Google, Facebook e Twitter testemunham sobre interferência russa na eleição dos EUA

Os advogados de Facebook, Google e Twitter apareceram nessa terça-feira (31), no Congresso dos Estados Unidos, para testemunhar, como parte das investigações correntes sobre os esforços russos de interferir na eleição de 2016 nos EUA. As empresas — que inicialmente demoraram para reconhecer seu papel na guerra de informação que fincou raízes já em 2015 — confirmaram […]

Os advogados de Facebook, Google e Twitter apareceram nessa terça-feira (31), no Congresso dos Estados Unidos, para testemunhar, como parte das investigações correntes sobre os esforços russos de interferir na eleição de 2016 nos EUA.

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As empresas — que inicialmente demoraram para reconhecer seu papel na guerra de informação que fincou raízes já em 2015 — confirmaram no mês passado a existência de uma campanha extensiva de desinformação lançada por meio de redes sociais para influenciar eleitores americanos. A audiência desta terça-feira (31) focou amplamente no quanto as empresas de tecnologia sabiam e no quanto descobriram desde então sobre operações estrangeiras que visavam interferir nas eleições de 2016 — tanto por meio de anúncios políticos pagos quanto por meio de posts orgânicos que agora, acredita-se, alcançaram uma porção considerável da população americana.

Às vésperas de sua aparição diante do subcomitê judiciário do Senado sobre crime e terrorismo, cada uma das empresas publicou ou vazou informações que expandiam drasticamente o escopo que se sabia dos esforços de interferência russa. O Facebook, que havia anteriormente anunciado que dez milhões de americanos haviam sido expostos a aproximadamente três mil anúncios comprados por trolls direcionados pelo Kremlin, agora reconheceu que até 126 milhões de americanos podem ter visualizado as propagandas em sua plataforma.

Nas declarações de abertura, o representante do Facebook, Colin Stretch, expressou choque e desgosto com a maneira como a empresa foi usada para espalhar propaganda maliciosa durante a eleição. Stretch explica que a investigação interna do Facebook revelou que, durante um período de mais de dois anos, contas compradas por russos haviam criado anúncios e publicações que ele descreveu tanto como “inflamatórias” quanto “completamente ofensivas”. Muitos dos anúncios haviam sido usados para promover outras páginas que, por sua vez, postaram conteúdos similarmente divisivos.

“Nosso objetivo é unir as pessoas”, disse o representante, em relação ao Facebook. “Esses agentes estrangeiros buscaram distanciar as pessoas.”

O representante do Twitter, Sean Edgett, disse que a empresa também havia observado uma ampla gama de atividade “automatizada e maliciosa” em torno da eleição. No total, o site identificou e removeu 2.752 contas ligadas à campanha de influência russa — milhares mais do que havia sido inicialmente divulgado no começo de outubro. Edgett descreveu o abuso da plataforma por parte de entidades estrangeiras para perturbar a política americana como “inaceitável”. “Concordamos que precisamos melhorar para evitar isso”, disse.

O representante do Google, Richard Salgado, disse que sua empresa está atualmente envolvida em uma revisão completa em todas suas plataformas para “entender se indivíduos que parecem estar conectados a entidades apoiadas pelo governo” estão envolvidos na disseminação de propaganda com o propósito de interferir na eleição. Salgado disse que o Google havia identificado 18 canais no YouTube que a empresa acredita estarem ligados a uma organização de propaganda russa. Em um post na noite de segunda-feira (30), o Google disse que os vídeos nesses canais haviam sido vistos cerca de 309 mil vezes, mas acrescentou que menos de 3% deles haviam recebido mais de cinco mil visualizações.

Em resposta a uma pergunta do senador Lindsey Graham, Republicano da Carolina do Sul, o representante do Facebook confirmou a existência de uma campanha de desinformação que data desde 2015. A campanha visava “criar discórdia entre os americanos”, afirmou Graham, predominantemente com o propósito de desprezar a antiga Secretária de Estado Hillary Clinton. Os esforços russos continuaram depois das eleições, disse, com tentativas de minar a legitimidade do presidente Donald Trump. Stretch afirmou que concordava com a conclusão do senador.

O debate mais acalorado da audiência veio quando chegou a hora do senador Al Franken fazer suas perguntas às empresas de tecnologia. “Ao mesmo tempo em que a Rússia estava conduzindo ciberespionagem contra organizações políticas americanas, eles implantaram esse programa de propaganda na sua plataforma — em alguns casos pagando em rublos —, então eu quero entender por que ninguém parece ter identificado os esforços russos mais cedo”, disse o senador.

Franken então perguntou por que o Facebook, “que se orgulha de ser capaz de processar bilhões de pontos de dados”, foi incapaz de determinar que anúncios da campanha americana estavam vindo da Rússia. Strech, representante da rede social, respondeu que isso era uma ameaça em que a equipe de segurança do Facebook estava “intensamente focada” e “efetivamente endereçada”, acrescentando: “Vendo hoje, acho que deveríamos ter tido uma lente mais ampla; havia sinais que deixamos escapar”.

A Internet Research Agency, uma “fazenda troll” com sede em São Petersburgo comandada por Yevgeny Prigozhin — oligarca russo e confidente de Putin — foi acusada de propagar maior parte do conteúdo que tinha como público-alvo os eleitores norte-americanos, incluindo os três mil anúncios no Facebook, que o Comitê de Inteligência da Câmara dos EUA pretende tornar públicos nesta semana. O Facebook descreveu o conteúdo como focado principalmente em “mensagens sociais e políticas divisivas em todo o espectro ideológico, tocando em tópicos desde questões LGBT até a controle de armas, passando pela imigração”.

O governo russo foi formalmente acusado de tentar minar a confiança na eleição em dezembro do ano passado, e, antes de deixar o cargo, o ex-presidente Barack Obama emitiu sanções contra Moscou ao ordenar a expulsão de 35 diplomatas russos suspeitos de serem espiões. Em janeiro, o Comitê de Inteligência dos EUA publicou uma versão não-confidencial de um relatório que concluía que o Kremlin havia interferido na eleição de 2016 especificamente com o objetivo de “denegrir” a antiga Secretária de Estado Hillary Clinton. O comitê posteriormente avaliou que o presidente Vladimir Putin havia desenvolvido uma “preferência clara” pelo então presidente eleito Donald Trump.

O governo russo nega veementemente todas as acusações. O próprio presidente Trump buscou repetidas vezes descreditar as descobertas da comunidade de inteligência, retratando-as como “fake news“, ao mesmo tempo em que acusava os Democratas de estarem amargurados por sua vitória.

Imagem do topo: AP

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