Google Fotos vai mudar o armazenamento de fotos assim como o Gmail mudou o e-mail
Eu tenho mais de 300 GB de fotos e vídeos espalhados por alguns HDs. Nunca dou uma olhada nelas. Nunca tive tempo para organizá-las. Elas só ficam guardadas por lá. O novo Google Fotos diz que pode arrumar isso. É como o Gmail para suas fotos, sussurra a empresa.
E quer saber? Desta vez o Google está certo. Assim como fez com o Gmail em 2004, o Google Fotos vai transformar o armazenamento de fotos. Assim como o Gmail, ele é tão bom que eu não ligo de pagar o preço que for necessário para isso.
O Google anunciou que ofereceria armazenamento gratuito e ilimitado de vídeos e fotos para qualquer um com o Google Fotos. O Gmail é uma comparação óbvia. Em 2004, o Google oferecia um gigabyte de armazenamento gratuito de emails enquanto os concorrentes só ofereciam alguns megabytes, e ele conquistou seu espaço na história. O serviço via convites foi tão popular que o Google precisou impedir que pessoas vendessem contas no eBay. Atualmente, 900 milhões de usuários estão no Gmail.
Mas o armazenamento não foi a única característica que tornou o Gmail tão popular. Ele também sempre foi inteligente. “Lembro dos dias em que era um arquivista, quando passava muito tempo colocando emails em pastas”, diz Bradley Horowitz, do Google. “E então o mundo mudou.” O Gmail transformou emails em conversas por tópicos, e você podia pesquisar a sua caixa de entrada para encontrar qualquer coisa.
O Google Fotos é inteligente de um jeito parecido: a capacidade de perceber computacionalmente o que, quem, quando e onde de todas as suas imagens – sem precisar de tags nem nada – e, novamente, a possibilidade de você digitar apenas algumas palavras-chave para encontrar o que quiser.
Busque cachorros e encontre cachorros, como demonstrado em um livro pop-up dado pelo Google durante o Google I/O
Então é claro que o Google vai se esforçar em vender essa comparação com o Gmail. É uma boa analogia, e uma prova de que centenas de milhões de pessoas pelo mundo confiam ao Google seus dados privados.
É o suficiente para mim. Eu já vi o que o Google Fotos consegue fazer. E, o mais importante – assim como quando eu mudei para o Gmail – eu não tenho nada a perder. Essas fotos estão simplesmente guardadas em HDs. Quem mais vai me ajudar a filtrá-las? “Você precisa de férias só para encontrar todas as fotos do safári que fez durante suas férias”, Horowitz disse recentemente. É assim que eu me sinto.
Claro, existem muitos outros serviços que me ajudariam a guardar meus mais de 300 GB de fotos na nuvem e até compartilhá-las com amigos – por um preço. Eu pago pelo Amazon Prime, o que significa que eu já tenho armazenamento ilimitado para fotos para usar quando quiser. Mas eu não uso porque seria como pegar minhas memórias desorganizadas de um lugar e colocar em outro. Sinceramente, até hoje eu nem me preocupei em saber o que aconteceria com aquelas fotos todas se eu parasse de pagar pelo serviço da Amazon.
Agora, eu não preciso me preocupar com isso. Eu tenho 28.000 imagens e vídeos sendo enviados para o Google Fotos agora mesmo, porque a combinação de grátis e ilimitado significa que eu nunca precisarei me preocupar com coisas como essa. E, em troca do acesso a essas memórias, eu finalmente poderei navegar por essas fotos de forma lógica. O fato do Google conseguir criar GIFs animados e álbuns de fotos automaticamente é a cereja do bolo.
Eu quero ter acesso fácil e rápido a todas as minhas imagens. E eu estou disposto a dar muitos dados pessoais para uma empresa para conseguir isso.
O equivalente em papel aos GIFs animados – uma ilusão de lente lenticular.
Em meio ao meu upload das imagens, entretanto, comecei a pensar nas consequências dessa decisão. Meg Neal, editora-assistente do Gizmodo, me disse que ela sente que as fotos são mais pessoais do que os emails, e se preocupa com o que aconteceria caso o Google fosse hackeado. Nem todo mundo confia os emails ao Google, aliás!
É um pouco assustador pensar que os robôs do Google vasculham meus emails para ajudar na venda de publicidade, mesmo que isso faça com que esses anúncios publicitários sejam mais relevantes para mim, e mesmo que o Google tenha admitido que esse era seu modelo de negócios quando lançou o Gmail em 2004.
Se alguma me incomoda no Google Fotos é que o Google não admite como planeja pagar por todo esse espaço ilimitado para fotos e vídeos oferecido gratuitamente para seus usuários. “Não temos nenhum plano de fazer alguma coisa de uma perspectiva de rentabilização ou publicidade”, disseram representantes do Google durante a conferência I/O. Neste dia, o Google falou várias e várias vezes sobre como fotos são privadas, e como são importantes para conquistar a confiança dos usuários.
Ainda assim, em uma excelente entrevista, Horowitz disse que o Google pode oferecer serviços baseados nesses dados no futuro:
A informação recolhida a partir da análise dessas fotos não viaja para fora desse produto – não hoje. Mas se eu achar que podemos devolver um valor imenso aos usuários com base nesses dados, tenho certeza que vou considerar fazer isso. Por exemplo, se for possível para o Google Fotos perceber que eu tenho um Tesla, e a Tesla quiser me alertar de um recall, esse seria um serviço que eu consideraria oferecer, com controles apropriados e deixando tudo bem claro aos usuários.
É difícil ignorar que o Google está no negócio de transformar fluxos gigantescos de dados em publicidade e serviços personalizados. É isso o que o Google sempre faz. E assim como no caso do Gmail, a capacidade renovada do Google em analisar o que está dentro das imagens é uma faca de dois gumes.
Por mais sensacional que seja reviver tantas memórias precisando só digitar algumas palavras, pense em quem mais pode se beneficiar disso. O que fará o Google quando a Coca-Cola oferecer alguns milhões para saber se seus anúncios estão aparecendo nas nossas fotos? O que o Google fará quando a NSA pedir para ver todas as fotos com “bombas” ou “armas”?
E, em algum momento, o Google pode ter tantas fotos e vídeos seus que não será nada fácil se desligar disso. Você não vai gostar da mudança na política de privacidade do Google sobre quem pode acessar suas fotos, mas se você quiser sair do serviço, vai precisar comprar dois discos rígidos e baixar uma coleção gigantesca de fotos e vídeos que você nunca se preocupou em organizar. Desta vez, você terá muito a perder: tempo, dinheiro, e uma conveniência imensa que você provavelmente ficou acostumado a ter. Então provavelmente você não vai deixar o Google Fotos de lado.
Nenhuma dessas preocupações me impediu de enviar minhas fotos. Ainda não consegui mandar todas, mas já estou maravilhado com álbuns, panoramas e GIFs animados que o Google criou automaticamente para mim conforme novas imagens eram enviadas. Isso inclui fotos antigas de amigos e parentes, que vieram de uma pasta antiga que esqueci que tinha, graças a um reconhecimento facial avançado; e a capacidade de dar zoom sem nenhuma dificuldade nas fotos da minha viagem a Maui.
Estou preso, e não posso mais me livrar disso. Esta tecnologia chegou para ficar. E não importa se você vai usar Google, Yahoo, Amazon ou qualquer outra empresa que atualizar o serviço para se aproximar do Fotos, sempre nos lembraremos do momento em que o Google mudou tudo.