Vodafone achou acesso escondido em equipamentos da Huawei em 2009

Operadora Vodafone Itália achou backdoors em roteadores domésticos da Huawei, segundo reportagem da Bloomberg. Chinesa diz que corrigiu erros na época.
Getty Images

A operadora Vodafone Itália descobriu backdoors, uma forma secreta de acesso, em roteadores domésticos e softwares da Huawei, segundo uma nova reportagem da Bloomberg News. Estes acessos foram corrigidos, mas as revelações ainda são má notícia para a empresa chinesa, que tenta fechar contratos para construir infraestrutura 5G em várias partes do mundo.

A Vodafone, maior operadora da Europa, primeiro identificou 26 vulnerabilidades em roteadores Huawei em outubro de 2009, com nove sendo descritas como “grandes”, segundo informa a Bloomberg. O problema das backdoors é que elas fornecem a companhias, governos e hackers várias formas de acesso ilícito a dispositivos eletrônicos.

A Huawei negou em outras ocasiões que cria backdoors em seus equipamentos e frequentemente diz que suspeitas sobre a empresa tem relação com uma “atitude perdedora”, pois empresas americanas não conseguem competir em pé de igualdade com ela.

Diz a Bloomberg:

A Vodafone pediu que a Huawei removesse as backdoors em roteadores domésticos em 2011 e recebeu garantias do fornecedor de que os problemas seriam corrigidos. No entanto, testes revelaram que as vulnerabilidades de segurança continuaram, segundo documentos. A Vodafone também identificou backdoors em acessórios em redes fixas conhecidas como nós de serviços ópticos, que são responsáveis por transportar tráfego de internet em fibras ópticas, e outros acessórios chamados de gateways de internet banda larga, que lida com a autenticação de assinantes e acesso à internet, informaram as fontes. Elas pediram para não ser identificadas, pois o assunto é confidencial.

Em um dos detalhes mais curiosos da reportagem, a Vodafone solicitou que uma das backdoors para seu serviço de telnet fosse removido, mas a Huawei se recusou:

A Vodafone disse que a Huawei, então, se recusou a remover completamente a backdoor, citando um requerimento de fábrica. A Huawei disse que precisaria do serviço de telnet para configurar informações do dispositivo e conduzir testes no Wi-Fi e ofereceu para desabilitar o serviço após executar esses passos, segundo o documento.

A relutância da Huawei apenas amplificou as preocupações que estavam circulando até naquela época de que a companhia poderia ser uma ameaça de segurança para os consumidores.

“O que é mais preocupante aqui é que as ações da Huawei em concordar em remover os códigos e depois tentar esconder, e agora se recusar a remover, pois precisam para ‘propósitos de qualidade’”, disse Bryan Littlefair, chefe de segurança da Vodafone, em 2011, segundo documentos obtidos pela Bloomberg.

Em um comunicado enviado à BBC, a Vodafone Itália negou detalhes da reportagem da Bloomberg e informou que os erros reportados para a Huawei foram corrigidos em 2011 e 2012. Além disso, afirmou que o acesso à Telnet não é feito pela internet e que é praxe no mercado acessar remotamente para fazer testes de diagnóstico.

Conforme aponta a Bloomberg, a Huawei é ainda a quarta maior fornecedora da Vodafone e está presente em equipamentos de telecomunicações por toda a Europa.

A Huawei está sob pressão nos EUA e em países que compõem a aliança Five Eyes (grupo composto por EUA, Austrália, Canadá, Nova Zelândia e Reino Unido) pelos seus laços com o governo chinês para monitorar usuários ou mesmo comprometer a segurança nacional. O fundador da Huawei, Ren Zhengfei, tem relações com o Exército Popular de Libertação, o que faz com que as agências norte-americanas se preocupem com o compromisso da Huawei com segurança.

A empresa chinesa já se defendeu repetidamente, insistindo que seu modelo de negócio depende apenas da segurança de seus equipamentos. Mas a companhia também contra-ataca, apontando o dedo para estados-nação, dizendo, por exemplo, que o governo dos EUA espiona os consumidores. Guo Ping, que foi um dos presidentes rotativos da Huawei, chegou até a recordar Edward Snowden em fevereiro para reforçar essa tese.

“A ironia é que o US Cloud Act [lei dos EUA de acesso a dados de países estrangeiros] permite que entidades governamentais tenham acesso a dados além das fronteiras”, disse Guo.

O Departamento de Justiça entrou com um processo contra a Huawei em janeiro por fraude, obstrução de justiça e roubo de segredos da T-Mobile. A empresa chinesa, então, processou o governo dos Estados Unidos em março pelo banimento de produtos da Huawei em agências federais.

Esta nova guerra fria não está impactando apenas a Huawei. A Comissão Federal de Comércios dos EUA recentemente decidiu negar acesso da China Mobile, a maior operadora chinesa do mundo, ao mercado de telefonia móvel dos Estados Unidos. E, se a história continuar assim, as coisas vão ficar ainda mais estranhas antes de serem resolvidas.

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