Físicos dizem: história do jato russo derrubado pela Turquia está muito mal contada
Esta semana, a Turquia derrubou um jato Sukhoi Su-24 da Rússia, dizendo que os pilotos ignoraram vários avisos de que estavam entrando no espaço aéreo turco. O presidente russo Vladimir Putin insistiu que o avião estava apenas na fronteira com a Síria, e sugeriu que a Turquia estaria ajudando o Estado Islâmico. Um dos pilotos foi morto por rebeldes sírios.
Rússia e Turquia têm sua própria versão do que realmente aconteceu, mas a ciência pode ter a última palavra. De acordo com dois astrofísicos da Bélgica, nenhum dos dois países falou inteiramente a verdade.
Tom van Doorsslaere e Giovanni Lapenta, da Universidade Católica de Leuven, fizeram uma análise do incidente que ocorreu na terça-feira, usando mecânica newtoniana simples para revelar várias inconsistências nos relatos de ambas as nações.
As autoridades turcas disseram que o jato russo estava em seu espaço aéreo por 17 segundos. Mas dada a velocidade do jato, conforme determinado por imagens de vídeo e mapas do local do acidente, ele só poderia ter sobrevoado a Turquia por 7 segundos. Ou o local do acidente está incorreto, ou o relógio de alguém está desajustado.
Os físicos explicam:
No vídeo da derrubada do avião, pode-se estimar que o jato caiu por mais de 30 segundos depois que ele foi atingido por um míssil…
O local do acidente foi a cerca de 8 km do local onde o avião foi atingido. Uma distância horizontal de 8 km por 30 segundos (o tempo da queda) leva a uma velocidade estimada de 960 km/h. Esta é também a velocidade de cruzeiro desta aeronave – é, portanto, uma estimativa razoável.
A distância entre o avião russo e a fronteira da Turquia é pouco menos de 2 km (se o voo foi feito mais ou menos de forma perpendicular na fronteira, como indicado no mapa turco). Se ele voava a 960 km/h, ele passou 7,5 segundos no espaço aéreo turco, e não 17 segundos como a Turquia alega. Para atravessar os 2 km do espaço aéreo turco em dezessete segundos, a velocidade seria muito lenta – 420 km/h – então 17 s é um exagero da duração real.
A Rússia disse que o jato fez uma “volta de 90 graus” após ser atingido, mas isso também não se sustenta. De acordo com Doorsslaere e Lapenta, o míssil que derrubou o avião teria que ser muitas vezes mais pesado ou mais rápido que o jato para causar uma virada tão acentuada.
Eles dizem:
O mapa que a Rússia divulgou com a rota do avião não pode estar certo segundo a ciência. Nele, o avião faz uma curva acentuada (90 graus) depois de ter sido atingido por um míssil. Isto não faz sentido científico: a direção do avião só pode mudar se uma força for aplicada a ele.
O momento linear (massa vezes velocidade) do foguete e da explosão é muitas vezes menor do que o momento do jato, portanto só pode produzir uma pequena mudança de direção durante a colisão. Uma mudança de direção de 90 graus só pode ser causada por um objeto muitas vezes mais rápido do que um jato pesado… A Rússia afirma que o jato evitou a Turquia, mas isso não corresponde às leis da mecânica.
Isto pode colocar em xeque as afirmações da Rússia, de que ela estaria realmente tentando evitar o espaço aéreo turco.
Claro, os pesquisadores não se concentraram na situação geopolítica entre Rússia e Turquia – coisas complicadas como soberania nacional, sanções econômicas e tensões com o Estado Islâmico – mas a matemática não mente.
[Universidade Católica de Leuven via Motherboard]
Imagem: Haberturk TV via AP