Suíça proíbe que lagostas sejam cozidas vivas, mas ninguém sabe dizer se elas sentem dor ou não
Uma nova lei que proíbe animais de serem preparados ainda vivos foi aprovada na Suíça no início deste mês. A ideia por trás legislação é evitar o sofrimento animal, em especial o das lagostas, que costumam ser cozidas ainda vivas – mas ninguém sabe afirmar com certeza se as lagostas sentem dor ou não.
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O projeto da lei entrou em discussão depois que ativistas pelos direitos dos animais e cientistas argumentaram que o sistema nervoso central das lagostas é complexo o bastante para elas sentirem dor.
Mas, primeiro de tudo, por que lagostas são cozidas vivas? A resposta simples: para mantê-las frescas por mais tempo. A resposta um pouco mais complicada: o corpo de lagostas e demais frutos do mar é repleto de bactérias. Bactérias essas que se multiplicam rapidamente depois que o animal é morto e seu acúmulo pode liberar toxinas — e tanto as bactérias quanto as toxinas podem não ser eliminadas durante o preparo, como explica o Science Focus. Assim, a melhor maneira de manter o animal fresco e livre destes riscos é cozinhando-o vivo.
No entanto, a partir de 1º de março, quando a lei entrará em vigor, chefs de cozinha estarão proibidos de cozinhar lagostas vivas em seus restaurantes. Estabelecimentos que manterem o animal no cardápio terão de atordoá-lo antes de matá-lo para o preparo.
Sente ou não sente dor, eis a questão
Robert Elwood, professor na Queen’s University Belfast, argumenta que atordoar o animal “antes de matá-lo é uma forma efetiva de garantir que ele não sentirá nenhuma dor”, disse a Newsweek. “Se atordoados eletricamente ou se o cérebro for destruído mecanicamente, eles estarão efetivamente mortos”.
Em 2014, Elwood afirmou que lagostas e outros crustáceos provavelmente sentem dor. Ele se baseou em um estudo que observou caranguejos em um percurso evitarem um atalho que descarrega choques elétricos quando os animais tentavam cruzá-lo.
No entanto, uma pesquisa de 2005 da Universidade de Oslo, e financiado pelo governo norueguês, concluiu o oposto do que acredita Elwood: o sistema nervoso das lagostas é primitivo e semelhante ao de insetos. Mesmo estes animais respondendo a estímulos elétricos ou a água fervente, estas reações não são estímulos conscientes ou qualquer indicação de dor, conclui o estudo.
Ou melhor, baseado em suas semelhanças com os insetos, o estudo conclui que lagostas provavelmente não sentem dor. Pois é, ambos os estudos são inconclusivos e a ciência não sabe afirmar com certeza se as lagostas sentem dor ou não.
No entanto, Robert Bayer, diretor executivo do Lobster Institute, concorda com o estudo da Universidade de Oslo, explicando que cozinhar uma lagosta é como cozinhar um inseto grande. “Você tem a mesma preocupação quando mata uma mosca?”, pergunta.
Como aponta o Business Insider, consumidores tendem a ter mais pena de lagostas do que frangos, vacas, porcos ou outro tipo de peixe por ser um dos poucos animais que a população urbana precisa ver morrer, ou até mesmo matar por conta própria, para consumir.
Inclusive, quando a população é lembrada que os pedaços de carne de outros animais embalados no mercado não surgem do nada, ela tende a não responder de forma muito agradável.
Bayer diz que nunca saberemos com certeza se lagostas sentem dor ou não, e por isso o Lobster Institute foca em maneiras para “minimizar o nosso próprio trauma”, diz. O diretor explica que colocar a lagosta em água gelada ou no refrigerador por alguns instantes antes de cozinhá-la anestesia o animal o suficiente para ele não sentir dor durante o processo de cozimento.
Existem também aparelhos (alguns caros) que eletrificam a lagosta, mas uma técnica bastante comum é perfurar a lagosta no centro das suas costas e tombar a faca para separar a cabeça do animal ao meio — este método destrói o cérebro do crustáceo mecânica e rapidamente.
Imagem de topo: Matt Chan/Flickr