Mark Zuckerberg acha que você não confia no Facebook porque não entende a rede

Acho que podemos seguramente concordar que o ano passado não foi muito bom para o Facebook. A confiança dos usuários caiu em nível recorde, com a companhia enfrentando uma série de escândalos. A essa altura, há incontáveis razões pelas quais os usuários podem e devem desconfiar do Facebook. Nesta quinta-feira (24), o Wall Street Journal […]
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Acho que podemos seguramente concordar que o ano passado não foi muito bom para o Facebook. A confiança dos usuários caiu em nível recorde, com a companhia enfrentando uma série de escândalos. A essa altura, há incontáveis razões pelas quais os usuários podem e devem desconfiar do Facebook.

Nesta quinta-feira (24), o Wall Street Journal publicou um artigo de opinião escrito por Mark Zuckerberg sobre as práticas de coleta de dados da empresa, intitulado “Fatos sobre o Facebook” — se você quiser, também pode ler a carta em português que foi publicada na Folha de S.Paulo.

Nela, Zuckerberg diz que a empresa tem como prioridade as “pessoas” e insiste — como ele tem feito nos 15 anos de história da companhia — que nós deveríamos confiar nisso. Dá a impressão que a razão principal pela qual os usuários têm pouca fé na capacidade da companhia lidar com dados de forma responsável e ética é devido às suas práticas de venda de anúncio direcionado. Sobre isso, ele escreve: “Este modelo pode parecer opaco, e nós todos não confiamos nos sistemas que não entendemos”. Ele prossegue:

Às vezes, isso significa que as pessoas presumem que fazemos coisas que nós não fazemos. Por exemplo, não vendemos os dados das pessoas, embora frequentemente seja dito que o fazemos. Na verdade, vender as informações das pessoas para anunciantes seria contrário aos nossos interesses, pois reduziria o valor único de nosso serviço para os anunciantes. Temos um grande incentivo para proteger as informações das pessoas de serem acessadas por terceiros.

Então, claro. Vamos começar com os anúncios.

No início do mês, uma pesquisa do Pew Research Center concluiu que os usuários, de fato, não sabem como o Facebook monitora suas informações para exibir propagandas relevantes (das quais a empresa ganha rios de dinheiro). Dentre os quase mil adultos entrevistados para a pesquisa, 74% que usam o Facebook disseram que não têm ideia da seção de “preferências de anúncios”, onde aparecem interesses com base nas atividades. Cinquenta e um por cento dos usuários disseram que não estavam “muito ou nem um pouco confortáveis” com a quantidade de informações que o Facebook tem deles.

Essa pesquisa mostra que a companhia tem muito ainda a fazer no que diz respeito à transparência. Mas dados adicionais mostram que, de fato, quanto mais sabemos sobre como o Facebook funciona, menos confiável a companhia se torna.

Uma pesquisa anual do Ponemon Institute mostra que a confiança dos usuários na gigante de redes sociais caiu significativamente durante o escândalo da Cambridge Analytica, quando se ficou sabendo que o Facebook estava ciente que a empresa de pesquisa tinha obtido dados pessoais de milhões de usuários do site usando um teste de personalidade e não fez nada. Citando a pesquisa em abril, o Financial Times disse que a confiança do usuário, na verdade, estava crescente antes do escândalo, mas a segurança do usuário de que a companhia protegeria suas informações caiu de quase 80% em 2017 para 27% no ano passado. Isso foi só no início do ano, e aí a empresa teve uma série de escândalos.

Em 2018, soubemos que o Facebook compartilhava dados com outras companhias como Bing, da Microsoft, Spotify, Netflix e outras em troca de mais informações dos usuários. Houve também relatos de que a obtenção de dados pela Cambridge Analytica foi pior do que pensávamos; de que o Facebook compartilhava informações de contatos com anunciantes; e que não dava para desligar o recurso de compartilhamento de localização da rede. Isso, óbvio, sem citar o uso da teoria da conspiração envolvendo George Soros para contra-atacar críticos do Facebook, além da forma inapropriada como a empresa lidou com o genocídio em Myanmar e o crescimento do compartilhamento de notícias falsas.

Quanto ao seu post de fim de ano — que ignorou os problemas de imagem do ano passado —, Zuckerberg pareceu otimista sobre o funcionamento de sua companhia. Para ser claro, esse é exatamente o mesmo fundador do Facebook que numa ocasião chamou os usuários de “idiotas” por confiar suas informações sensíveis ao produto dele.

Se os usuários não confiam no Facebook, não é porque eles necessariamente não entendem a rede. É por causa das coisas que a rede faz.

[Wall Street Journal]

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