Por que o disfarce do Super-Homem talvez realmente funcione
Uma das principais reclamações feitas desde que a primeira revista em quadrinhos do Super-Homem foi lançada é a seguinte: como ninguém vê o disfarce besta de Clark Kent e percebe que ele é na verdade o Super-Homem? Um novo estudo sugere que os óculos usados por Kent podem sim funcionar como disfarce – ao menos entre pessoas que não conhecem ele muito bem.
A explicação oficial da DC Comics – publicada na revista Superman #330 – para como o Super-Homem faz isso envolve um raio hipnotizador lançado através de óculos especiais com lentes kriptonianas. Há alguns anos, Kyle Hill, escrevendo para o Slate, sugeriu uma explicação alternativa: cegueira facial generalizada, ou prosopagnosia:
O teste para cegueira facial é mais simples do que você imagina. Imitando situações do mundo real, médicos alinharam diversas pessoas do mesmo sexo com idade e vestuário parecidos (usando chapéus para cobrir o cabelo), colocando um membro da família ou um amigo entre elas. Se a pessoa conhecida não for identificável até que ela fale, então o diagnóstico é feito. Como muitos dos colegas de trabalho de Clark vêem ele e Super-Homem no mesmo dia sem falar “Ei, você em lembra o…”, eles receberam o mesmo diagnóstico.
Só há um problema: é altamente improvável que todas as pessoas que trabalham no Planeta Diário, além de todos os conhecidos de Clark Kent, sofram de prosopagnosia. Não é algo tão comum assim. Hill sugeriu isso como piada que talvez o Super-Homem tenha realizado cirurgia cerebral eletiva em seus conhecidos para causar cegueira facial neles, protegendo assim a sua identidade.
Mas tal passo extremo pode nem ser necessário. De acordo com Robin Kramer e Kay Ritchie, psicólogos da Universidade de York, mesmo pequenas alterações na aparência de uma pessoa – como colocar óculos ou adotar linguagem corporal diferente – pode ser o suficiente para evitar a detecção. Estudos anteriores com fotos de passaporte mostraram que as pessoas sofrem ao identificar imagens de uma mesma pessoa, especialmente se a pessoa em questão estiver com uma pose ou expressão facial diferente em uma das fotos.
Para o novo estudo, Kramer e Ritchie usaram pares de fotografias como as normalmente encontradas em sites de mídias sociais, perguntando aos participantes para eles decidirem quais das pessoas desconhecidas em imagens eram as mesmas. Eles incluíram fotos com pessoas de óculos, sem óculos, e pares em que apenas em uma das fotos a pessoa usava óculos.
De acordo com o novo artigo publicado na Applied Cognitive Psychology, quando ambas as faces usam óculos ou não usam, os participantes conseguem acertar cerca de 80% das vezes. Mas quando em apenas uma das imagens a pessoa usa óculos, isso cai cerca de 6%. Não é uma diferença muito grande, mas é estatisticamente significativa.
Um problema, no entanto, é que isso só se aplica para o reconhecimento de estranhos. “Em termos reais, os óculos não deveriam evitar que Lois reconhecesse que Clark de fato é o Super-Homem considerando que ela o conhece,” disse Ritchie. “Para os que não o conhecem, no entanto, a tarefa é muito mais difícil, e nossos resultados mostram que os óculos diminuem a possibilidade de reconhecermos uma pessoa desconhecida entre diferentes fotos.”
Então Lois Lane não tem desculpa. Talvez ela realmente sofra de prosopagnosia.