Jon “Maddog” Hall, ícone do software livre, quer popularizar o acesso à internet com Projeto Cauã
O início da tarde desta quarta-feira na Campus Party foi marcada pela palestra de Jon “Maddog” Hall, um dos expoentes da comunidade de software livre e, se me permite dizer, um velhinho um bocado batuta. A seguir, saiba o que ele disse (dica: tem a ver com te arranjar um emprego).
O público-alvo da palestra de Maddog era a parcela mais geek do evento, já que ele veio para falar do Projeto Cauã, um projeto de software e hardware livre que visa trazer internet mais simples e mais popular a mais pessoas, assim como uma nova modalidade de emprego: uma mistura de SysAdmin com administrador de verdade, do tipo empreendedor.
E a palestra foi inteiramente focada nisso: como você, que não é leigo no mundo open source, pode usar esse conhecimento para ter um emprego bacana graças ao Projeto Cauã.
A ideia do projeto consiste em distribuir computadores conectados de baixo custo (os chamados “Thin Clients”), que se conectariam e usariam a internet de um servidor. Cada um desses servidores atenderia no máximo 300 Thin Clients e seria de responsabilidade de um SysAdmin/Empreendedor, que receberia para manter a rede funcionando e prestar suporte personalizado aos seus clientes. Estes profissionais seriam seus próprios chefes e receberiam treinamento inicial do projeto. Algo como a descentralização dos antigos “provedores de acesso”, com o bônus de trazer suporte técnico e menos aporrinhação aos sobrinhos que “entendem de computador”.
A iniciativa faz lógica se você parar para pensar que a computação – mesmo em um nível básico – é difícil para a maioria dos usuários. Maddog usou o exemplo dos seus próprios pais, que sabem mandar emails, mas não têm ideia de como instalar um programa, passar um antivírus ou realizar um backup. O novo emprego que ele visa criar com o Projeto Cauã é justamente esse: um cara no seu prédio, no seu bairro, na sua rua, que tem um servidor e “aluga” computadores simples para todos os que quiserem usar, além de se encarregar de realizar essas tarefas menos corriqueiras. Segundo Maddog, os usuários querem usar melhor os seus computadores (por exemplo, como um media center via streaming), mas não sabem e não querem aprender a configurar a coisa toda.
Quanto aos Thin Clients em si, tratam-se de máquinas bem pequenas, podendo ser acopladas na traseira de um monitor LCD. Eles seriam projetados e produzidos no Brasil, custando cerca de R$400, e sua configuração (toda open-source, claro) seria um processador Atom multi-core, com Hyperthread, 2GB de memória RAM, USB 3.0, Wi-Fi e duas entradas Ethernet de 1Gigabit, uma delas servindo como alimentação.
O projeto está bem estruturado, e está em fase de buscar patrocinadores e parceiros. Maddog contou trechos de conversas que teve com a própria Telefonica para implementação da estrutura de fibra ótica necessária. Segundo ele, o problema não é o custo dos cabos, mas sim da mão de obra necessária para instalá-los. Seria necessário haver uma maior certeza de retorno do investimento, e agora Maddog e a sua equipe estão buscando levantar o dinheiro necessário para este investimento com patrocinadores.
Ao fim, o carismático programador deixou o endereço do projeto, para quem quiser saber mais e se envolver: www.projectcaua.org.
De minha parte, acho que as ideias são muito boas, mas tudo isso pode resvalar em algumas questões: quem quer ter um computador que não é seu, por exemplo? E quanto ao software? Ele também terá que ser acessível e fácil de usar, objetivo que nem sempre é alcançado pelos projetos de sistemas operacionais abertos. No fim, minha maior questão é se é mesmo mais benéfico para os usuários ter alguém que os guie pela mão sempre que precisarem, ou terem a oportunidade de usar softwares que tornem cada vez mais simples as coisas que eles ainda não sabem fazer? Em outras palavras: não seria mais interessante simplesmente investir no desenvolvimento de máquinas, softwares e interfaces mais simples de usar?
No entanto, certamente existe espaço para o avanço das duas abordagens. Essas são só divagações minhas. Afinal, para que servem as palestras da Campus Party senão para fazer pensar?