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Cientistas conseguem ler cérebro de pássaros e decifrar próxima melodia que irão cantar

Conversar apenas por pensamentos é uma tecnologia clichê da ficção científica, mas talvez ela esteja finalmente caminhando para deixar de ser apenas uma aplicação fantasiosa, uma vez que cientistas americanos produziram um experimento que consegue decifrar a canção que um pássaro irá cantar milésimos antes de ele, de fato, cantar. O professor Timothy Gentner e […]

Conversar apenas por pensamentos é uma tecnologia clichê da ficção científica, mas talvez ela esteja finalmente caminhando para deixar de ser apenas uma aplicação fantasiosa, uma vez que cientistas americanos produziram um experimento que consegue decifrar a canção que um pássaro irá cantar milésimos antes de ele, de fato, cantar.

O professor Timothy Gentner e seus estudantes da Universidade da Califórnia em San Diego desenvolveram uma interface cérebro-para-canção de pássaros. Eles testaram o método com o pássaro mandarim. “Decodificamos uma versão sintética da melodia do pássaro da atividade neural”, disse o cientista em um comunicado publicado no bioRxiv.

Apesar do cérebro pequeno, a vocalização dos pássaros passeriformes é similar ao discurso humano, fazendo desta espécie a favorita por cientistas para estudar memória e cognição. As canções destes pássaros também são complexas e podem ser aprendidas, assim como a língua humana – o mandarim, por exemplo, aprende a cantar com pássaros mais velhos, da mesma forma que seres humanos aprendem a falar com humanos mais velhos.

A equipe usou eletrodos de silicone em pássaros acordados para medir a atividade elétrica dos neurônios na parte do cérebro que controla os motores sensoriais, onde comandos que produzem a melodia aprendida se originam. Com isso, os cientistas alimentaram uma rede neural com o padrão cerebral identificado pelo programa e a canção resultante, com inícios e paradas da melodia e as mudanças de frequência. A proposta era fazer com que o programa aprendesse a identificar e corresponder uma melodia original com sua versão sintética, com o que a equipe chama de “mapas espectrais neurais para melodias”.

Com isto, a equipe de Gentner pode decifrar canções de pássaros sintéticas diretamente da atividade neural cerca de 30 milissegundos antes do próprio animal. Confira abaixo a canção original e a versão sintética decifrada pela interface cerebral:

https://gizmodo.uol.com.br/wp-content/blogs.dir/8/files/2017/10/cancao_mandarim_normal.mp3?_=1

Canção do pássaro Mandarim original.

https://gizmodo.uol.com.br/wp-content/blogs.dir/8/files/2017/10/cancao_mandarim_sintetica.mp3?_=2

Canção do pássaro Mandarim sintética, decifrada milésimos de segundos antes do próprio pássaro.

A equipe, que chama este primeiro protótipo de “um decodificador de sinais de comunicação natural complexa da atividade neural”, vê o projeto como o início de interfaces que poderão interpretar pensamentos humanos.

Isso, no entanto, ainda é uma ideia distante. Interfaces do cérebro atuais identificam como uma pessoa imagina os movimentos dos braços, por exemplo, e isso se aplica na movimentação de robôs. Desta forma, um capacete neural que pode identificar o que você está pensando ainda é algo distante da nossa realidade – mas não é algo complemente impossível.

Como aponta o MIT Technology Review, Elon Musk anunciou a própria empresa de interfaces cerebrais, a Neuralink, em abril (cujos primeiros contratados foram especialistas em pássaros), e Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, já declarou que “interfaces diretas do cérebro permitirão, eventualmente, nos comunicarmos apenas com a nossa mente”. Atualmente, a rede social mantém cerca de 60 engenheiros pesquisando tecnologias da área e espera um dia que seus usuários digitem mais de 100 palavras por minuto diretamente do cérebro.

Imagem de topo: pássaros mandarim (Jim Bendon/Flickr)

[bioRxiv via MIT Technology Review]

 

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