Como a NASA lida com os odores dentro da Estação Espacial Internacional
O espaço pode ser um vácuo, mas, ao menos a bordo da Estação Espacial Internacional, os cheiros continuam aparecendo. E considerando que 6 pessoas vivem na ISS, alguns desses cheiros podem se tornar um grande problema. A NASA deu um jeito nisso.
O engenheiro da NASA Robert Frost e o antigo astronauta da ISS Clayton Anderson explicaram como a NASA cuida dos subprodutos malcheirosos dos astronautas a bordo da Estação Espacial Internacional.
De Robert Frost, Engenheiro/Instrutor da NASA:
Os odores podem resultar de vazamento de gás de equipamentos, processos metabólicos da tripulação, comida, experiências, e retorno de atividades extra-veiculares da tripulação.
No módulo de serviço, a Unidade de Micropurificação oferece meios regeneráveis para remover contaminantes moleculares de baixo e alto peso.
Work with Micropurification Unit (BMP) on #ISS see blog http://t.co/Y8WV0dhp8i pic.twitter.com/koRkCK7wXH
— Oleg Artemyev (@OlegMKS) 15 julho 2014
No laboratório, o Subconjunto de Controle de Traços Contaminantes (TCCS, na sigla em inglês) desempenha função semelhante.
Ambas as unidades estão teoricamente operacionais. Qualquer uma é capaz de proporcionar a remoção de traços contaminantes para toda a ISS. A Unidade de Micropurificação ventila contaminantes para fora enquanto a TCCS prende-os em leitos substituíveis.
Os principais componentes do TCCS incluem um leito de carvão ativado, um conjunto oxidante catalítico, um leito absorvente de hidróxido de lítio. Apesar do TCCS remover a maior parte dos contaminadores atmosféricos com o leito de carvão, o oxidante catalítico é necessário para remover compostos moleculares de baixo peso, como o metano.
O ar que entra no TCCS é aspirado diretamente da cabine aberta da atmosfera para o leito de carvão ativado pelas ventoinhas da TCCS, que está abaixo do leito de carvão. O leito de carvão é impregnado com ácido fosfórico, que permite que ele absorva amônia. Abaixo da ventoinha, o ar processado é dividido em duas correntes; uma que vai em direção ao Conjunto Oxidante Catalítico, e uma para uma linha de desvio. A taxa de fluxo para o Conjunto Oxidante Catalítico é usada para controlar a velocidade da ventoinha e fornecer uma taxa específica de fluxo para o oxidante. O restante vai pela linha de desvio.
Um permutador de calor regenerativo e um aquecedor de resistência são utilizados para aquecer o ar que entra no oxidante para aproximadamente 400ºC. O catalisador oxida os compostos orgânicos para CO2 e água, e então converte os compostos inorgânicos para gases ácidos como cloreto de hidrogênio, fluoreto de hidrogênio e dióxido de enxofre. O ar que deixa o leito catalisador é resfriado no permutador de calor regenerativo e circula através do leito absorvente de LiOH. Esse leito remove qualquer subproduto ácido produzido durante o processo de oxidação. O ar que deixa o leito absorvente se combina com o ar desviado não-processado e retorna diretamente para os dutos.
De Clayton C. Anderson, astronauta da NASA para a ISS aposentado:
Como uma pessoa que foi duas vezes ao espaço e passou mais de 167 dias por lá (sendo que apenas oito desses não foram na Estação Espacial Internacional), tenho conhecimento pessoal definitivo sobre os odores existentes dentro do seu casco de alumínio anodizado.
Os sistemas mencionados por Robert normalmente não falham, com a tripulação realizando a manutenção rotineira deles de acordo com a agenda definida em solo. Isso nos proporciona um ambiente praticamente sem odor na ISS. Isso não quer dizer que não temos cheiros ao nosso redor. Nossa atmosfera padrão, composta pela mesma porcentagem dos gases que temos na Terra, é regulado para 14.7 psi e isso nos dá um ambiente de cerca de 22ºC, 55% de umidade com uma pequena brisa vindo do sul!
Oleg Kotov, colega russo de expedição e nosso comandante, gostava de guardar suas roupas de treino usadas acima da escotilha do FGB (Bloco Funcional de Carga, Módulo Russo). Não era minha escolha preferida para acomodar aparelhos de treino suados já que não havia uma boa chance deles secarem completamente por lá.
Eu preferia colocar minhas roupas sujas em um corrimão no módulo Node 1 do segmento dos EUA. Esse corrimão estava próximo a uma saída de ar condicionado, ou seja, o ar fresco e frio soprava minha roupa suada por horas até que eu as vestia novamente. Diminuindo a capacidade de gerar qualquer odor de vestiário, esse lugar especial também permitia que nossos sistemas ambientais absorvessem facilmente meu suor e transformassem ele em água potável para mais tarde!
Odores de comida estavam presentes também, mas eu não tinha problemas com eles.
Comer um prato de peixe muitas vezes produzia o mais pungente odor, especialmente a versão norte-americana de gumbo de frutos do mar. Demorava algumas horas até que o cheiro sumisse do ar da ISS. Em missões de ônibus, muito comandantes proibiam o consumo de gumbo de frutos do mar devido a seu cheiro distinto e não muito agradável.
E não se preocupe muito com o cheiro do banheiro. Os sistemas de fluxo de ar (especialmente no segmento dos EUA, e nem tanto no russo) eram bem eficazes para conter o cheiro de cocô, mandando o cheiro embora rapidamente para as entranhas da ISS, onde eles eram absorvidos de forma eficiente através dos filtros.
Por fim, há o “cheiro do espaço”. Frequentemente mencionado por astronautas, é algo difícil de descrever. Bem distinto – eu reconheceria instantaneamente – ele aparentemente é comparado a cheiros associados a soldagem ou queima de ozônio (e quem diabos sabe realmente como é o cheiro dessas coisas?). Após uma caminhada espacial, quando as tripulações e equipamentos retornam para dentro da ISS, lembro de ser capaz de sentir o cheiro de traços desse odor único por dias após a excursão pelo vácuo do espaço.
Imagem de topo via NASA
Como a NASA lida com o odor dentro da Estação Espacial Internacional apareceu originalmente no Quora. Você pode seguir o Quora no Twitter, Facebook, e Google+.