Por que Elon Musk está apoiando o novo Secretário de Estado escolhido por Trump

Elon Musk pegou muita gente de surpresa ao apoiar publicamente Rex Tillerson, magnata que construiu sua fortuna explorando petróleo e gás.

Elon Musk pegou muita gente de surpresa ao mandar, nesta quarta-feira, uma mensagem no Twitter apoiando Rex Tillerson, ex-CEO da petroleira ExxonMobil e provavelmente novo Secretário de Estado da administração de Trump.

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A imagem pública de Musk é de um magnata que usa sua influência para desenvolver um futuro tecnológico utópico, movido por energia limpa e por buscar a colonização de Marte. O que ele poderia ter em comum com um outro magnata que construiu sua fortuna explorando os recursos do planeta? Nós perguntamos isso para ele.

Musk nos respondeu pelo Twitter e tudo o que ele falou está reproduzido abaixo, sem edição e sem ênfases. Nós primeiro pedimos para ele explicar seu apoio a Rex Tillerson. Nossas perguntas estão em negrito.

Muitos veem a indicação de um magnata como um emblemático caso de capitalismo de camaradagem. O que te faz sentir que ele é competente para o cargo? Tillerson também falou ao Bloomberg no ano passado que ele não estava muito convencido pelos carros elétricos, que claramente são a ideia central da Tesla. Vocês chegaram a um consenso sobre esse assunto? Suas opiniões sobre Tillerson são influenciadas por sua posição no Fórum Político e Estratégico de Trump?

Meus tweets falam por si. Por favor, leia-os exatamente da forma como estão escritos. Tillerson obviamente fez um ótimo trabalho no comando da Exxon, uma das maiores empresas do mundo. Naquele papel, foi obrigado a impulsionar a causa da Exxon e o fez. No papel de Secretário de Estado, ele é obrigado a lutar pela causa dos EUA, e eu suspeito que provavelmente irá fazer isso. Além disso, ele tem reconhecido publicamente há anos que um imposto sobre as emissões de carbono poderia fazer sentido. Não há pessoa melhor do que Tillerson para que isso se torne uma realidade. Isso é o que importa, muito mais do que gasodutos ou abrir reservas de petróleo. A externalidade sem preço deve ganhar um preço.

De fato, Tillerson tem um histórico de apoio aos impostos sobre as emissões de carbono desde 2007, assinalando sua preferência por uma regulação do gênero em relação a uma iniciativa “de limitações e de comércio” que se tornou popular entre ambientalistas e defensores do livre mercado nos anos 1980, mas cuja eficácia no mundo real tem sido debatida há muito tempo. Vários especialistas concordam que um imposto nacional sobre as emissões de carbono é necessário, mas essa afirmação vinda de Tillerson deve ser interpretada com ceticismo.

Em vez de lutar por políticas que diminuíssem as emissões de carbono, a ExxonMobil, sob a tutela de Tillerson e seus antecessores, pagou, entre 1998 e 2012, mais de US$ 3,6 milhões para a American Enterprise Institute, uma organização que ajudou a distorcer fatos sobre mudança climática e enfraquecer a confiança pública no impacto da poluição do carbono. Isso apesar do fato dos próprios cientistas da Exxon saberem desde 1977 que os combustíveis fósseis estavam impactando a mudança climática.

Você pode esclarecer o que quer dizer com “a externalidade sem preço deve ganhar um preço”? Se eu estou interpretando corretamente, a “externalidade” é a poluição por carbono. O que sugere que a poluição por carbono seja uma prática de negócios aceitável desde que os donos das companhias paguem alguma coisa por isso. Eu não consigo imaginar um imposto de carbono suficientemente alto que teria um impacto razoável nas práticas de negócios atuais que estão alimentando a mudança climática.

CO2 não é exatamente poluição, mas causa aquecimento e uma pequena acidificação da água se grandes quantidades forem tiradas do subsolo e adicionadas ao ciclo da superfície. O problema é a velha tragédia dos bens comuns. O bem comum consumido é a nossa capacidade atmosférica e oceânica de carbono, que atualmente tem um preço zero. Isso resulta num erro nos sinais de mercado, e muito mais CO2 é gerado do que deveria ser. Nós nunca chegaremos a zero emissão de CO2, mas, com o tempo, a taxa deve cair a níveis muito menores do que temos hoje.

Vale notar que o CO2 foi classificado como poluição sob o Plano de Energia Limpa da administração de Obama, que está envolvido em uma longa batalha legal para sobreviver, além de estar entre os muitos projetos que Trump promete encerrar. Uma questão de semântica, talvez, mas o argumento de Musk aqui é relevante: deve existir um custo associado à emissão imprudente de carbono na atmosfera. A questão é se esse custo chegará a ser alto o suficiente.

Isso não esclarece o quão severo o imposto precisaria ser para reduzir significativamente as emissões e diminuir a mudança climática.

Comece devagar e vá aumentando, até que o resultado desejado seja atingido. Isso pode ser compensado por uma redução de outros impostos, como o imposto sobre vendas, que é bastante regressivo. Fazer isso é como taxar cigarro e álcool mais do que frutas e vegetais, o que todo mundo concorda que faz sentido. Nós deveríamos ter maiores impostos em coisas que a ciência diz que provavelmente fazem mal para a gente do que aquelas que provavelmente fazem bem.

A maioria das pessoas concordariam que a premissa de impostos maiores é razoável. Numa situação ideal, a ciência guiaria nossos melhores interesses, e a economia deveria segui-los. No mundo atual, existem outras realidades políticas para serem consideradas.

Mesmo se Tillerson, com a saída de sua atuação das petroleiras, decidisse cumprir com o aquilo que tinha dito em 2007 e pressionar Trump por um imposto sobre as emissões de carbono, não é ele quem está na liderança da EPA (Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos), que é quem lida com esse assunto. Essa honra duvidosa pertence a Scott Pruitt. Pruitt, que nega que os humanos causaram a mudança climática, era um executivo da Associação Nacional dos Procuradores da República dos EUA que recebeu apoio financeiro considerável da ExxonMobil e já processou 14 vezes a agência que está prestes a liderar por regulamentação ambiental.

E, é claro, liderando uma administração que nega a mudança climática está o próprio Trump, que já tweetou muito descrevendo o aquecimento global como “falso”. Em menos de uma semana no poder, a nova administração já congelou todas os subsídios da EPA e indicou que irá “limpar” um pouco da página da agência climática, o que não inspira muita confiança. Fora do domínio da teoria, as probabilidades de que Tillerson pressione por qualquer legislação que limite nosso impacto sobre o meio ambiente parece nula.

E você sente confiança de que uma política como essa [como o imposto sobre as emissões de carbono] seja aprovada sob a administração de Trump, ainda que ele tenha dito repetidas vezes que o aquecimento global é uma “farsa”?

Você está se esquecendo da questão principal. É algo pelo qual precisamos lutar, e quanto mais vozes razoáveis o Presidente ouvir, melhor. Simplesmente atacá-lo não vai levar a lugar algum. Você está ciente de um único caso em que Trump cedeu aos protestos ou ataques da mídia? Melhor que existam canais abertos de comunicação.

Ele está certo, é claro. Trump não é conhecido por cooperar e frequentemente ignora seus assessores mais próximos.

Mais uma vez, uma imprensa livre e a capacidade de protestar são duas das proteções mais sagradas que existem sob uma estrutura democrática – dois caminhos para que as pessoas eleitas ouçam as vozes de seu eleitorado. Se Trump não ouvir o seu próprio povo, que tipo de líder ele será?

Foto: AP Photo/Paul Sancya.

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