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Butantan pedirá autorização para testes de sua vacina própria contra Covid-19, a Butanvac

Butanvac usa vírus inativado de gripe aviária como vetor viral para transportar material genético do coronavírus.

Imagem: Governo do Estado de São Paulo via Flickr

O Instituto Butantan desenvolveu uma vacina contra Covid-19 e quer começar os testes de fase 1 e 2 do imunizante. Chamada de Butanvac, a fórmula usa um vetor viral de gripe aviária para entregar o material genético do coronavírus às células e provocar a formação de anticorpos.

As informações são da Folha de S.Paulo e da CNN Brasil. Em suas redes sociais, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), publicou um vídeo com o diretor do Instituto, Dimas Covas, anunciando uma coletiva para 8h desta sexta-feira (26), mas sem mencionar explicitamente a candidata à vacina.

Durante a coletiva, foi anunciado que a solicitação será enviada à Anvisa ainda nesta sexta-feira (26) para que os testes sejam iniciados em abril. No mês de maio, o instituto permite produzir 40 milhões de doses para que a Butanvac possa ser distribuída à população já em julho deste ano.

Apesar da vacina ser prioritária para o Brasil, Covas afirma que a intenção é fornecer doses também para outros países de renda média e baixa. Por enquanto, ainda não há um custo definido para a produção da nova vacina, mas o diretor do Butantan afirmou durante a coletiva de imprensa que a expectativa é que sejam baixos, assim como no caso de outras vacinas que usam a mesma tecnologia.

Dória declarou que até setembro serão distribuídas 30 milhões de doses em São Paulo. “Eu garanto e asseguro que até o final deste ano todos os brasileiros residentes no Estado de São Paulo estarão vacinados.” O governador ainda ressaltou que a Butanvac está sendo desenvolvida exclusivamente com recursos financeiros do Instituto Butantan e do Estado de São Paulo.

De acordo com a Folha, o Instituto Butantan lidera um consórcio internacional, com participação também de Tailândia (onde já estão sendo realizados testes de fase 1) e Vietnã. A entidade ficará responsável por 85% da produção da vacina.

A Butanvac usa o vírus inativado da doença de Newcastle, uma gripe aviária que não afeta humanos, para transportar o material genético responsável pela proteína spike do Sars-CoV-2. É uma técnica parecida com a da vacina da AstraZeneca/Oxford, que usa como vetor um adenovírus que causa gripe em chimpanzés.

A escolha por um vírus que infecta galinha permite criar os vetores dentro de ovos embrionados. Assim, é possível ter uma produção local. A CoronaVac, envasada no Butantan, e a vacina da AstraZeneca/Oxford, envasada pela Fiocruz, dependem da importação do ingrediente farmacêutico ativo (IFA) da China. No fim de janeiro, esse processo foi bastante dificultado por questões burocráticas e diplomáticas.

Outra possível vantagem da Butanvac é que ela será desenvolvida já a partir da variante P.1, também conhecida como variante de Manaus. Essa mutação do coronavírus é potencialmente mais transmissível e mais letal, podendo ser uma das causas da piora da epidemia no Brasil, e há dúvidas sobre sua capacidade de driblar as vacinas existentes bem como de reinfectar quem já teve a doença.

O site do Instituto explica os passos para o desenvolvimento e teste de uma nova vacina. A fase 1 dos ensaios clínicos se destina a avaliar a segurança da fórmula em um grupo de voluntários sadios. Já na fase 2, é testada a capacidade da fórmula para produzir anticorpos, a chamada imunogenicidade, e confirmada a segurança do produto.

O desenvolvimento de vacinas seguras e eficazes contra a Covid-19 se deu em tempo recorde: menos de um ano. No entanto, é bom lembrar que nem todas as tentativas tiveram sucesso. A farmacêutica Merck desistiu de sua fórmula após resultados ruins, e o imunizante desenvolvido pela empresa francesa Sanofi e pela inglesa GSK foi adiada para o fim de 2021. Já a vacina australiana desenvolvida pela Universidade de Queensland teve seus testes interrompidos por causar falsos positivos em exames para HIV.

Por outro lado, o New York Times aponta que há pelo menos 45 candidatas em testes de fase 1 e mais de uma centena em testes pré-clínicos. Segundo a Folha, há pelo menos sete nessa fase preliminar sendo desenvolvidas no Brasil.

Atualizado em 26 de janeiro de 2021, às 11h30, para incluir informações divulgadas durante a coletiva de imprensa. 

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