Uma teoria sensata para a “megaestrutura alienígena” que vem intrigando cientistas
O mundo da ciência entrou em polvorosa este mês com a suposta descoberta de uma megaestrutura alienígena. É uma teoria intrigante, sem dúvida, mas ela merece ser vista com bastante ceticismo. Na verdade, alguns astrônomos agora dizem que isto pode ser apenas uma estrela girando rapidamente e de forma irregular.
O telescópio espacial Kepler capturou a cintilação sem precedentes de uma estrela localizada a cerca de 1.500 anos-luz daqui, e isso está confundindo os astrônomos. Batizada de KIC 8462852, a estrela parece estar cercada por uma confusão estranha de objetos, atraindo o interesse de cientistas envolvidos na busca por inteligência extraterrestre.
Jason Wright, um astrônomo que estuda exoplanetas e astrobiologia, suspeita que ela pode ser uma esfera Dyson – ou seja, uma megaestrutura alien que consiste em painéis solares colocados na órbita de uma estrela.
A esfera Dyson foi descrita pela primeira vez por Freeman Dyson na década de 1960. Ele argumentou que uma civilização alienígena tecnologicamente avançada usaria cada vez mais energia à medida que crescesse. Como a maior fonte de energia em qualquer sistema solar é a estrela em seu centro, faria sentido que a civilização construísse painéis solares em órbita para tentar capturá-la. Tais estruturas iriam ocupar cada vez mais espaço, até que finalmente cobrissem toda a estrela como uma esfera.
No entanto, até mesmo Wright admite que esta é uma “abordagem perigosa para a ciência”, que poderia levar a uma falácia de que “os aliens preenchem as lacunas” e a hipóteses irrefutáveis.
Ilustração de uma esfera de Dyson
Normalmente, a luminosidade de uma estrela cai a uma taxa consistente quando um planeta passa na frente dela, mas não é o caso da KIC 8462852. Este objeto está se tornando menos brilhante em intervalos irregulares, e em níveis que excedem muito qualquer coisa vista antes.
A astrônoma Tabetha Boyajian e seus colegas da missão Kepler sugerem que isso poderia ser os restos de uma colisão planetária, ou talvez uma nuvem maciça de cometas.
Uma série de outras teorias vêm sendo propostas, mas há uma em particular que está começando a atrair bastante atenção. É o fenômeno do escurecimento por gravidade e desalinhamento spin-órbita.
A teoria
Por que a estrela está brilhando de forma tão estranha? Paul Gilster explica:
… temos uma estrela que está girando rápido o suficiente para se tornar oblata – isto é, ter um raio maior no equador do que nos polos, produzindo temperaturas elevadas e “brilho” nos polos, enquanto o equador fica escurecido. O trânsito de um planeta neste cenário pode produzir curvas assimétricas de luz…
Jim Galasyn acredita que o caso está claro: “há quatro eventos distintos nos dados de Kepler para a KIC 8462852, e os trânsitos planetários através de um disco escurecido pela gravidade são causas plausíveis para todos eles”.
Ou seja, a estrela pode brilhar de forma estranha simplesmente porque gira demais, não pelo fato de ter painéis solares alienígenas que obtêm energia.
Os efeitos da rotação rápida no formato das estrelas
Os astrônomos estão familiarizados com estrelas oblatas. Por exemplo, uma jovem estrela maciça e brilhante chamada VFTS 102 gira a cerca de 1,5 milhão de quilômetros por hora, cerca de 100 vezes mais rápido do que o nosso próprio Sol. A força gravitacional resultante achata a estrela, produzindo um disco de plasma quente (é a primeira imagem do post).
É uma explicação fascinante, mas Wright – que propôs a hipótese da megaestrutura alien – não está convencido:
O escurecimento por gravidade pode ser uma pequena parte do quebra-cabeça, mas não explica as características desta estrela. Ela não gira rápido o suficiente para sofrer tanto escurecimento por gravidade. Esse post também sugere que os planetas poderiam ser responsáveis, mas eles não são grandes o suficiente para produzir os eventos observados, e há eventos demais para se explicar com planetas ou estrelas.
Seja o que estiver acontecendo, esta é uma descoberta científica significativa, e merece a atenção que está recebendo. A menos, claro, que os dados utilizados no estudo do Kepler tenham alguma falha ou sejam insuficientes – não seria a primeira vez no mundo da astronomia.
A estrela está sendo estudada por vários grupos, então teremos mais análises no futuro.
Imagens por NASA, Kevin Gill/Flickr e Ming Zhao (Penn State)