Como uma montanha-russa pode ajudar pessoas com cálculo renal
Uma equipe de pesquisadores deve ter perdido as contas de quantas vezes andaram numa montanha-russa. O objetivo, no entanto, era descobrir porque o brinquedo ajuda as pessoas a expelirem pequenas pedras nos rins. Com o auxílio de um modelo de rim impresso em 3D cheio de urina, eles acreditam ter resolvido o mistério.
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Em um novo estudo, publicado no Journal of the American Osteopathic Association, o urologista David D. Wartinger e sua equipe da Universidade Estadual de Michigan, apresentaram evidências que sustentam a hipótese de que andar numa montanha-russa de intensidade moderada pode ajudar na passagem de pedras nos rins. Os resultados, embora ainda sejam preliminares, pode ajudar no desenvolvimento de terapias pouco convencionais para os pacientes.
O cálculo renal é uma massa de químicos e sais presentes na urina. A passagem de pedras nos rins pode ser uma experiência extremamente dolorosa, especialmente se elas forem grandes. O quanto antes forem expelidas, maiores as chances de serem pequenas e causarem menos riscos e desconfortos.
Pedras dos rins. Imagem: G.L. Kohuth, Michigan State University.
Antes deste estudo, praticamente ninguém se dedicou a descobrir o que fazia uma pedra dos rins passar pelo canal urinário, embora urologistas conheçam alguns estímulos comuns.
Atividades físicas de vez em quando são responsáveis pela eliminação das pedras; saltos de bungee jump, pular numa cama elástica, pedalar ou até mesmo espirrar violentamente também pode expelir as pedras. O fato é que os cientistas não tinham conseguido encontrar um estímulo único – mas as montanhas-russas parecem ter um papel importante e até mesmo reprodutível.
“Quando uma série de pacientes voltaram das férias contando histórias de como expeliram pedras depois de irem na Big Thunder Mountain Railroad na Disney World em Orlando, eu comecei a me perguntar se teríamos ali uma oportunidade única de ajudar os pacientes” contou Wartinger ao Gizmodo. “O momento que um dos meus estudantes e eu percebemos que tínhamos que seguir com essa ideia foi quando ouvimos de um paciente que ele andou na montanha-russa três vezes e em cada uma delas expeliu uma pedra.”
Um modelo de silicone de um rim. Imagem: G.L. Kohuth, Michigan State University.
Wartinger e o co-autor do estudo, Marc Mitchell, usaram uma impressora 3D para criar um modelo anatômico de silicone do rim deste paciente. Eles colocaram urina no modelo e pedras de diversos tamanhos nas partes de cima, do meio e de baixo do órgão simulado. Depois de selar o modelo, eles foram para a Disney World.
Com a permissão das autoridades do parque, os pesquisadores colocaram o modelo do rim numa mochila. Eles foram até a Big Thunder Mountain Railroad, segurando o rim 3D entre eles, aproximadamente na mesma posição que ele fica em nosso corpo, na tentativa de simular a força que uma pessoa sentiria. Eles repetiram o processo 20 vezes, coletando dados importantes em cada uma delas. Depois, fizeram o experimento na Space Mountain e na Walt Disney World Railroad, totalizando 60 testes.
“Foi legal nas primeiras cinco ou seis vezes que tivemos que andar na montanha-russa”, disse Wartinger. “No final do processo, não aguentávamos mais.”
Pelo menos para este modelo de rim, os dados mostraram que sentar ao fundo da Big Thunder Mountain Railroad resultou na passagem de pedras em 64% das vezes. Ficar na parte da frente da montanha-russa reduziu a taxa para 17%. Os pesquisadores disseram que as forças aleatórias fizeram com que as pedras se mexessem muito, as guiando pelas passagens.
“Um rim parece uma árvore com ramos”, disse Wartinger. “As forças da montanha-russa fizeram com que as pedras se posicionassem onde estão as folhas, depois para os galhos e então para o tronco — dali segue para a bexiga. Não é uma surpresa que o modelo que usamos expeliu as pedras, porque ele foi baseado no rim de um paciente que expeliu três pedras nesta mesma montanha-russa.”
Big Thunder Mountain Railroad na Disneyland em Orlando. Imagem: CC-BY 2.0.
Wartinger acredita que isso pode ser reproduzido, mas nem todo mundo irá responder da mesma forma. Assim como a impressão digital, cada pessoa tem um rim com canais de passagem únicos. Isso significa que cada pessoa pode ter uma espécie de montanha-russa ideal. E para algumas, outras atividades podem ser mais efetivas.
Os pesquisadores acreditam que essas descobertas podem ser traduzidas em cuidados preventivos.
“Se você tem uma pedra menor do que quatro milímetros, é possível fazê-la passar sem que obstrua o canal”, disse Wartinger. “Quando ela fica presa, às vezes é necessário fazer uma cirurgia de emergência, além de causar muita dor.”
De fato, muitas pessoas comparam a dor de expelir uma pedra com a dor do parto. Ele diz que o estudo também pode ajudar as pessoas que precisam realizar procedimentos que quebram as pedras; após o processo as pessoas poderiam realizar atividades para expeli-las.
Os pesquisadores gostariam de testar mais modelos e em outras montanhas-russas. E para tornar o estudo realmente útil para os pacientes, precisaram realizar exames de ultrassom em cada um, antes e depois de um passeio.
O estudo também é pertinente para a exploração do espaço. O efeito da gravidade normalmente ajuda na passagem das pedras, e é por isso que muitos astronautas sofrem na Estação Espacial Internacional. “Pedras nos rins realmente será um desafio para pessoas em Marte”, disse Wartinger.
[Journal of the American Osteopathic Association]
Imagem do topo: ilustração por Jim Cooke.