As consequências do vazamento de petróleo da BP
A Al Jazeera publicou um relato impressionante sobre os efeitos do desastre petrolífero da BP e… bom, não é nada legal. Há um número alarmante de deformações em animais marinhos: camarões mutantes, peixes com feridas e lesões, caranguejos sem olhos e mais. É diferente de tudo o que qualquer pescador já tenha visto.
O quão ruim é isso?
Os efeitos do vazamento de petróleo e sua limpeza descuidada teve na vida marinha é assustador, condenável e triste. A lista abaixo traz as deformidades com as quais a Al Jazeera se deparou:
- Camarões com tumores em suas cabeças
- Camarões com defeitos em suas guelras e “falhas em suas cascas ao redor das guelras e cabeça”
- Camarões sem olhos
- Camarões com filhotes grudados neles
- Peixes sem olhos
- Peixes sem os globos oculares
- Peixes sem proteções em suas guelras
- Peixes com protuberâncias rosadas saindo de seus olhos e guelras
- Montes de caranguejos azuis, todos com pelo menos uma garra faltando
- Caranguejos com buracos em suas conchas
- Caranguejos com conchas sem espinhos ou sem garras ou com garras deformadas
- Caranguejos morrendo por dentro
Pescadores, cientistas e produtores de frutos do mar que falaram à Al Jazeera foram unânimes: eles nunca viram nada parecido com isso antes. Alguns trabalham no ou perto do Golfo por mais de 20 anos e a maioria já viu milhares e milhares de peixes. Essa é a primeira vez que todos testemunham a mutação e destruição em massa da vida marinha.
E não são só mutações óbvias. Testes com ostras concluíram que suas placas apresentaram elevados níveis de níquel e vanádio de acordo com o Conselho de Defesa dos Recursos Naturais. E ainda não se sabe sobre os níveis de arsênio, cádmio, chumbo e mercúrio.
Quando isso começou?
Cientistas e pescadores acusam o desastre natural da BP em 2010 — e os dispersantes e químicos usados para a limpeza — de terem criado essas deformidades. Especificamente, os solventes utilizados para limpar o vazamento, poderosos o bastante para dissolver petróleo, graxa e borracha. Isso é ótimo para limpar um vazamento de petróleo, mas terrível para o ambiente e ainda pior para seres humanos, sem falar no preço pago pelos seres vivos do Golfo. E o ponto é que desde sempre se soube que os dispersantes têm características mutagênicas. Os químicos muito provavelmente alteraram o genoma da vida marinha.
Antes do vazamento, apenas um décimo de um por cento dos peixes do Golfo tinham lesões ou feridas. Após o vazamento, de acordo com a Universidade do Sul da Flórida, muitos locais apresentaram 20% de peixes com lesões chegando a picos de 50% em determinadas áreas.
Qual é exatamente a causa?
O Dr. Jim Cowan da Universidade do Estado da Louisiana acredita que os produtos químicos chamados hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAHs), os quais a Agência de Proteção Ambiental dos EUA classifica como “um grupo de componentes orgânicos semi-voláteis que estão presentes no petróleo cru presente por muito tempo no oceano”, estejam causando a maioria dos problemas. Peixes e outras criaturas marinhas estão expostos aos PAHs, os quais afetam a saúde imediata dos peixes bem como vitimam seu genoma.
Acima disso, os dispersantes usados para limpar o vazamento de petróleo são conhecidos por serem tóxicos aos humanos. Os sintomas à exposição incluem “dores de cabeça, vômito, diarreia, dores abdominais e peitorais, danos ao sistema respiratório, sensibilidade da pele, hipertensão, depressão do sistema nervoso central, efeitos neurotóxicos, arritmia cardíaca e danos no sistema cardiovascular.” Eles ainda causam distúrbios no crescimento e desenvolvimento de fetos.
Basicamente é como se a BP estivesse limpando o vazamento com ácido e reagisse com surpresa ao ver o solo desaparecer.
O governo perdeu o controle
A FDA, EPA e NOAA, agências governamentais dos EUA responsáveis pelo meio ambiente e saúde, se recusaram a comentar o horror que acomete o Golfo. A BP, empresa que criou essa bagunça, não admite ser responsabilizada pelas consequências e diz que a vida marinha no Golfo está “tão segura hoje quanto estava antes do acidente.” As evidências, claro, indicam o contrário.
O que vem depois?
O Golfo do México provê quase metade dos frutos do mar consumidos nos EUA — 40%. Com seus habitantes morrendo ou sofrente mutações antes de serem pescados, parece que a escassez desse tipo de alimento é inevitável. De acordo com vários pescadores, a pesca do camarão marrom diminuíram em dois terços, o camarão branco foi dizimado e alguns pescadores têm conseguido pescar apenas 10% do que estavam acostumados. Os americanos já repararam que algo mudou com os frutos do mar e sem investimentos ou comprometimento ou a BP aceitando a culpa, esses feitos talvez durem mais do que qualquer um possa imaginar.
Darla Rooks, pescadora de longa data no Golfo, bem disse:
“Nós ainda retiramos petróleo de nossas redes. Pense em perder tudo o que te faz feliz porque é exatamente isso o que acontece quando alguém vaza petróleo e joga dispersantes nele. As pessoas que vivem aqui sabem bem que não devem nadar, nem comer nada que saia dessas águas.”
A cura talvez não tenha sido pior que a doença, mas parece que chegou perto de ser tão ruim quanto. [Al Jazeera, Daily Comet, WSJ, Local 15 TV via @joeljohnson]