novembro de 2018”. Em resposta à mensagem no Reddit, o jornalista entrou em contato por e-mail, copiando Fowler. Ele disse que os documentos mais recentes – “os novos que apareceram nesta semana e outros que podem vir a aparecer” – são vazamentos.

O processo que fez com que esses documentos fossem publicados foi iniciado em 2015 por uma startup chamada Six4Three, que desenvolveu um aplicativo chamado Pikinis. Por US$ 1,99 o app colocava fotos de todos os seus amigos do Facebook vestindo biquinis ou sungas. O Facebook cessou o acesso do app às fotos e, por isso, o processo pedia US$ 100 milhões em indenizações.

“Como os outros documentos que foram escolhidos a dedo e divulgados em violação de uma ordem judicial no ano passado, eles projetam um lado de uma história e omitem um contexto importante”, disse um porta-voz do Facebook, que apontou para um post no blog oficial publicado no Reino Unido quando o Parlamento publicou pela primeira vez uma parte dos papeis apreendidos em dezembro.

“Como dissemos, esses vazamentos seletivos vieram de um processo no qual a Six4Three, criadora de um aplicativo conhecido como Pikinis, esperava forçar o Facebook a compartilhar informações sobre os amigos dos usuários do aplicativo. Estes documentos foram considerados confidenciais por um tribunal da Califórnia, por isso não podemos discuti-los detalhadamente”.

Os documentos divulgados até agora parecem reforçar a alegação da Six4Three de que o Facebook trata desenvolvedores de forma diferente, concedendo graus variados de acesso aos dados dos usuários, um tema que também surgiu em reportagens recentes sobre a empresa.

“Nós usamos nossas políticas contra concorrentes com muito mais vigor”, escreve Zuckerberg em um e-mail. “Para empresas sociais maiores com as quais, de outra forma, poderíamos nos preocupar, desde que elas permitam que seus usuários transfiram todo o conteúdo social de volta para o Facebook, provavelmente estamos bem com elas. No entanto, para empresas como o WeChat, precisamos nos impor mais rapidamente”.

O caso da Six4Tree deve ir a julgamento na Califórnia em abril, e o juiz não está satisfeito com o fato de documentos confidenciais terem sido entregues ao Parlamento do Reino Unido e estarem sendo espalhados pela internet. “O que aconteceu é inconcebível”, disse o juiz em novembro, conforme relatado pelo Guardian. “Isso choca a consciência”.

Embora possa “chocar a consciência”, o vazamento certamente estimula os observadores do Facebook para quem as maquinações da empresa são muitas vezes um mistério.

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