Cigarros eletrônicos são uma forma segura de parar de fumar?

“Este produto contém mais de 4.700 substâncias tóxicas, e nicotina que causa dependência física ou psíquica. Não existem níveis seguros para o consumo destas substâncias”. Essa é a mensagem impressa em caixa alta na lateral de todos os maços de cigarro legalmente comercializados no Brasil. Para combinar, o verso das embalagens traz algumas imagens bem […]

“Este produto contém mais de 4.700 substâncias tóxicas, e nicotina que causa dependência física ou psíquica. Não existem níveis seguros para o consumo destas substâncias”. Essa é a mensagem impressa em caixa alta na lateral de todos os maços de cigarro legalmente comercializados no Brasil. Para combinar, o verso das embalagens traz algumas imagens bem desagradáveis. Elas vão desde uma criança tapando o nariz para não inalar fumaça, passam pela mão de uma mulher acenando com o polegar para baixo sob o aviso de que o cigarro pode causar impotência e culminam em uma caixa torácica perfurada e costurada. Como fumante e amiga de um monte de fumantes, posso afirmar que essas medidas só assustam aqueles que estão em torno de quem fuma ou quem está comprando sua primeira cartela de cigarros. Quando você fuma e vê as imagens chocantes do maço todos os dias, elas acabam virando paisagem.

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Alguns anos atrás os cigarros eletrônicos despontaram como uma esperança para os que eram incapazes de largar o vício de vez ou para quem queria tentar uma opção que se dizia mais segura do que os cigarros comuns. Converse com alguns fumantes inveterados e você vai descobrir que, embora o vício na nicotina seja complicado, o problema de verdade está em abandonar o hábito. É a pausa pra fumar, a paradinha, os cinco minutos que servem muito bem quando você está nervoso, chateado ou simplesmente entediado.

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(Imagem via)

A coisa toda é muito sedutora: o cigarro eletrônico promete ser menos pior para a saúde do fumante, costuma não deixar aquele cheiro incômodo e ainda pesa menos no bolso. Hoje, a Receita Federal estipula o preço mínimo do cigarro em R$4,00. Em 2015, esse preço subirá para R$4,50. Algumas marcas já vão pelos sete ou oito reais. A pessoa que fuma um maço por dia (e não estamos falando das marcas ilegais, vendidas em banquinhas por menos de R$3,00), gasta R$1.460 por ano, se fumar dos mais baratos. Com o cigarro eletrônico, esse gasto diminui bastante. Depois de adquirir o cigarro, cujos preços variam de R$ 25 a R$ 1.000,  basta comprar as recargas. Os frascos custam a partir de R$24 e duram de acordo com o seu vício, de alguns dias a algumas semanas. No final das contas, se você fumar muito e curtir cigarros eletrônicos caros e descolados, o e-cig ainda vai sair mais barato do que comprar aquele maço vagabundo na banquinha instalada na frente do ponto de ônibus.

Apesar de o cigarro eletrônico ser proibido pela ANVISA, não é difícil encontrá-lo em lojas de eletrônicos, tabacarias e e-commerces especializados no produto. Há vários modelos, todo tipo de “sabor” nos líquidos de recarga e milhões de promessas de união entre o prazer de fumar e proteção da saúde. Mas isso é verdade? O cigarro eletrônico é seguro? Dá pra parar de fumar com ajuda dele? Vamos lá.

O que é o cigarro eletrônico?

O cigarro eletrônico é um dispositivo que procura replicar a experiência de se fumar um cigarro de papel, mas sem a parte do tabaco e com um percentual reduzido e — diz-se — controlado de nicotina. Existe toda uma miríade de modelos de e-cig de várias marcas e preços, mas a maior parte dos cigarros eletrônicos costuma ser um pouco maior, mais grosso e mais pesado que um cigarro old school.

Na parte onde fica o filtro do cigarro comum, os e-cigs trazem uma piteira que contém um líquido que pode ou não ser aromatizado e que traz — segundo os fabricantes — um percentual de nicotina menor que o dos cigarros de papel e tabaco; alguns modelos afirmam não ter nicotina alguma. O cigarro também tem uma bateria (algumas recarregáveis na tomada, outras via USB) e alguns, mais detalhistas, vêm até com uma luzinha que imita a brasa. Quando o o fumante liga o e-cig e traga, dentro do cigarro a água será aquecida. Então o vapor sairá do aparelhinho, atuando no papel de fumaça como num filme dos anos 1950. O led que simula a brasa é aceso e… tá-dá!, você está fumando. Ou não. A menos que sejam usados os aromatizantes, a fumaça é inodora. A ideia é imitar da forma mais fiel possível a experiência de fumar, mas o resultado tende a ser, convenhamos, visualmente ridículo.

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(Imagem via)

Como não poderia deixar de ser, os vendedores afirmam que a quantidade de nicotina exalada pelos e-cigs não é suficiente para causar o vício. Beleza, espertões, então como essa quantidade consegue aplacar o vício?

O cigarro eletrônico faz menos mal que o cigarro de verdade?

É aqui que o bicho pega. Os fabricantes são capazes de jurar por Deus que os e-cigs são uma opção mais saudável, mas parece que as coisas não são exatamente assim. Segundo um artigo publicado no New York Times, a nicotina líquida é muito mais poderosa que a nicotina encontrada nos cigarros normais. Trata-se de uma neurotoxina e, se ela vier a ser ingerida ou entrar em contato com a pele, pode causar envenenamento. A depender da quantidade ingerida ou absorvida pela pele, os resultados variam desde enjoos até a morte — uma colher do tal líquido, mesmo que diluída, pode matar uma criança.

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(Imagem via)

Você deve estar pensando que é só não esfregar os cartuchos de recarga como creme hidratante, não levá-lo a boca e deixá-lo fora do alcance de crianças, mas o buraco é um pouco mais embaixo: a China é o maior produtor de e-cigs e das recargas líquidas para eles. Como todos sabemos, os produtos que vêm da China nem sempre são sinônimo de qualidade. Assim, grande parte dos líquidos de recarga para cigarros eletrônicos — mesmo os produzidos fora da China — não são regulados pelas autoridades em saúde, não respeitam os limites de nicotina e muito menos obedecem as regras de pureza estipuladas para que o produto seja seguro. Para resumir o assunto: quase todos os líquidos de recarga que estão no mercado são misturas feitas de qualquer jeito e nem ao menos se sabe o que tem ali dentro. Só que essas misturas são vendidas numa boa nas lojas que abastecem os usuários de e-cigs.

Os estudos feitos acerca dos efeitos do cigarro eletrônico ainda são poucos e inconsistentes, mas a maior parte deles é unânime em afirmar que o cigarro eletrônico faz mal, sim, tanto para o fumante quanto para quem está em torno dele. No entanto, como o cigarro eletrônico não tem tabaco, os estudos também apontam que ele faz um pouquinho menos mal que o cigarro original. Isso já é mais do que suficiente para os adeptos do e-cig, mas está longe de transformá-lo num produto amigo. E também não está perto de amenizar ou tratar o vício em cigarros normais.

Não há nenhuma evidência de que o cigarro eletrônico efetivamente ajude as pessoas a colocar um fim no tabagismo. Além disso, é sempre bom lembrar que, como a tecnologia é recente, ainda não existem análises sobre a longa exposição a esses cigarros. Além disso, é complicado saber qual é a procedência do líquido de recarga, ainda mais no Brasil. Com a proibição, as vendas dos cigarros eletrônicos e dos líquidos foram drasticamente limitadas, mas não extintas. Quem quer comprar sabe onde achar.

Por que o cigarro eletrônico foi proibido no Brasil?

Em 28 de agosto de 2009, a ANVISA proibiu o cigarro eletrônico por aqui. Segundo a agência, “considerando a inexistência de dados científicos que comprovem a eficiência, a eficácia e a segurança no uso e no manuseio de quaisquer dispositivos eletrônicos para fumar (…) fica proibida a comercialização, a importação e propaganda de quaisquer dispositivos eletrônicos para fumar, conhecidos como cigarros eletrônicos, e-cigarretes, e-ciggy, ecigar, entre outros, especialmente os que aleguem substituição de cigarro, cigarrilha, charuto, cachimbo e similares no hábito de fumar ou objetivem alternativa no tratamento do tabagismo”. Basicamente, o documento diz que não existem testes claros o suficiente. Não dá para saber se o produto é seguro e pode ser efetivo no tratamento contra o tabagismo.

Cigarro eletrônico? não sei bem, estou confusa. Cigarro eletrônico? Não sei bem, estou confusa.

(Imagem via)

E lá fora?

Nos EUA, a US Food and Drug Administration solicitou que o cigarro eletrônico passe a ser reconhecido como um produto do tabaco, embora ele não contenha tabaco. A FDA também quer que os e-cigs fiquem sob supervisão da agência, já que a nicotina é considerada uma droga e os cigarros eletrônicos estão “conceitualmente ligados ao ato de fumar”.

Mas existe uma empresa interessada em criar cigarros eletrônicos seguros e regulados. Eles darão uma dose precisa de nicotina, pré-aprovada por médicos, e só serão vendidos para quem comprovadamente quer parar de fumar.  A Thermo-Essence Technologies foi criada pelo engenheiro mecânico Nathan Terry, que percebeu que os cigarros eletrônicos vendidos por aí não eram aparelhos bem-feitos. Atualmente, a empresa tem três modelos de e-cigs, mas eles serão cancelados e Terry começará a produzir somente a versão usada sob prescrição médica, abocanhando uma boa fatia de um mercado prestes a ser criado. O objetivo é que o novo cigarro seja aprovado pela FDA como um aparelho de uso médico, para ajudar as pessoas a pararem de fumar. E isso é o melhor que temos até agora para as pessoas interessadas em cigarros eletrônicos.

Uma vez que as pesquisas ainda não conseguiram se aprofundar o suficiente no universo dos cigarros eletrônicos e com todo o perigo de você acabar comprando um cartucho mambembe sem saber que substâncias ele carrega, parece que o jeito mais saudável e menos perigoso de parar de fumar é simplesmente… parando.

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