Enfim usamos a veia democrática e revolucionária das redes sociais

Ontem foi um dia triste para o Brasil. Em São Paulo, um protesto com pouco mais de 5 mil pessoas transformou parte da cidade em praça de guerra, deixou a população amedrontada e muitos feridos. Quem estava lá, viu de onde os tiros e o terror partiram. Eu estava lá. E, preocupado, sabia que fontes […]

Ontem foi um dia triste para o Brasil. Em São Paulo, um protesto com pouco mais de 5 mil pessoas transformou parte da cidade em praça de guerra, deixou a população amedrontada e muitos feridos. Quem estava lá, viu de onde os tiros e o terror partiram. Eu estava lá. E, preocupado, sabia que fontes oficiais não contariam o que de fato aconteceu. Mas após chegar em casa destroçado, descobri que finalmente nós aprendemos a usar a veia revolucionária e extremamente democrática das redes sociais.

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A agressão contra manifestantes ou transeuntes que saíam do trabalho, e receberam balas de borracha, cassetetes e bombas de gás lacrimogênio, foi registrada por pessoas comuns. Dos vídeos filmados das janelas de prédios, das imagens feitas pelas ruas por onde a manifestação passava, não acredito que todos os cinegrafistas ou fotógrafos anônimos concordam com o movimento Passe Livre ou com o protesto. Mas nesse momento não importa o viés político: o que se viu foi a agressão e acuamento de milhares de pessoas e a indignação diante da covardia.

Em certo momento da movimentação, após a explosão de mais de uma bomba de gás lacrimogêneo ao meu lado, tirei uma série de fotos com o celular e joguei-as no Twitter.

A primeira mostrava, por ordem, os dispositivos usados pela PM e pelo Choque contra todos:

 

(É sempre importante lembrar o pensamento do amigo Eduardo Roberto, da Vice: cassetete quando baixa, não separa as pessoas por classe social, gênero, religião, cor, profissão, ideologia política. Ele simplesmente desce. O mesmo para as balas, rojões e latas de gás.)

Foi então que percebi quão importante é uma população munida de smartphones no bolso em um momento como esse. O registro cru e rápido e o compartilhamento instantâneo da informação são ferramentas poderosas. Cansei de ver pessoas fotografando a ação da polícia, o lixo em chamas nas ruas próximas a Avenida Paulista. Cliques rápidos, seguidos de correria. Seria difícil imaginar um registro tão forte, instantâneo e independente há dez anos. Do alto dos prédios, a população também filmava, em busca de algo incomum e assustador – algo fácil de encontrar na noite de ontem.

Rapidamente passando pelo Twitter vi que não havia uma alma que não falasse sobre o que estava acontecendo. Foi na internet que encontrei a cobertura mais próxima do real, das cenas que vi, mais tarde, em todos os portais e jornais do País. Do depoimento emocionado e visceral da jornalista Amanda Previdelli, da Exame, passando pela surreal história do jornalista Piero Locatelli, da Carta Capital. Mas o relato dos fatos não foi feito somente por jornalistas, que em algumas situações publicaram seu texto não em um veículo, mas em sua página no Facebook.

Vídeos no YouTube e Facebook subiram freneticamente (recomendo que vejam este, este e este), relatos de quem estava lá desde o início explodiram no Twitter, e até o Vine foi usado como ferramenta para mostrar a repressão policial. Enquanto a PM dizia ainda que não havia registro de feridos, um Tumblr surgiu para registrar histórias e imagens de quem sangrou.

Se, historicamente, nos consideramos um povo que não gosta de tomar as ruas para protestar, é hora de entender que as manifestações recentes pouco tem a ver com 20 centavos, como tantos bradam: estamos falando de uma tensão social que existe há decadas em uma cidade com mais de 10 milhões de pessoas que não tem estrutura nem para 1 milhão. E se, mais recentemente, usamos mais petições do Avaaz para criticar algo enquanto emplacamos hashtags imbecis no Twitter, é importante lembrar do dia 13 de junho como um dia importante para as redes sociais no Brasil.

Registrar é preciso. Para que mais pessoas entendam que, em uma cidade em que duas esferas políticas e os dois maiores jornais do país tratam o ato de protestar como vandalismo, é preciso guardar e divulgar todo e qualquer relato de péssimo uso da força do Estado. É seguir o caminho da Turquia, do Egito e de tantos outros lugares que mostraram, de forma brilhante, como usar as redes sociais para mudar uma sociedade. Povos que hoje respeitamos. Registrar, desta vez, é respeitar a população.

Abaixo, algumas das fotos e tuítes mais importantes do grande registro:

 

 

 

 

 

 

 


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