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Nosso Universo pode estar repleto de vírus alienígenas — e deveríamos estar procurando por eles

As pessoas geralmente concordam que algum tipo de micróbio será a primeira forma de vida que descobriremos em outro planeta, lua ou rocha espacial. Mas quase ninguém acha que encontraremos vírus alienígenas, o que é estranho, considerando o quão prolíficas e bem-sucedidas essas entidades biológicas são na Terra. Um novo estudo busca corrigir esse descuido, […]

As pessoas geralmente concordam que algum tipo de micróbio será a primeira forma de vida que descobriremos em outro planeta, lua ou rocha espacial. Mas quase ninguém acha que encontraremos vírus alienígenas, o que é estranho, considerando o quão prolíficas e bem-sucedidas essas entidades biológicas são na Terra. Um novo estudo busca corrigir esse descuido, pedindo a criação de uma disciplina completamente nova conhecida como “astrovirologia”.

Os vírus existem em números enormes na Terra, datando dos primórdios da vida. Existem mais vírus do que qualquer outro organismo celular em nosso planeta — cerca de dez a 100 vezes mais —, então é razoável apostar que existam vírus em outros mundos. Ainda assim, cientistas sabem surpreendentemente pouco sobre esses “sacos de genes” e como eles funcionam, com ainda menos atenção dada à possibilidade de vírus existirem em outros lugares no Sistema Solar e além. De forma problemática, o documento de 2015 Astrobiology Strategy, da NASA, mal menciona os vírus, focando principalmente na busca por micro-organismos alienígenas totalmente celulares.

Um novo estudo, publicado no periódico científico Astrobiology e liderado pelo cientista da Universidade Estadual de Portland Kenneth Stedman, argumenta que estamos perdendo uma oportunidade e que astrobiólogos deveriam explorar a possibilidade de que existam vírus em massa no universo. Com esse objetivo, Stedman propõe a criação do campo da “astrovirologia”, pedindo que cientistas comecem a desenvolver estratégias e ferramentas necessárias para detectar vírus fora de nosso planeta. Ele disse que sua proposta não se trata de subdividir o campo da astrobiologia ainda mais, mas, sim, de uma tentativa de integrar os vírus à astrobiologia “mainstream”.

Muitos de vocês provavelmente estão se perguntando como os vírus são diferenciados de outras formas de vida microbial e por que sequer existe a necessidade de distinguir os dois. Os cientistas têm dificuldades com essa exata questão.

“As definições de vírus são um tanto problemáticas”, Stedman contou ao Gizmodo. “Minha favorita é a que citamos no manuscrito: ‘Vírus são entidades cujos genomas são elementos de ácido nucleico que se replicam dentro de células vivas usando a máquina sintética celular e causando a síntese de elementos especializados que podem transferir o genoma viral para outras células’.”

Stedman reconhece que essa não seja uma definição muito “acessível para o leitor”, oferecendo então essa tradução mais simples: “Os vírus conseguem pegar suas informações genéticas dentro de células e reprogramar as células para criar mais vírus”. Ele os chama de “agentes de transferência de informação” capazes de carregar as instruções para criar mais deles mesmos quando nas condições certas. Stedman afirmou que é verdade que todos os vírus precisam de hospedeiros, “mas gosto de pensar sobre os ‘hospedeiros’ como um ambiente particular — como o solo e a água para uma semente — de que um vírus precisa para se replicar”.

Talvez Stedman deva saber uma ou outra coisa sobre vírus e os tipos de condição de que eles precisam para se replicar. Em 2012, o cientista descobriu um grupo completamente novo de vírus capazes de viver em lagos quentes ácidos (basicamente ácido fervente), uma descoberta que demonstrou as condições extremas sob as quais os vírus podem evoluir, viver e até mesmo prosperar. Nesse caso, o novo genoma viral surgiu depois da combinação de DNA e RNA de dois grupos de vírus aparentemente não relacionados. Então, além de viver no mais duro dos ambientes, os vírus podem também encontrar maneiras de se adaptar continuamente. Consequentemente, Stedman acredita que eles provavelmente estejam envolvidos em grandes transições evolucionárias na Terra.

“Também existem provas indiretas consideráveis de que os vírus são incrivelmente antigos”, disse Stedman, “mas nenhuma evidência direta, então estamos trabalhando na fossilização/preservação de vírus no registro fóssil.”

Portanto, a ideia de que os vírus estão espalhados pelo Universo não é completamente maluca. Claro, eles provavelmente são diferentes daqueles encontrados na Terra, mas, ainda assim, eles seriam vírus. Para reforçar o argumento em defesa da astrovirologia, Stedman está pedindo que a NASA e outras agências espaciais procurem por vírus em amostras líquidas tiradas de planetas e luas em nosso Sistema Solar (umas das boas apostas incluem as luas Encélado e Europa), desenvolvam ferramentas para encontrar vírus em depósitos antigos na Terra e em Marte e descubram se os vírus poderiam sobreviver no espaço.

“Precisamos desenvolver as ferramentas atuais, seja colocando (um microscópio de elétron) em uma espaçonave ou desenvolvendo outras tecnologias microscópicas que possam detectar moléculas, não apenas átomos em uma resolução nanométrica”, afirmou.

Se descobríssemos vírus vivendo em outros cantos do Sistema Solar, Stedman afirmou que não haveria razão para entrar em pânico; e que os vírus provavelmente seriam o primeiro sinal de vida que a NASA encontraria em outros planetas e luas.

“Os vírus têm uma reputação ruim. Se encontrarmos vírus em outros planetas, isso é um indício de vida, não algo para se temer”, disse. “Os vírus são demais!”

[Astrobiology]

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