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Zoom vai censurar reuniões com base na localização de usuários

O Zoom aplicará a censura do Partido Comunista Chinês, confirmou a empresa em um comunicado oficial ontem. No início desta semana, depois de ter sido alertada pelo governo chinês, a empresa suspendeu três contas por transmitir memoriais dos protestos na Praça da Paz Celestial, incluindo um de um grupo pró-democracia com sede nos EUA, que […]

Imagem: Kena Betancur/Getty Images

O Zoom aplicará a censura do Partido Comunista Chinês, confirmou a empresa em um comunicado oficial ontem. No início desta semana, depois de ter sido alertada pelo governo chinês, a empresa suspendeu três contas por transmitir memoriais dos protestos na Praça da Paz Celestial, incluindo um de um grupo pró-democracia com sede nos EUA, que fazia transmissões com mães de vítimas de repressão. Os outros dois eram sediados nos EUA e em Hong Kong. O Zoom diz que uma quarta reunião foi autorizada porque não incluía participantes da China continental.

Os memoriais em homenagem aos mortos no massacre da Praça da Paz Celestial são ilegais sob a lei chinesa. Para o Zoom, o erro foi suspender os anfitriões e tornar as reuniões indisponíveis para usuários que não eram da China em vez de bloquear apenas os participantes da China. As contas dos anfitriões foram restabelecidas, e a empresa diz que planeja implementar um novo recurso especificamente para “remover ou bloquear participantes com base na localização geográfica”.

“Isso nos permitirá atender às solicitações das autoridades locais quando elas determinarem que a atividade em nossa plataforma é ilegal dentro de suas fronteiras”, eles escrevem, acrescentando que, “no entanto, também poderemos proteger essas conversas para participantes fora dessas fronteiras onde a atividade é permitida”.

O anfitrião acima mencionado, o grupo pró-democracia Humanitarian China, sediado na Califórnia, informou que a empresa encerrou sua conta dias após sua conferência memorial. Segundo os organizadores, o evento online atraiu 250 participantes de todo o mundo e 4 mil espectadores nas mídias sociais.

Um organizador de Hong Kong, Lee Cheuk-yan, presidente da Aliança de Hong Kong, disse que sua conta também foi suspensa antes que ele pudesse promover um debate sobre a influência do governo chinês além de suas fronteiras, comprovando o assunto da discussão. “A conta foi suspensa antes do início da conversa”, disse Lee à AFP. “Eu perguntei ao Zoom muitas vezes se isso é censura política, mas eles nunca me responderam.”

O Zoom diz que não compartilhou “nenhuma informação dos usuários ou do conteúdo da reunião”. Quando perguntado se chegaria ao ponto de monitorar tópicos de discussão, mesmo aqueles não anunciados pelos organizadores da reunião, a empresa enviou o link para um tweet em que afirma que “o Zoom não monitora proativamente o conteúdo da reunião” e que o Zoom não possui “backdoors” em que “o Zoom ou outros” podem entrar nas reuniões de modo invisível — isto é, se você estiver sendo espionado, pelo menos você saberá. O Zoom ocultou algumas das respostas a esse tweet, naturalmente.

“Estou profundamente preocupado com a segurança dos usuários que moram na China”, disse Zhou Fengsuo, presidente da Humanitarian China e organizador de protestos na Praça da Paz Celestial em 1989. Ele acredita que o Zoom “está recebendo ordens de Pequim”. Ele não tem certeza de onde poderia procurar uma alternativa decente. “Infelizmente, qualquer software comercialmente bem-sucedido estará sujeito às regras do Partido”, disse ele.

Zhou disse que a conferência foi o primeiro memorial da Praça da Paz Celestial que muitos participantes da China puderam ver. Ele compartilhou um trecho emocionante, no qual uma mãe recordou a morte de seu filho, na época no ensino médio, cujo corpo foi encontrado enterrado em uma escola após os protestos. Ela diz que está pedindo ao governo que reconheça formalmente o massacre há décadas e que ela é constantemente vigiada. O vídeo está no YouTube e, portanto, indisponível na China.

O fato de o Zoom admitir abertamente que monitorará a localizações dos usuários durante a reunião é alarmante, para dizer o mínimo. Embora a empresa tenha declarado em um tweet recente que “não fornece informações às autoridades policiais, exceto em circunstâncias como abuso infantil”, é difícil acreditar.

A empresa tem 700 funcionários em escritórios na China, segundo o Citizen Lab. Ela também admitiu que roteava “por engano” chamadas de outros países pelos seus servidores na China. A companhia diz que resolveu o problema em 3 de abril.

Veja o caso do TikTok, que teria prometido várias vezes que não envia dados de usuários para a China e que armazena todos os dados de usuários dos EUA fora do país asiático. A rede social está sendo processado por supostamente enviar dados de usuários americanos para servidores na China.

O Zoom é uma empresa com sede nos EUA (ao contrário do TikTok), mas até o Google quase cedeu para construir um mecanismo de pesquisa completo feito sob medida para o governo chinês. Sem mencionar que a reputação do Zoom no que diz respeito à segurança cibernética já envolve vazamentos e invasores adolescentes com habilidades em mecanismos de pesquisa.

O Zoom também foi criticado recentemente pela forma como enquadra seu relacionamento com as autoridades policiais dos EUA. A posição implícita da empresa é que ela monitora proativamente apenas o abuso infantil, mas o diabo pode estar nos detalhes — o que mais ela vê enquanto procura por isso? Por fim, disse um porta-voz da companhia ao Gizmodo, a empresa tem o dever de cumprir as leis locais nas dezenas de países em que opera.

Em seu post sobre os memoriais da Praça da Paz Celestial, o Zoom diz que espera que “um dia os governos que constroem barreiras para desconectar seu povo do mundo reconheçam que estão agindo contra seus próprios interesses e os direitos de seus cidadãos e de toda a humanidade”. Na sequência, o texto diz que infelizmente esses governos têm leis e que a empresa é forçada a se adaptar a elas à medida que expande seus serviços. Na explicação de “o que houve de errado”, a companhia diz que “poderia” manter as reuniões censuradas em andamento, mas admite que “haveria repercussões significativas”.

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