Eu morri mais de 390 vezes antes de terminar Dark Souls 3
por Bruno Izidro
Dark Souls 3 é um jogo que talvez você não consiga terminar, mas você certamente vai morrer tentando. E muito. Na minha jornada de mais de 66 horas nesse RPG de ação lançado para PS4, Xbox One e PC, eu falhei exatas 398 vezes até finalmente ver os créditos – em média, uma morte a cada dez minutos. Sim, eu registrei cada uma das vezes que vi a mensagem “Você Morreu” escancarada na tela. Foi uma maneira de tentar dimensionar o quanto era verdadeira a fama dos jogos da série de serem difíceis.
A primeira dessas mortes bem que poderia ter acontecido logo nos momentos iniciais, quando Dark Souls 3 relembra ao jogador de forma prática que mesmo os inimigos mais básicos da área de tutorial devem ser temidos. Quando chega o primeiro chefe, então, a morte é certa. Daí em diante, não para mais.
Às vezes, a morte ocorre com aquele inimigo novo cujo padrão de ataque você não conhece ainda. Outras, quando você pensa que está confiante, mas se distrai um segundo e perde tudo. Pior é quando isso acontece por puro descuido, caindo de precipícios ou buracos no cenário. Eu praticamente morri pra todas as variações de inimigos que há no game.
O vídeo abaixo é prova dos meus fracassos e compila algumas dessas minhas mortes horríveis – são 15 minutos de puro desespero e muitas almas perdidas. Porém, não se preocupe com spoilers: fora o primeiro boss, não mostro nenhuma das outras lutas contra chefes, que são os momentos mais marcantes do jogo.
Com tantas mortes, a experiência do jogo deve ser frustrante, não? Pior que não. Acredite, isso faz parte da graça de se jogar Dark Souls 3, porque é a superação desses desafios, mesmo que demande paciência e dedicação do jogador, que faz dele um game tão envolvente e bom.
No ano passado, fiz um artigo aqui no Gizmodo falando justamente sobre a importância da morte pra Bloodborne. Sendo o exclusivo de PS4 parte da série Souls, ele se aplica também pra Dark Souls 3. A morte aqui não é culpa do jogo… bom, pelo menos boa parte delas, e sim de quem joga. Quando se morre, pode até parecer algo simplesmente punitivo – afinal, é bem chato quando se perde aquelas 10 mil almas que serviriam pra evoluir o seu personagem ou comprar aquela espada mais forte – mas, na real, isso faz parte do processo pra melhorar não só o personagem dentro do game, como o próprio jogador.
Essa melhora não significa só ter mais habilidades no controle, ou saber quando rolar no momento certo ou defender um golpe, mas também educar o jogador a usar os sistemas de evolução pra fazer as habilidades responderem melhor com o seu jeito de jogar. Afinal, vamos lembrar que Dark Souls 3 é um RPG, e é sempre bom gastar um tempinho no menu do personagem e modificar status dos parâmetros principais (Vitalidade, Força, Destreza, Fé e etc) ou os equipamentos adquiridos. Para um ladrão ou assassino, a destreza vale mais do que força. Para um feiticeiro, a barra verde de estamina não chega a ser tão importante quando a nova barra azul, que serve como mana para magias.
Dark Souls 3 é certamente um dos jogos mais desafiadores que se pode jogar hoje em dia, mas ele não é injusto. De alguma forma, essa barreira de desafios é o que motiva a sair pelas terras estranhas de Lothric pra enfrentar inimigos mais estranhos ainda, coletar mais almas e usá-las pra melhorar o seu personagem. Todo esse trabalho compensa na satisfação do desafio superado, seja ele um chefe monstruoso que você não tinha ideia de como derrotar, ou passar de uma área difícil e cheia de inimigos fortes.
Para quem jogou os anteriores, isso não é novidade e pode até ser um problema nessa continuação, que não arrisca muito em sair da fórmula que os anteriores estabeleceram. Há sim uma ou outra novidade mais pontual em Dark Souls 3 – como cada arma e escudo terem habilidades especiais como dar golpes únicos ou quebrar a defesa do inimigo, ou a barra azul de mana já mencionada – mas são mais iterações do que verdadeiramente algo que vá impactar tanto assim a experiência como um todo.
Agora, chato mesmo é saber que alguns problemas dos jogos anteriores continuam, como a câmera na hora do combate em ambientes fechados, o que vai causar uma ou outra morte por isso (uma das vezes em que a culpa pela morte é do jogo). Ainda assim, por Dark Souls 3 repetir tão bem o que os outros tinham de melhor, deixar de se arriscar não chega a fazer dele pior, só é a mesma experiência dos anteriores, um pouco mais bonita (só um pouco mesmo) na atual geração e até com uma história que dá para entender melhor.
Quem joga Dark Souls 3 sabe que em algum momento vai morrer. Pode ser nos primeiros cinco minutos ou depois de uma hora, mas a morte vai chegar pra todos. Isso pode afastar muitos jogadores, mas pra quem perseverar nos castelos, cavernas, esgotos e vilas daquele mundo, vai ter uma experiência incrível. E enquanto eu escrevia esse texto, eu morri mais uma vez em Dark Souls 3. Agora são 399 mortes.