Revistas científicas aceitam artigo criado em gerador de lero-lero e “escrito” por Maggie Simpson
Normalmente, antes de um estudo científico ser publicado, ele é revisado por pares, passando pelo escrutínio de um ou mais estudiosos com mesmo escalão que o autor. Mas existe um submundo de revistas científicas predatórias, que se oferecem a publicar qualquer artigo se você pagar uma taxa.
Segundo o Vox, o engenheiro Alex Smolyanitsky quis expor essas revistas, e usou duas armas de peso: um gerador de lero-lero e personagens de Os Simpsons.
>>> 120 artigos científicos foram criados em gerador de lero-lero e ninguém percebeu
O artigo “Configurações difusas e homogêneas” foi aceito pelo Journal of Computational Intelligence and Electronic Systems e pelo Aperito Journal of Nanoscience Technology – este, inclusive, já o publicou.
Ele lista como autores: Margaret Simpson, também conhecida como Maggie; Kim Jong Fun, o líder da Coreia do Norte que sabe viver a vida; e Edna Krabappel, professora de Bart Simpson.
E ele foi elaborado com um programa do MIT chamado SCIgen, que reúne jargão científico de uma forma que quase não faz sentido. Tome, por exemplo, o resumo do “estudo”:
A Ethernet precisa funcionar. Neste artigo, nós confirmamos a melhoria do e-commerce. WEKAU, nossa nova metodologia para a correção de erros para a frente, é a solução para todos estes desafios.
Depois disso, vêm três páginas de aleatoriedades, mencionando termos como “ciberinformática replicada” e “íon tempo-linear”; mais uma página com vinte e três referências, para dar um ar de legitimidade ao estudo. Você pode lê-lo na íntegra aqui.
O cientista da computação Cyril Labbé criou um site onde usuários podem testar se artigos foram criados usando o SCIgen, mas os periódicos que publicaram esse “estudo” não se importam muito com isso. Na verdade, o Aperito Journal of Nanoscience Technology continua enviando uma conta no valor de US$ 459 para Smolyanitsky pagar.
Essas revistas fraudulentas são um câncer entre as publicações científicas. Do Vox:
Em abril passado, por exemplo, um repórter do jornal Ottawa Citizen escreveu um estudo totalmente incoerente sobre solo, tratamento de câncer e Marte, e foi aceito por 8 de 18 revistas online com fins lucrativos. E no ano passado, o repórter John Bohannon e a prestigiosa revista Science colaboraram em um golpe semelhante, fazendo com que um paper profundamente falho sobre um líquen que combate câncer ser aceito por 60% dos 340 periódicos. Usando endereços IP, Bohannon descobriu que as revistas que aceitaram seu estudo estavam desproporcionalmente localizadas na Índia e na Nigéria.
A cultura de “publish or perish” (publique ou morra) – que mede o sucesso de cientistas pelo número de pesquisas que publicam – é uma grande responsável por essa proliferação de revistas sem credibilidade.
Por isso, nem mesmo as revistas respeitáveis estão livres de problemas. Este ano, as editoras Springer e IEEE removeram mais de 120 artigos após descobrirem que cada um deles era jargão gerado automaticamente por computador. Então antes de confiar em pesquisas científicas, melhor ficar de olho na fonte. [Vox via Slate]
Foto: a pesquisadora Maggie Simpson no supermercado/John Biehler/Flickr