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Facebook vai desativar propaganda política somente após as eleições dos EUA

A suspensão temporária de todos os anúncios focados em questões políticas é parte de um esforço para reduzir confusões e abusos na plataforma.

Presidente dos EUA, Donald Trump .Crédito: Alex Wong/Getty Images

Getty Images

O Facebook desativará temporariamente todos os anúncios focados em questões políticas e sociais após o encerramento das votações no dia da eleição presidencial norte-americana, como parte de um esforço para “reduzir as oportunidades de confusão ou abuso”, disse a empresa na quarta-feira (7).

Guy Rosen, vice-presidente de gerenciamento de produtos do Facebook, disse que a empresa está se preparando para o que pode ser uma das contagens eleitorais mais exaustivas desde pelo menos 2000. “Já sabemos há muito tempo que as eleições de 2020 nos EUA seriam diferentes de qualquer outra. Estamos nos preparando para esta eleição com um conjunto único de produtos e políticas”, disse ele.

“Conseguir os resultados finais das eleições este ano pode demorar mais do que as eleições anteriores devido à pandemia e mais pessoas votando pelo correio”, acrescentou Rosen. “Portanto, estamos preparando uma série de políticas e produtos para manter as pessoas informadas e evitar a disseminação de informações incorretas”.

Os anunciantes serão notificados, disse o Facebook, quando a plataforma decidir suspender as restrições.

A pandemia de Covid-19 levou a um grande aumento da votação por correio. Cerca de de 5,6 milhões de norte-americanos já votaram, de acordo com o US Elections Project; isso é quase mais de meio milhão em relação a esse mesmo período em 2016.

O volume sem precedentes de votos enviados pelo correio significa que o tempo extra gasto em contagens pode desempenhar um papel desproporcional no resultado final. E enquanto muitos políticos estão trabalhando para desencorajar os eleitores a forcarem nos chamados “cenários do Juízo Final”, outros sugerem que eles deveriam estar se preparando mentalmente para uma noite eleitoral que se tornaria um “mês eleitoral”.

O Facebook tem enfrentado uma tempestade de críticas sobre como está lidando com a eleição até agora; em particular, a decisão de permitir anúncios que enganem deliberadamente os eleitores. Em junho, a empresa anunciou que, como seu concorrente Twitter, começaria a rotular postagens de políticos que violassem suas regras. Até agora, o Facebook colocou avisos sobre cerca de 150 milhões de peças de conteúdo, diz a empresa, e direcionou aproximadamente 39 milhões de usuários para seu Centro de Informação para Votação, uma página que oferece notícias e informações selecionadas.

O Facebook também disse que removeu cerca de 6,5 bilhões de contas falsas. Os maiores provocadores, entretanto, provavelmente não virão de Pequim ou Moscou, mas de Washington DC, e não está claro qual será o impacto, se houver, da proibição de anúncios após a eleição. A página pessoal de Trump, por exemplo, acumulou cerca de 30 milhões de seguidores e ele pode compartilhar suas ideias diretamente com esses usuários sem gastar um centavo.

“Desde 2016, construímos um sistema avançado que combina pessoas e tecnologia para revisar os bilhões de peças de conteúdo que são postadas em nossa plataforma todos os dias”, disse Rosen. “Os sistemas de IA de última geração sinalizam conteúdos que podem violar nossas políticas, os usuários denunciam o conteúdo que acreditam ser questionável e nossas próprias equipes revisam o conteúdo”.

Rosen acrescentou: “Também estamos construindo um sistema paralelo de revisão de conteúdo viral para sinalizar postagens que podem estar se tornando virais – não importa o tipo de conteúdo – como uma rede de segurança adicional. Isso nos ajuda a identificar conteúdos que nossos sistemas tradicionais podem não pegar”.

A resposta do Facebook às postagens enganosas de Trump tem sido fraca, na melhor das hipóteses.

No mês passado, Trump disse aos apoiadores que já haviam votado pelo correio que comparecessem aos locais de votação e tentassem votar novamente se não conseguissem confirmar se sua cédula foi contada. O problema é que na maioria dos estados, os funcionários não começarão a contagem dos votos por correio até depois das urnas estarem fechadas. (Isso geralmente faz parte da lei.) Em 28 estados, votar duas vezes é um crime, o que significa que seguir o conselho de Trump ao pé da letra pode levar alguns eleitores a infringir a lei.

O Facebook não retirou a postagem, mas adicionou um rótulo que diz: “O voto por correio tem uma longa história de confiabilidade nos EUA e o mesmo está previsto para este ano”.

Trump afirmou repetidamente que as fraudes em votos pelo correio têm aumentado, o que é uma mentira. Não há nenhuma evidência que sugira que qualquer tipo de fraude eleitoral tenha ocorrido na política moderna dos Estados Unidos. Todas as formas de fraude eleitoral são raras, como disse o diretor do FBI Chris Wray ao Senado no mês passado. “Não vimos, historicamente, qualquer tipo de esforço coordenado de fraude eleitoral em uma grande eleição, seja por correio ou de outra forma”, disse ele.

Uma análise recente do Washington Post de dados coletados de três estados com votação por correio – Colorado, Oregon e Washington – descobriu que apenas 0,0025% dos votos foram marcadas para investigação.

Trump também disse repetidamente a seus apoiadores que a “única maneira” de ele perder “é se esta eleição for fraudada”. Se a noite da eleição terminar com um suspense e Trump começar a acusar sem fundamentos os democratas de tentar fraudar a eleição – o que ele já fez preventivamente – não há como prever precisamente quais podem ser as ramificações.

Por sua vez, o Facebook afirma que não apenas rotulará quaisquer declarações prematuras de vitória dos candidatos, mas incluirá “informações específicas…de que a contagem ainda está em andamento e nenhum vencedor foi determinado”. Mas a grande questão é em quem os eleitores têm mais probabilidade de acreditar: no Facebook ou no candidato que eles estão tão desesperados para ver triunfante?

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