8 tecnologias que farão das Olimpíadas de Tóquio as mais futuristas que já vimos
Em 1964, na última vez que Tóquio foi sede dos Jogos Olímpicos de Verão, o Japão revelou uma das suas maiores contribuições para a história dos transportes: foi a estreia do shinkansen, o famoso trem-bala que se tornou um ícone japonês. O primeiro trem de alta velocidade do mundo abriu caminho para que tecnologias parecidas se espalhassem pela Europa e outros países asiáticos, pavimentando o caminho para os atuais trens maglev e até mesmo o Hyperloop.
Algumas nações gostam de introduzir tecnologias revolucionárias ao mundo durante os Jogos Olímpicos. E a edição de 2020 em Tóquio será incrível nesse sentido.
Tóquio é uma das cidades mais futuristas, complexas e sofisticadas do planeta. Ela tem a estação de trem mais movimentada do mundo (pela estação Shinjuku passam 3,64 milhões de pessoas por dia). Ela tem a segunda maior quantidade de empresas da Fortune 500 no mundo, a torre mais alta do mundo, e também o sistema de transporte urbano mais movimentado do mundo.
Tecnologias emergentes no Japão vão mudar a forma como viveremos as Olimpíadas de 2020, e talvez mudem até mesmo o mundo.
Tóquio, a maior metrópole do mundo. Imagem: Wikicommons.
1. Uma vila de robôs
O Japão é uma das nações mais automatizadas do planeta. A grande indústria de robótica dos EUA, China, Coreia, Alemanha, França e outros países trabalha – e compete – com os construtores de robôs do Japão. Então, claro, veremos um exército de robôs dominando o país durante o evento – o suficiente para povoar uma pequena vila.
Segundo o Asahi Shimbun, um comitê do governo está lançando um programa de instalação de robôs por toda a cidade, em “uma iniciativa em direção a uma ‘sociedade universal futura’ na qual robôs e tecnologias da informação dão assistência a humanos independentemente da idade, nacionalidade ou deficiências”.
Essa “vila de robôs” ficará no bairro Odaiba, em Tóquio, que também será o local que receberá a Vila Olímpica (e atualmente é lar de uma estátua de 20 metros de Gundam). Mas esses não serão os únicos robôs na capital japonesa durante os Jogos.
Eis a ideia: muitos dos 920.000 estrangeiros que devem passar diariamente por Tóquio durante as Olimpíadas podem chamar um dos robôs para ajudar com tradução de idioma, direções, ou transporte – e o transporte em si pode ser robótico, com carros autônomos.
De hotéis a lojas, e até mesmo no Aeroporto Internacional Haneda de Tóquio, robôs vão coexistir com os milhões de humanos que estiverem carregando bagagens, fazendo check-in no quarto de hotel, ou saindo para passear por Tóquio.
Uma estátua do robô Gundam em Tóquio. Ela fica no mesmo bairro em que será construída a Vila Olímpica, e que o governo local quer povoar com robôs. Crédito: AP
2. Tradução instantânea
O nível de inglês dos japoneses, se comparado a outros países desenvolvidos do mundo, é baixo. E mesmo que a quantidade de estrangeiros que estejam aprendendo japonês tenha aumentado bastante na década passada, ainda há grandes barreiras culturais e de linguagem para atrapalhar a vida de turistas no país. E é por isso que o Japão prepara uma tecnologia de ponta de tradução instantânea para 2020.
O Instituto Nacional de Tecnologia da Informação e Comunicações do Japão, bancado pelo governo local, oferece o VoiceTra, um app de tradução em tempo real que conta com 27 idiomas diferentes para tradução de texto, incluindo as línguas Urdu e Dzonghka.
A tradução de voz consegue entender 90% do que é dito. Ele cobre inglês, japonês, coreano e chinês por enquanto, mas até dez novos idiomas devem ser incluídos até 2020. O software estará disponível para computadores e smartphones, e também em pontos turísticos da cidade como marcos históricos, shopping centers, além de hospitais.
Enquanto isso, no setor privado, a Panasonic está fazendo um gadget para ser usado ao redor do pescoço que traduz o japonês para mais de 10 idiomas diferentes para os milhares de visitantes que chegarem à metrópole. A gigante dos eletrônicos também planeja oferecer um app de smartphone a visitantes que verifica placas japonesas e as traduz instantaneamente. (É algo semelhante ao Google Tradutor para Android e iOS, ou ao Bing Tradutor para Windows.) Esses serviços não são só úteis em grandes eventos esportivos mundiais – eles são úteis em qualquer lugar do mundo.
Pequenos dispositivos de empresas como a Panasonic podem ajudar em tradução instantânea. (Youtube)
3. Táxis autônomos
A DeNA, uma gigante japonesa de jogos, tem planos para o desenvolvimento do Robot Taxi, um táxi autônomo que deve se dirigir sozinho pelas ruas de Tóquio até os Jogos Olímpicos de 2020. Será uma tarefa difícil, considerando que grandes nomes da tecnologia – Google, Apple, Uber – além de montadoras como BMW, Toyota e Mercedes também correm para ser o primeiro a colocar um carro autônomo funcional nas ruas.
Mas Tóquio é a maior e mais densa cidade do planeta: 13 milhões de humanos, cerca de 12.000 pessoas por metro quadrado. Além disso, são esperados cerca de 920.000 turistas por dia durante os Jogos Olímpicos. Se o Japão conseguir colocar os táxis autônomos nas ruas até lá, será um baita teste para a tecnologia.
A empresa japonesa DeNA e a ZMP apresentaram o Robot Taxi, um táxi autônomo.
4. Transmissão de TV em 8K
A TV estatal japonesa NHK planeja transmitir os Jogos Olímpicos em definição 8K. Assim como quando a TV colorida começou a se espalhar pelo mundo a partir dos anos 60, o Japão espera conseguir fazer essa nova resolução com imagens ultranítidas se tornar o padrão para telas não só dentro do país, como no mundo inteiro.
A tecnologia criada no Japão, segundo o Japan Times, oferece resolução de tela de nova geração: 7680×4320, ou 16 vezes mais pixels do que o HD atual. A NHK está na vanguarda mundial do desenvolvimento 8K, começando as pesquisas na área em 1995. Se alguém quer trazer o 8K ao mundo, definitivamente será o Japão, e eles vão mostrar do que são capazes durante a Olimpíada.
Em outubro, a japonesa Sharp vai começar a vender TVs 8K – custando a partir de US$ 130.000. Está claro que esses displays 8K de 85 polegadas não foram feitos pensando em consumidores médios – por enquanto. Até 2020, a NHK quer que essas TVs estejam nas casas dos consumidores. Talvez a demanda aumente quando os espectadores começarem a ver esportes nessa resolução.
TVs 8K sendo demonstradas em Tóquio.
5. Algas como fonte de combustível
Há benefícios de se usar algas como fonte de combustível para jatos e ônibus, e o Japão em particular está de olho nisso como uma atraente fonte alternativa de energia para a região de Fukushima. Grandes nomes globais como a Boeing estão dando apoio ao projeto, o que pode gerar uma grande comercialização dessa fonte ao redor do mundo.
As algas têm um potencial imenso como fonte alternativa de energia. Elas sugam dióxido de carbono e convertem em energia. São preferíveis em relação a outras fontes de energia verde que crescem na terra, como o óleo feito a partir do milho, por conseguir produzir 60 vezes mais óleo por acre e por serem relativamente simples de cultivar. Além disso, se você colocar algas próximas a instalações que cospem carbono, as algas conseguem diminuir o nível das emissões nas imediações, ao mesmo tempo que converte isso em energia usável.
O problema é que as algas são caras – um litro do material das algas custa cerca de US$ 2,50, e ele precisa estar na faixa dos US$ 0,80 para ser uma alternativa viável.
Mas a Boeing quer ajudar o Japão a levar turistas para a ilha em jatos movidos a algas. Como parte de um consórcio com mais de 40 organizações, incluindo a Universidade de Tóquio, o governo japonês, a Japan Airlines e a All Nippon Airways, a Boeing quer oferecer aeronaves movidas a alga para essas grandes companhias aéreas japonesas ofereceram voos verdes aos milhões de turistas que devem visitar o país em 2020. O que é bom, já que as algas conseguem cortar as emissões de dióxido de carbono em até 70%, em comparação com combustíveis petrolíferos.
Se eles conseguirem provar que as algas podem ser eficientes em custo, eficazes e úteis em grandes escalas como as Olimpíadas, então pode ser que o futuro dos voos internacionais seja um pouco mais verde.
Companhias aéreas japonesas esperam colocar no ar aviões movidos a algas.
6. Prédios e ônibus movidos a hidrogênio
Falando em energia, o Japão está se preparando para usar o elemento mais abundante no universo: o hidrogênio.
De acordo com o Wall Street Journal, o governo de Tóquio planeja investir 40 bilhões de ienes (US$ 330 milhões) nos próximos cinco anos para melhorar o uso da energia de hidrogênio e assim fazer do Japão uma “Sociedade de Hidrogênio”. Quando o gás se mistura com o oxigênio em uma célula de combustível, ele é capaz de produzir uma energia sem escape, assim como uma lata de água.
O plano é fazer toda a Vila Olímpica ser alimentada por hidrogênio, junto a 100 ônibus movidos a gás hidrogênio, além de ser a principal fonte de energia para área de imprensa e quartos de atletas. O governo também quer 6.000 carros movidos a hidrogênio nas ruas, segundo o AutoBlog, com 100.000 nas ruas até 2025. Um enorme gasoduto será construído debaixo da terra para transferir o hidrogênio diretamente até a Vila Olímpica. Isso também faz parte do projeto japonês de buscar fontes não-nucleares de energia após o desastre de Fukushima.
Células de combustível estão ficando populares em partes do mundo, e o uso delas em Tóquio 2020 poderia ser reproduzido em outros lugares, contanto que governos priorizem isso. Para promover uma melhor qualidade do ar, o governo municipal de Tóquio vai gastar US$ 384 milhões subsidiando a compra de novos veículos Toyota com células de combustível.
Um carro da Toyota movido a hidrogênio. (AP)
7. Show de meteoros artificiais
Uma startup japonesa de astronomia chamada ALE quer criar uma chuva de meteoros artificiais no céu, o que geraria a mais impressionante cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos.
A ALE foi lançada por Lena Okajima, uma professora de astronomia. A ideia é bem simples. A equipe está trabalhando com universidades japonesas para criar um microssatélite cúbico que será lançado no espaço, e, no primeiro projeto do tipo no mundo, soltará pequenas esferas feitas de um material secreto. O atrito com o ar vai fazer elas brilharem enquanto viajam a 8 km/s.
O Space.com diz que não é preciso se preocupar com lixo espacial, já que as estrelas falsas queimam completamente quando voltarem, assim como acontece com projéteis espaciais.
Okajima diz que eles guardam com segurança o composto químico que fará as esferas brilharem a ponto de serem visíveis mesmo em centros urbanos poluídos e iluminados. Ela quer que eles imitem o padrão raro na natureza das chuvas de asteroides.
A startup de astronomia japonesa ALE quer criar um show de meteoros artificiais.
Okajima diz que vai continuar trabalhando com cientistas e engenheiros das principais universidades japonesas para conseguir transformar o show em realidade. As esferas podem ter cores diferentes para um show mais impressionante. Parece que vai valer os US$ 4 milhões estimados. Também é uma ferramenta valiosa de estudo: como chuvas reais de meteoros são imprevisíveis e não podem ser controladas, esse sistema pode permitir que cientistas estudem o movimento e temperatura de projéteis enquanto eles voam pela atmosfera da Terra.
8. Mais trens maglev
O Japão presenteou a humanidade com os trens bala há 50 anos, e agora eles estão em busca de algo melhor: a levitação magnética. Alguns países já estão mais avançados na área – a China opera maglevs em Shanghai há 11 anos. O Japão quer levar o maglev a Tóquio até 2020. A JR Central, a empresa ferroviária que supervisiona os trens maglev japoneses, espera que o trem esteja pronto a tempo dos jogos de 2020 em Tóquio, e que chegue a Osaka até 2045.
No começo do ano, o Japão quebrou um recorde de velocidade com seus maglev atingindo 590 km/h. O país ainda aguarda o desenvolvimento do sistema maglev (os trens ainda não recebem passageiros), assim como observa a expansão para outros países como os EUA, inclusive financiando metade da construção do maglev que ligará Boston à Washington DC.
O Japão quer expandir sua rede Maglev até 2020.
Tecnologias experimentais e emergentes sempre são difíceis de se levar ao mercado. Coloque na mistura o pesadelo logístico que são os Jogos Olímpicos, e temos muitos motivos para nos mantermos céticos em relação à disponibilidade e funcionalidade dessas inovações até 2020.
As Olimpíadas do Japão enfrentam alguns problemas complicados, como um estádio bilionário abandonado e uma acusação de plágio em seu logo oficial. Para um país conhecido pelo perfeccionismo e atenção aos detalhes, essas duas falhas públicas constrangedoras podem dar uma esfriada nos planos para 2020.
Mas ainda assim, em muitos momentos na história das Olimpíadas, vimos o país-sede lançar uma nova tecnologia que transformou o mundo. Nos jogos de 1912 em Estocolmo, relógios eletrônicos foram usados em grande escala para medir a performance de atletas. O imenso público do evento também levou ao desenvolvimento do primeiro sistema de anúncio de som do mundo.
Os jogos de 1936 em Berlim se aproveitaram do desenvolvimento da tecnologia de câmera e televisão, fazendo deste o grande evento esportivo a ser transmitido na TV. Em 2008, em Pequim, um supercomputador da IBM ajudou a prever a poluição e o clima. E, recentemente, a IBM anunciou planos para continuar usando inteligência artificial para mapear tendências de poluição na atmosfera de Pequim e de outros lugares.
Considerando o status de Tóquio como um hub tecnológico, podemos ver algumas das mais impressionantes engenharias e tecnologias durante as Olimpíadas. Se robôs prestarem um bom serviço durante a Tóquio Olímpica – um labirinto urbano com milhões de pessoas na maior festa da humanidade – então eles estão prontos para qualquer coisa.
Primeira foto por Moyan Brenn/Flickr