Como é navegar na “realidade misturada” do Windows 10

Headset de realidade virtual desenvolvido pela Acer traz conceito de interoperabilidade entre serviços da Microsoft

O futuro dos computadores Windows pode em breve ser vestido no seu rosto. Nesta sexta-feira, em um evento especial para a imprensa em Nova York, pudemos testar o primeiro “headset de realidade misturada” do Windows 10, da Acer. O dispositivo é apenas um kit de desenvolvedor por enquanto, mas deverá estar disponível comercialmente até o Natal deste ano.

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Em termos práticos, ele é na verdade um display de realidade virtual pensado para competir com o Oculus Rift e o HTC Vive. Entretanto, a Microsoft está chamando isso de realidade misturada por alguns motivos. Primeiro, o headset da Acer inclui um software de mapeamento 3D diretamente embutido no equipamento, ou seja, ele não exige montagem na parede ou câmeras de infravermelho separadas para rastrear sua posição em um ambiente, diferentemente do HTC Vive e do Oculus Rift. A outra razão pela qual ele está sendo chamado de realidade misturada é porque, em breve, ele poderá interagir com o HoloLens, o headset de realidade aumentada da Microsoft.

De acordo com a Acer e a Microsoft, este é o headset mais leve do mercado, com apenas 350 gramas, e, após colocá-lo em meu rosto, é muito fácil acreditar nisso. Uma das minhas maiores reclamações em relação ao HTC Vive e ao Oculus Rift era que eles pesavam muito, e após algumas horas eles deixavam suas bochechas doloridas, por causa da pressão contra o rosto. As pessoas até cunharam o termo “rosto de Oculus“, porque se tornou um grande problema após uma utilização intensa, por horas, do dispositivo.

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É difícil imaginar esse headset da Acer deixando marcas nas suas bochechas após algumas horas de uso. Ele era super confortável de se vestir, e eu surpreendentemente não tive que ajustá-lo, algo que não posso dizer sobre o Vive ou o Rift.

Você coloca o headset em seu rosto pressionando os óculos para cima, sobre seus olhos, e então dando um “click”na fechadura de uma correia na parte de trás de sua cabeça (algo similar a colocar um capacete de bicicleta). Vale notar que esse headset específico se conecta a um PC com um cabo USB de quatro metros de comprimento. É fácil imaginar o cabo atrapalhando durante sessões mais longas de jogatina, mas durante a curta demonstração isso não foi um problema.

A experiência de realidade misturada do Windows — que já faz parte de todo computador com Windows 10 após a atualização Para Criadores — é lançada em um negócio chamado Cliff House, que essencialmente serve como sua base enquanto você está na realidade virtual (assim como uma tela de área de trabalho do Windows tradicional).

A experiência na Cliff House é de como se você estivesse em um condomínio milionário na praia, com um monte de paredes brancas e um porão. Você pode andar pela casa, se movimentando, de fato, no mundo real, normalmente, ou então você pode usar um controle de Xbox para se mover para diferentes partes da mansão, pressionando botões.

Leva apenas alguns segundos para você se acostumar com os movimentos após colocar o headset pela primeira vez; e, após isso, você pode começar a abrir aplicativos por meio de uma janela de menu rápida controlada pelo controle do Xbox. Quando você abre um aplicativo na Cliff House, ele aparece em uma grande janela virtual que pode ser redimensionada para ser grande como uma tela de cinema ou pequena como uma moldura de foto. As janelas podem ser redimensionadas da mesma maneira como seriam em um desktop normal. É aqui que as coisas começam a ficar meio malucas.

Já que toda a plataforma é baseada no Windows 10 padrão, ela consegue executar qualquer aplicativo Universal Windows Platform (UWP). Isso significa que coisas como o navegador Microsoft Edge, o Excel, o Word, o Outlook e os jogos de Xbox One podem ser executados em uma das janelas da Cliff House.

Começamos o tutorial navegando para os “Meus Documentos”, uma área do sistema operacional familiar para qualquer um que já usou uma máquina com Windows. A pasta estava povoada de vídeos padrão bidimensionais e também em 360 graus. Abrimos um vídeo curto de surf, executado em 2D em uma das paredes dentro da casa. Então, abrimos um vídeo em 360 graus do Machu Picchu, que engoliu completamente meu campo de visão. Quando o vídeo acabou, fui transportada de volta para a Cliff House.

Quando a parte do “Meus Documentos” da demonstração acabou, caminhei até uma parte diferente da casa, navegando com o controle de Xbox, porque eu estava com muita preguiça de me mexer de verdade. Então, vi uma demonstração do navegador Microsoft Edge, exibida em uma das paredes maiores da casa.

Fiquei extremamente cético com a ideia de usar esse navegador gigante para ler um artigo dentro do headset, mas segui o guia do tour da Acer, que estava falando comigo durante o processo. Surpreendentemente, foi muito fácil navegar no site da NASA e começar a rolar pelas histórias usando o controle de Xbox. Ler o artigo também foi muito fácil. Usei o botão direcional esquerdo para me aproximar da janela, assim como faria em um jogo. Pareceu muito natural, e a resolução de 2880 x 1440 do headset foi mais do que suficiente para manter a imagem nítida e fácil de ler.

A questão sobre se algum dia eu vou querer fazer algo assim é algo completamente diferente. É difícil se imaginar abrindo aplicativos normais como o Outlook ou o Microsoft Edge na realidade virtual quando eles já funcionam muito bem em um notebook padrão. Eu sinceramente não vejo uma razão pela qual qualquer pessoa iria querer escrever um email ou mexer com números no Excel enquanto está dentro de uma realidade virtual. A única exceção para isso é o conteúdo em vídeo na internet, como o Netflix, que seria incrível de se assistir em uma tela de 21 metros de largura. Quem é que não quer um cinema próprio em sua casa?

Após essas duas breves (e, sinceramente, meio incomuns) demonstrações, tirei alguns segundos extras para andar pela Cliff House. Notei que, no porão, havia um grande logotipo do Xbox em um cinema privado virtual. Perguntei à equipe da Microsoft após a demonstração sobre como o Xbox funcionaria com o headset, e eles deram duas respostas. Primeiro, você conseguiria fazer transmissão ao vivo de um jogo do Xbox no headset, para que pudesse sentir como se estivesse jogando em seu próprio cinema privado. Segundo, disseram que, um dia, você pode conseguir usar o headset como um acessório para o Xbox, mas os representantes da empresa não revelaram nenhum plano de fato, apenas possibilidades.

Isso tudo volta ao ponto da Microsoft sobre realidade misturada. Se você perguntar a qualquer especialista em tecnologia, eles diriam que isso é, muito obviamente, um headset de realidade virtual. Mas o ponto principal para a narrativa da Microsoft por trás dessa tecnologia é a interoperabilidade. A Microsoft quer que todos seus produtos trabalhem juntos: desktops, notebooks, Xbox e headsets. Tudo é baseado no Windows 10, e essa é muito a ideia por trás dos aplicativos Universal Windows Platform (UWP).

É correto ver tudo isso como uma resposta ao HTC Vive e ao Oculus Rift, no entanto. O headset é quase tão poderoso quanto eles em termos de resolução e taxa de reflexo, e a Microsoft está basicamente oferecendo opções mais baratas que os concorrentes. Os preços de entrada têm sido um grande fator na tomada de decisão das pessoas sobre comprar ou não headsets de realidade virtual. Como a repórter do Gizmodo, Christina Warren, recentemente apontou, menos de dois milhões de headsets de realidade virtual foram vendidos entre as três principais plataformas.

A Acer não revelou qual será o preço de seu headset de realidade misturada, mas a Microsoft disse que seus headsets de terceiros começariam em US$ 300 (cerca de US$ 200 mais barato que o Rift e o Vive). Ela também disse que esses tipos de headsets serão capazes de executar placas de vídeo integradas até o fim do ano, ou seja, você não tem que guardar tanto dinheiro para comprar uma. É definitivamente animador, do ponto de vista de um gamer. Mas ainda é difícil imaginar por que você iria querer rodar uma versão de 21 metros de largura do Excel ou de qualquer outro aplicativo que usamos frequentemente.

Imagem do topo: Carmen Hilbert/ Gizmodo

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